Paisagens Oníricas investiga relação corpo-natureza em comunidades ribeirinhas
Com patrocínio do Funcultura, Marina Mahmood e Iezu Kaeru ministraram oficinas de performance e audiovisual para alunos de três escolas
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Com o propósito de ressignificar, de forma investigativa e lúdica, a relação corporal e afetiva da população pernambucana com as águas dos rios que cortam comunidades ribeirinhas, a artista da dança, produtora cultural e idealizadora do projeto itinerante Paisagens Oníricas, Marina Mahmood, ao lado do fotógrafo e músico Iezu Kaeru, ministraram oficinas multimídia que mesclam audiovisual, dança e performance em três localidades do interior do Estado: Ilha de Assunção, território indígena situado em Cabrobó; e Itacuruba, ambas cidades do Sertão, além de Limoeiro, município do Agreste. A circulação das atividades joga luz na urgência da preservação ambiental.
O público beneficiado é formado por estudantes do ensino médio que habitam as comunidades ribeirinhas onde foram realizadas as residências artísticas nos meses de agosto e setembro deste ano. Cada turma contou com 20 alunos da Escola Indígena Capitão Dena (território Truká, Ilha de Assunção, Cabrobó), da Erem Professora Maria de Menezes Guimarães (Itacuruba) e da Erem Professora Jandira de Andrade Lima (Limoeiro).
O resultado da imersão desses participantes com o processo investigativo e criativo proposto pelo projeto Paisagens Oníricas pode ser apreciado em programação aberta ao público, de 5 a 12 de dezembro, em cada cidade contemplada. A iniciativa tem incentivo do Fundo Pernambucano de Incentivo à Cultura (Funcultura) e apoio do Centro Cultural Brasil Alemanha (CCBA).
A Ilha de Assunção, em Cabroró, abre a programação na terça-feira (5), no Centro Cultural de Artesanato da Ilha de Assunção da Aldeia Jatobazeiro, que é uma área de retomada indígena. Em seguida, na quinta-feira (7), o grupo segue para a Praça Matriz Nossa Senhora do Ó, no centro do município de Itacuruba. Encerrando as apresentações do projeto Paisagens Oníricas, a Praça da Bandeira, na cidade de Limoeiro, recebe o evento na terça-feira seguinte (12).
As atividades realizadas em cada território têm a mesma dinâmica, a começar com a performance Lumiar, da artista da dança Marina Mahmood, às 19h, acompanhada por uma banda ao vivo, dança com o manuseio do fogo e outros artifícios – na Ilha de Assunção acontece às margens do Rio São Francisco e, em Limoeiro e Itacuruba, nas praças públicas. A exibição das obras multimídias realizadas pelos estudantes beneficiados pelo projeto Paisagens Oníricas acontece sempre às 20h, na sessão audiovisual. Logo em seguida, às 21h, há debate entre os arte-educadores Marina Mahmood e Iezu Kaeru e os participantes das oficinas. Às 21h30, fechando as intervenções de cada dia, é exibida a videodança Corpo Onírico. Na apresentação de Limoeiro há a presença de um intérprete em libras.
OFICINAS MULTIMÍDIAS - A partir do projeto Paisagens Oníricas os estudantes de ensino médio que passaram pelo processo formativo das oficinas multimídias tiveram o primeiro contato com câmeras profissionais aprendendo o básico do manuseio para filmagem e fotografia. As turmas também participaram de atividades de sensibilização corporal, dança e performance. A ideia era utilizar as paisagens naturais do território para realizar obras de audiovisual criadas pelos próprios estudantes, que filmaram e performaram nos vídeos a serem exibidos em cada território durante a programação.
