José Costa Leite
Cidade: Condado
Atividade/expressão cultural: literatura de cordel e xilogravura
Ano de registro de patrimônio vivo: 2005
A versatilidade tem marcado a trajetória do cordelista, xilógrafo e autor de almanaque popular. Nascido a 27 de julho de 1927, em Sapé, na Paraíba, o filho de Paulino Costa Leite e Maria Rodrigues dos Santos radicou-se em Condado, Pernambuco, a partir de 1955. José Costa Leite estreou na literatura de cordel em 1947, vendendo, declamando e escrevendo folheto de feira. O primeiro almanaque foi feito em 1959, para o ano de 60, e chamava-se, àquela época, Calendário Brasileiro. As primeiras xilogravuras são de 1949, para os folhetos, de própria autoria, O rapaz que virou bode e a Peleja de Costa Leite e a poetisa baiana. Na infância e adolescência, trabalhou na cana, plantou inhame, foi cambiteiro, cambista, mascate, camelô de feira. Xilogravador primeiramente por obra da necessidade, ou seja, a de produzir a capa dos próprios folhetos, Costa Leite conseguiu aprimorar o talento para as artes plásticas nessas seis décadas de familiaridade com a madeira, quicé, goiva e formão. Como acontece a diversos autores de cordel, o talento extrapola o mundo da escrita. É ele quem desenha e talha na madeira e depois imprime no papel as ilustrações de capa dos próprios folhetos. Conforme tradição dos gravadores populares pernambucanos, que se iniciaram a partir do diálogo com a poesia, aprendeu sozinho a arte da gravura, vendo fazer e experimentando.
Os primeiros cordéis chamavam-se Eduardo e Alzira – “uma historinha de amor”, conforme classificação do próprio poeta – e Discussão de José Costa Leite com Manuel Vicente, cujos temas eram “se não casar perco a vida” (Costa Leite) e “eu morro e não caso mais” (Manuel Vicente). Essas primeiras publicações não tinham ilustração de capa, apenas os letreiros. Voz imortalizada, na década 70, em três LPs gravados no Conservatório Pernambucano de Música, nos quais deixou registradas grandes histórias de cordel, Costa Leite já cantou muito na feira da cidade onde vive e na vizinha Goiana. Atualmente continua indo, sozinho, de madrugadinha e em transporte coletivo, vender folheto em Itambé, cidade pernambucana em que o outro lado da avenida principal é Pedras de Fogo, Paraíba. São duas cidades, dois estados numa mesma geografia, espécie de síntese da vida do poeta. Assim que se encerra a feira, por volta do meio-dia, segue para Itabaiana, Paraíba, dorme lá, e, dia seguinte, passa a manhã cumprindo um ofício que exerce há mais de seis décadas. Cantava e vendia bem nas feiras. Ainda dá voz a uma ou outra estrofe. Às vezes recita e canta trechos de folheto da própria autoria, como O sanfoneiro que foi tocar no inferno, e mais alguns versos de outros autores, a exemplo de O Navio Brasileiro, clássico de Manoel José dos Santos.
Costa escreve diariamente. Aventura, discussão, exemplo são alguns dos temas preferidos. Criou pelejas fictícias com importantes personagens do mundo da cantoria de viola, como Preto Limão, Severino Borges Silva, Patativa do Assaré, Ivanildo Vila Nova. Publica versos fesceninos sob pseudônimo para, segundo ele próprio, não manchar a reputação do restante da obra. Assina H. Renato, João Parafuso, Seu Mané do Talo Dentro, Nabo Seco nos folhetos de safadeza, cheios de picardia e duplo sentido, como A mulher da coisa grande, A pulga na camisola. Freqüentador assíduo da capital, semanalmente vem ao Recife entregar originais ou receber edições produzidas na Editora Coqueiro. Viajava muito a Olinda, entre os anos 1970 e 1990, quando editava os folhetos na Fundação Casa das Crianças. Tem, também, folhetos impressos na editora Tupynanquim (Fortaleza, Ceará), do poeta e artista gráfico Klévisson Viana.
Entretanto, independentemente de quem imprime, todas as publicações autorais recebem o selo A voz da poesia nordestina, de José Costa Leite. E recebem, na capa, xilogravuras do próprio autor. No campo da astrologia, continua a escrever o Calendário Nordestino, distribuído para todos os estados do Nordeste, Rio de Janeiro e São Paulo. Sobre os cordéis, não tem a menor ideia da quantidade de histórias que fez chegar a leitores e ouvintes, além dos muitos manuscritos inéditos que guarda nas gavetas. Entretanto, para além de todas estas rememorações, há muito mais: Costa Leite, andarilho das tradições, é testemunho vivo de mais de sessenta anos de peregrinação por feiras e mercados de Pernambuco, Paraíba, Ceará. São mais de oito décadas com vigor físico e memória suficientes para comercializar os folhetos que produz e recapitular parte da história das edições populares brasileiras, da qual é um dos protagonistas.
Fonte: Amorim, Maria Alice (2014), Patrimônios Vivos de Pernambuco; 2. ed. rev. e amp – Recife: FUNDARPE
Confira abaixo o vídeo ‘A Vida Severina de um Poeta’, produzido pelo Jornal do Commercio, com incentivo do Governo de Pernambuco, que documenta um pouco sobre José Costa Leite, na série ‘Pernambuco Vivo’.
