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Filme ‘Câmara de Espelhos’ gera debate no FIG sobre o machismo

O longa-documentário foi exibido ontem (21), no Cine Eldorado e, logo depois, o público esclareceu dúvidas com as produtoras da obra

Por Clara Albuquerque

Na última sexta-feira (21), os visitantes do 27º Festival de Inverno de Garanhuns (FIG) assistiram ao longa-documentário pernambucano Câmara de Espelhos, da diretora Dea Ferraz, no Cine Eldorado. O filme, uma produção da Parêa Filmes, Ateliê Produções e Alumia, gravado em 2012, expõe a realidade de uma sociedade brasileira machista e patriarcal através de depoimentos de treze homens, divididos em dois grupos, previamente selecionados para participar do projeto. Após a exibição do longa de 76 minutos, as produtoras Carol Vergolino e Dayane Dutra esclareceram dúvidas do público em um bate papo.

Jan Ribeiro

Jan Ribeiro

Da esquerda para a direita: Carol Vergolino, Dayane Dutra e Milena Evangelista

A coordenadora de Audiovisual da Secretaria de Cultura de Pernambuco (Secult/PE), Milena Silvino Evangelista, abriu o debate agradecendo a presença das produtoras e expondo suas próprias impressões da obra. “Eu já assisti várias vezes e, a cada vez que assisto, eu descubro algo diferente”, diz ela. O projeto foi idealizado para acontecer dentro de uma caixa preta, ambientada com equipamento audiovisual para acomodar os grupos em um formato semicircular, de modo que, após a exibição de vídeos com várias temáticas sociais que envolvem a mulher como aborto, sexo, casamento e violência, eles pudessem conversar e tecer comentários. “Foi um longo processo de montagem. É perceptível que eles representam um pensamento que está em vários lugares: na mesa do bar, no trabalho, na família”, explica Carol Vergolino. O longa foi gravado em dois dias.

Em resposta a uma curiosidade do grupo, as produtoras detalharam o processo de escolha dos participantes. “Primeiro, nós lançamos uma chamada no jornal e outra no Facebook. A partir das respostas que obtivemos, foram feitas entrevistas e descobertos os perfis. Temos participantes de várias profissões, ali: ator, stripper, advogado e, até, pastor”, revela Carol.  Durante o debate, muitos depoimentos sobre as impressões que as produtoras tiveram ao produzir a obra, outra curiosidade do público.

“Esses homens são os homens que a gente conhece. Pudemos perceber que, ao finalizar esse trabalho, Dea saiu esgotada. Tudo o que assistimos, ali, reflete a nossa sociedade repleta de machismo e patriarcado”, opina Dayane Dutra. “É um processo assustador a gente se ver como mulher a partir das visões desses homens. Passei duas semanas angustiada, inclusive comigo mesma”, pontua Carol Vergolino.

As produtoras contaram como foi a reação dos homens participantes quando assistiram ao longa-documentário, iniciativa tomada pela equipe antes do lançamento. “Dois deles não foram assistir. Um disse que tinha uma viagem, o outro se recusou. Com os demais do grupo, algumas reações foram engraçadas. Teve um que gostou de se ver na tela, outro que invocou a Deus e achou correto tudo o que havia sido dito e outro que nos surpreendeu agradecendo por ser o registro de um homem que ele não é mais. No geral, achamos as reações bem positivas. Estávamos tensas para o momento mas foi bem interessante”, explica Dayane. “A experiência de gratidão com esse participante que se propôs a mudar é algo bem interessante para a linguagem documental, afinal, ele era um entrevistado, depois, passou a ser espectador de si mesmo e isso lhe propôs uma mudança”, afirma Carol.

Elas contaram, ainda, que a seleção de cenas para o documentário teve a contribuição de uma pesquisadora de gênero junto com a equipe. “Vários filmes filmes foram feitos como teste até chegar a este resultado. A intenção era, mesmo, ter poucos cortes para dar a liberdade de eles concluírem o raciocínio deles. Em paralelo a isso, o som do que estava sendo falado na ilha de edição durante a gravação, também, estava sendo gravado e são esses sons que dão o rasgo para a cena seguinte. Geralmente, era uma respiração mais profunda, um recuperar-se para continuar”, diz Carol.

