O olhar poético e sensível de Mery Lemos e Sâmia Emerenciano
Fotógrafas levaram exposições para o Festival Pernambuco Meu País em Buíque
Postado em: PE Meu País
A fotografia foi uma das atrações do polo País das Conexões Visuais no município de Buíque (Agreste), oitava e última edição do Festival Pernambuco Meu País, de 30 de agosto a 1º de setembro. Lá ocorreram as exposições Mata-Borrão, de Mery Lemos, representante da cidade de Carpina (Zona da Mata Norte), e Encontro de Marés, de Sâmia Emerenciano, do Recife. Dois trabalhos com características bem particulares de suas autoras e que levaram para o Agreste do Estado reflexões sobre habitats bem diferentes do que a população local está acostumada a ver.
“Nem tudo o que cabe na Mata está disponível a olho nu. Mas está tudo ali. É que às vezes as pessoas passam rápido demais pra ver. É preciso desacelerar a marcha e concentrar os sentidos”, propõe Mery Lemos com sua segunda exposição individual. “É uma foto-viagem entre as cidades de Carpina e Glória de Goitá, na Zona da Mata Norte e Sul. Fiz essas fotos de dentro de uma Toyota com minha câmera. Fui registrando, registrando. É o olhar de quem está passando, mas ao mesmo tempo de quem está dentro”, contou a autora. “Acho que o resultado traz fotos de coisas que acho importante que estejam: a poética doce de algumas flores, ou de algum alpendre de uma casa, mas um pouco da opressão também do canavial, da usina, do que as pessoas vivem na região”, detalhou.
Mata-Borrão apresenta 12 fotos. A estreia ocorreu no Festival Pernambuco Meu País. “Também tive a ideia de convidar dois autores, escritores da Mata Norte, e dois da Mata Sul, para compor a exposição. É uma viagem fotográfica e poética pelo território”, definiu a fotógrafa.
Se Mery Lemos precisou pegar a estrada para ver e registrar o que acontecia entre a Zona da Mata Norte e Sul, no caso de Sâmia Emerenciano as ideias fluíram a partir de um momento de isolamento. “Encontro de Marés são fotos que eu faço, um projeto meu chamado Espuma, que surgiu em 2020, no meio da pandemia, quando estava com muita saudade de natureza, de senti-la perto”, explicou.
A autora conta que havia feito uma exposição e estava com uns quadros em casa (que depois rifou). Entre eles havia um quadro bem grande, intitulado Respiro, para o qual olhava todo dia quando praticava ioga, em que estava registrado o mar num por do sol. “Aí pensei em desaguar o máximo que pudesse as fotos que tenho de água, espumas, rio, lagoa, mar, nuvem. E em formato grande, mas não de uma forma cara, porque quadro é caro para fazer. Foi quando surgiu essa coisa de imprimir em tecidos translúcidos, que você pode usar como bandeira, canga, se enrolar, fazer um vestido”, disse.
Encontro de Marés é uma seleção desses registros que Sâmia faz pelo Brasil, dos Lençóis Maranhenses ao Rio São Francisco, de Boa Viagem, Carneiros e Maracaípe a Salvador, e vários outros lugares. “Trago para encontrar, fazer esse encontro das águas, no meio do Agreste pernambucano, durante o Pernambuco Meu País em Buíque”, afirmou. “Para mim é mágico. São os mares encontrando também esta aridez, este clima seco daqui. A ideia é justamente este varal em que as pessoas possam mergulhar nessas águas e inspirar vida e natureza”, falou a fotógrafa.