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Livro “Pistas para Co-mover” revela traços de criações coletivas de danças feitas no Brasil

Pesquisadores e artistas da dança, Liana Gesteira e Everton Lampe lançam obra literária no próximo dia 23 de março, no Recife-PE

Divulgação

Com o objetivo de expandir o acesso ao conhecimento sobre os mais variados processos coletivos de criação de danças feitas no Brasil, Liana Gesteira e Everton Lampe, ambos pesquisadores e artistas das artes cênicas, uniram-se para escrever uma obra literária que é fruto da junção e da partilha de seus trabalhos acadêmicos. O livro “Pistas para Co-mover” será lançado no próximo dia 23 de março, às 19h30, no Vapor Cozinha Afetiva, com a presença de intérprete em libras, em evento aberto a todos os públicos que tiverem curiosidade em saber mais sobre as mais plurais criações do setor da dança no Brasil.

Após o lançamento, o livro será disponibilizado em PDF acessível, que será distribuído para instituições e pessoas com deficiência visual. Haverá, também, a doação de 100 exemplares para instituições de ensino das artes da cena e instituições culturais do País, além da distribuição de 100 unidades para escolas da rede pública de ensino e para bibliotecas públicas de Pernambuco. A publicação foi viabilizada com incentivo do Governo de Pernambuco, por meio do Funcultura.

Em “Pistas para Co-mover” os dois autores-artistas se debruçam sobre criações artísticas brasileiras e refletem sobre seus contextos, seus modos de fazer arte e suas implicações estético-políticas para o campo da dança. Eles apontam caminhos de criação que buscam valorizar as especificidades de cada corpo presente na criação, sejam os artistas, os espectadores ou os materiais cênicos utilizados, entendendo cada um deles como importantes para o acontecimento da criação.

O diálogo entre as dissertações de mestrado levanta reflexões relevantes para o setor artístico em suas pesquisas abordando questões sobre o corpo, a subjetividade, o fazer transdisciplinar e a construção coletiva de obras, se nutrindo também de conceitos da filosofia contemporânea. A publicação conta com um posfácio escrito por Conrado Falbo (PE) e tem edição assinada por Rodrigo Acioli, da Titivillus Editora (PE). O livro foi impresso em Minas Gerais, na Impressão de Minas Editora.

“A ideia do livro surgiu numa conversa entre nós dois na cozinha da minha casa, em janeiro de 2020. Somos pesquisadores e artistas das artes cênicas e temos em comum nas nossas pesquisas o interesse sobre as coletividades nas artes, seus modos de criar, suas éticas e estéticas. Buscamos sempre referências de modos de organização em coletividade que não tenham atitudes opressoras e que encontram maneiras de se relacionar mais horizontais, respeitosas entre si e acolhedoras. Somos amigos e parceiros em projetos artísticos desde 2018. De lá para cá já desenvolvemos juntos o livro, residências e trabalhos conjuntos de escritas acadêmicas”, explica Liana Gesteira.

“A palavra ‘pista’ tanto pode remeter a dica, indício, vestígio, como também faz alusão ao espaço em que podemos dançar, como uma ‘pista de dança’. E a palavra ‘co-mover’ pode ser entendida como mover junto ou como afetar alguém. Daí surgiu o nome ‘Pistas para Co-mover’, um livro que traz reflexões, provocações para os leitores moverem junto, se inquietarem e, quem sabe, dançarem coletivamente”, convida Everton Lampe.

Olhar atento ao desenvolvimento das artes cênicas - Em sua pesquisa de mestrado, desenvolvida na Universidade Estadual de Santa Catarina (Udesc) e concluída em 2017, Everton Lampe estudou as obras e os modos de criar do artista Hélio Oiticica, atuante principalmente nas décadas 50, 60 e 70 no Brasil. Ele trazia uma experiência de arte que conectava artes visuais e performance, convidando o espectador a ser também participante e co-criador da sua obra. “Parangolés” (1965) foi uma de suas obras mais conhecidas. Eram capas (ou bandeira, ou estandarte) que revelavam suas cores e texturas a partir do movimento de quem as vestia, um convite para o público se mover. Além desse aspecto provocador do público como participante da obra, Oiticica foi um artista que valorizou as artes chamadas de populares e seu senso de comunidade.

“Artista com vivência intensiva no morro da Mangueira, Oiticica foi abraçado pelos sambistas e pelo próprio samba, ampliando radicalmente sua percepção para as noções de comunidade, coletividade e para a oportunidade de viver em massa, multidão, em bloco. Isto é decorrência de que é na Escola de Samba da Mangueira no Rio de Janeiro e nos becos e vielas daquela comunidade que o artista reúne a maioria dos materiais utilizados na confecção dos Parangolés”, conta Everton Lampe em um trecho do livro Pistas para Co-mover.

Já os estudos de Liana Gesteira, desenvolvido no mestrado realizado na Universidade Federal da Bahia e finalizado em 2019, traz a experiência das criações do Coletivo Lugar Comum, que surgiu em Recife em 2007 reunindo 14 artistas de diferentes áreas (dança, teatro, música, performance, moda). Um dos diferenciais do Lugar Comum foi sua maneira de funcionar coletivamente, envolvendo todos os participantes nas decisões de suas criações, sem instituir uma pessoa apenas para liderar os processos.

“Vivenciamos na dança alguns processos de criação em grupo que costumam evidenciar a assinatura de uma pessoa como diretora ou coreógrafa, numa tendência a homogeneizar corpos ou reforçar opressões. Isso pode evidenciar processos de polarização da relação entre o sujeito e sua comunidade. Algumas tramas de criações em grupo tendem a reforçar essa prática por meio de suas organizações e escolhas de relações. Colocar-se num espaço real de abertura para vivenciar a alteridade a partir do revezamento de corporeidades, e lidar com o outro como algo vivo e sensível, pode nos apresentar pistas de como reconfigurar nossas criações em dança”, aponta Liana Gesteira em trecho da obra.

O livro será lançado no Vapor Cozinha Afetiva, que atualmente fica situado na casa 210 da Rua Capitão Lima, que foi a sede do Coletivo Lugar Comum por 3 anos. A casa traz memórias dessa vivência intensa de criações do Coletivo. Além disso, o Vapor Cozinha Afetiva também tem um vínculo com a história do Coletivo, pois desde de sua fundação que integrantes do Lugar Comum frequentam o restaurante, uma comida que tem sabor de memória afetiva também.

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