“Partimos do olhar de uma comunidade indígena banhada pelo Rio São Francisco (na Ilha de Assunção); de uma cidade realocada de suas margens (em Itacuruba), devido à construção da barragem de Itaparica, e que é alvo de um projeto de construção de usina nuclear; e de uma cidade cortada pelo Rio Capibaribe (Limoeiro)”, destaca Marina Mahmood. “Por meio da realização de oficinas multimídia nesses locais convidamos estudantes de ensino médio de escolas públicas a expressarem suas subjetividades e visões sobre a natureza contida em seus territórios. Incitamos o protagonismo da juventude como agente de transformação da realidade valorizando e promovendo a troca cultural e artística entre comunidades tradicionais indígenas e cidades pernambucanas durante o escoamento dos vídeos em cada localidade, durante a programação que será realizada agora em dezembro, e pela publicação do material num site, que será lançado em breve, facilitando o acesso ao conteúdo.”
Os vídeos produzidos pelos alunos também serão publicados no perfil do Instagram, além do site que será divulgado após as apresentações nos territórios. Uma parte desse conteúdo on-line receberá audiodescrição e janela de libras.
Para o aluno Giovane Matheus Pereira de Souza, 17 anos, nativo do território indígena Ilha de Assunção, em Cabrobó, foi uma experiência nunca antes vivenciada. “Foi muito legal quando eles chegaram aqui na ilha. Primeiro apresentaram o projeto, nos mostraram algumas imagens e pediram para cada um falar sobre o que achava daquela imagem. Depois fizemos um mapa aqui da aldeia, dos locais sagrados. Em seguida começamos a visitar esses lugares, a pegar na câmera fotográfica, aprender a mexer no foco, a direcionar o olhar, os ângulos. Fizemos um álbum de fotos. Também fomos para um lugar muito sagrado daqui, a Ilha da Onça, onde fizemos um trabalho corporal, dançamos, aprendemos movimentos, cantamos e brincamos. Foi muito divertido”, expressa Giovane Matheus. Ainda segundo o estudamnte, cada estudante fez uma performance em vídeo. A dele aconteceu interagindo com uma cobra que eles acharam na hora de gravar sua participação. O sonho de Giovane Matheus é ser veterinário, mas diz que é o “fotógrafo oficial” da família e que a oficina o ajudou nessa empreitada.
O projeto abrange ainda o conceito de ecologia, porque inclui a expressão das subjetividades como forma de trabalhar a questão ambiental relacionando a natureza interna de cada estudante (instintos, emoções, sentimentos, intuição) com a natureza externa (elementos naturais e paisagens). Assim como inspira os participantes a repensarem as diversas relações com as águas dos rios que cortam seus territórios. A performance e as oficinas buscam o diálogo do movimento corporal com as paisagens e elementos da natureza. Ambas interagem com a ferramenta audiovisual.
PERFORMANCE LUMIAR - A performance Lumiar é acompanhada pela trilha sonora ao vivo e composta em tempo real por dois músicos – Iezu Kaeru e Diego Drão, que criam “tons de cena” e transmitem sensações. A performer Marina Mahmood transita pelas paisagens de cada localidade portando instrumentos como bambolê, asas de ferro, cuia e pó de serra para manipular o fogo e a água.
Ficha técnica:
Coordenação do projeto e produção executiva: Marina Mahmood
Educadores: Marina Mahmood e Iezu Kaeru
Produção executiva da etapa performática nos territórios (performance ao vivo): Marina Mahmood e Paloma Granjeiro
Assistência de produção: Maria Aparecida da Conceição Barros, Josivania da Silva Cavalcanti e Ricardo Bruno Rodrigues da Silva
Performance ao vivo: Marina Mahmood
Banda: Iezu Kaeru e Diego Drão
Administração do projeto: Hudson Wlamir
Comunicação: Alcateia Comunicação e Cultura (Dea Almeida)
Arte gráfica: Nathalia Queiroz
Edição audiovisual: Zé Diniz
Site: Jazz Agência Digital
Acessibilidade: VouSer Acessibilidade
Apoio: Centro Cultural Brasil Alemanha (CCBA)
Patrocínio: Fundo Pernambucano de Incentivo à Cultura (Funcultura)