O grupo conversou, ainda, sobre um elemento utilizado pela equipe no longa: um ator infiltrado que estava em contato com a ilha de edição. “Djair era o nosso infiltrado. Era uma forma de ter Dea dentro das discussões”, explica Carol. “Desde o início, havia a ideia de que eles não poderiam ter contato com Dea, mas Dea precisava, de alguma forma, estar lá”, comentaq Dayane.

Carol e Dayane disseram também que o Instituto Papai ajudou na construção do filme e do desafio de fazer uma obra feminista com homens falando. “Se você parar para reparar, nem 20% dos filmes brasileiros é feito por mulheres. É interessante perceber que, mesmo com a figura masculina protagonizando, nesse filme, quem comanda é a mulher. A ideia era expor a mulher nos vídeos com temáticas variadas e descobrir quem são esses homens que estão por detrás das câmeras”, ressalta Carol.

Após o ciclo de festivais, Câmara de Espelhos vai para as salas de cinema. A equipe informa que, ainda está pensando numa forma de distribuição que mobilize e informe, sempre, com a possibilidade de abrir para um debate final após cada exibição. “É importante a interiorização do cinema pernambucano. A cada sessão, para nós, é diferente. São reações e debates diferentes. Valeu muito ter mais um olhar sobre o longa, aqui, no FIG”, diz Dayane Dutra.

Milena Evangelista fala sobre a escolha da obra para o FIG. “A gente tenta trazer filmes que provoquem debates importantes e por isso estimulamos a ampliação e a descentralização do acesso. Os debates aproximam o público dos temas e, especificamente, o tema do machismo está presente, na sociedade. Outro detalhe é que a obra foi feita de uma forma interessante, cinematograficamente falando”, diz ela.

Quem quiser acompanhar as próximas exibições do longa-documentário, pode seguir a Fanpage facebook.com/CamaradeEspelhos. Confira as próximas atrações do Audiovisual, no FIG:

AUDIOVISUAL
13ª MOSTRA DE CINEMA DO FIG 2017
De 21 a 28 de julho
Cine Eldorado (Entrada Gratuita)

Sábado, 22/7
14h – Longa-metragem Infanto-juvenil
O que queremos para o mundo? (Ficção, 65 minutos, 2016, Brasil), Igor Amin
Classificação: Livre

18h20 – Longa-metragem Pernambucano + Conversa com a equipe do filme
Joaquim (Ficção, 97 minutos, 2017, Brasil), de Marcelo Gomes

Domingo, 23/7
14h – Longa-metragem Infanto-juvenil
A Família Dionti (Ficção, 96 minutos, 2017, Brasil), de Alan Minas
Classificação: Livre

18h20 – Longa-metragem Pernambucano + Conversa com a equipe do filmeSuper Orquestra Arcoverdense de Ritmos Americanos (Documentário, 79 minutos, 2017, Brasil), de Sérgio Oliveira

Segunda-feira, 24/7
14h – Longa-metragem Infanto-juvenil
O que queremos para o mundo? (Ficção, 65 minutos, 2016, Brasil), Igor Amin
Classificação: Livre

18h20 – Lançamento da Série Giga 1ª Temporada + Conversa com a equipe do filme
Giga (Ficção, 90 minutos, 2017, Brasil), de Taciano Valério
Classificação: 16 anos

Terça-feira, 25/7
14h – Longa-metragem Infanto-juvenil
A Família Dionti (Ficção, 96 minutos, 2017, Brasil), de Alan Minas
Classificação: Livre

18h20 – Longa-metragem Pernambucano + Conversa com a equipe do filme
Martírio (Documentário, 160 minutos, 2017, Brasil), de Vincent Carelli
Classificação: 12 anos

Quarta-feira, 26/07
14h – Exibição de Longa-metragem com Acessibilidade Comunicacional
Parceria com o Festival VerOuvindo
Amigos de Risco (Ficção, 88 minutos, 2007, Brasil), de Daniel Bandeira
Após a exibição do filme haverá uma conversa sobre Acessibilidade Comunicacional
Classificação: 16 anos

18h20 – Longa-metragem Nacional
Divinas Divas (Documentário, 110 minutos, 2017, Brasil), de Leandra Leal
Classificação: 14 anos

Quinta-feira, 27/7
18h20 – Longa-metragem Nacional
Era o Hotel Cambridge (Drama, 99 minutos, 2017, Brasil), de Eliane Caffé
Classificação: 12 anos

Sexta-feira, 28/7
18h20 – Sessão Especial
III Mostra de Curtas Nacionais de Horror
Classificação: 16 anos

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