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Cultura.PE

Fotografia como afirmação da identidade é destaque no FIG 2018

Jonathan Lins/Divulgação

O Autoretrato Nordeste, por exemplo, realizou oficinas de fotografia com jovens de quatro comunidades quilombolas e levará uma parte deste resultado para o Festival

Por Marcus Iglesias

As fotografias, como registros da memória e do saber, podem levar conhecimento anos adiante. Mais do que isso, podem servir de instrumento para a afirmação da identidade de um povo, da valorização de culturas tradicionais e da emancipação dos cidadãos através da arte. Alguns destaques da programação de Fotografia do 28º Festival de Inverno de Garanhuns dialogam diretamente com essa questão, trazendo à tona mais uma vez o tema do Festival, a ‘Liberdade’.

Uma das exposições presentes da Galeria Galpão será a Autorretrato Nordeste – Quilombo de Alagoas, um projeto que está em atividade desde 2009 e que, segundo Waldson Costa, organizador da mostra, tem a proposta de democratizar o acesso e a produção da arte visual em pequenas comunidades.

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As oficinas foram concentradas em quatro comunidades quilombolas: Bom Despacho (Passo do Camaragibe), Palmeira dos Negros (Igreja Nova), Cajá dos Negros (Batalha) e Sabalangá (Viçosa)

“Este trabalho tem uma metodologia que envolve a questão da antropologia compartilhada, que permite que as pessoas das comunidades produzam o material que vai falar por elas. Não é alguém de fora que chega, registra e sai. É alguém que vive lá, conhece o território, e fala por eles”, explica Waldson.

“Um projeto que permite que as pessoas destes espaços falem por si, e tenham liberdade de articularem essas imagens, torna-se muito atual diante do processo político que vivemos hoje. Quando podemos dialogar com o outro, temos liberdade. E o Autorretrato Nordeste permite isso”, avalia ele.

A iniciativa leva a comunidades pequenas, geralmente através das crianças e adolescentes da região, a produzirem fotografias a partir do olhar dela. Uma espécie de apanhado fotográfico de suas comunidades. “Para isso, realizamos oficinas com esses jovens, e eles mesmos decidem os espaços e personagens que serão fotografados. Num segundo momento, a gente os leva para uma exposição a partir das imagens produzidas”, ressalta o organizador da mostra.

Reprodução/Internet

Segundo o organizador da mostra,ela tem a proposta de democratizar o acesso e a produção da arte visual em pequenas comunidades

As oficinas foram concentradas em quatro comunidades quilombolas: Bom Despacho (Passo do Camaragibe), Palmeira dos Negros (Igreja Nova), Cajá dos Negros (Batalha) e Sabalangá (Viçosa). Teve também o aporte financeiro do Prêmio Artes Negras, da Funarte, para que pudesse ser desenvolvido.

Para o FIG, Waldson Costa revela que está levando um apanhado das quatro comunidades fotografadas em Alagoas. “Serão 20 fotografias expostas e mil postais que vamos distribuir gratuitamente, feitas com algumas dessas imagens, que é outra forma de disseminar essas fotos pelo país”.

O lançamento do fotolivro da fotojornalista pernambucana Ana Araujo, o As Loiceiras de Tacaratu – A arte milenar das mulheres do meu Sertão, é outra atividade que dialoga com elementos identitários. A obra, feita com incentivo do Funcultura, é resultado de uma pesquisa visual realizada nos últimos 30 anos pela autora, que conta a história da loiça, a cerâmica utilitária de tradição indígena Pankararu, no cotidiano das mulheres dessa região do Sertão de Itaparica de Pernambuco.

Ana Araujo

Ana Araujo/Divulgação

‘As Loiceiras de Tacaratu – A arte milenar das mulheres do meu Sertão’ conta a história da loiça, a cerâmica utilitária pelas mulheres da tradição indígena Pankararu

“O livro tem esse recorte de gênero, de trazer o aspecto das mulheres e demostrar que este é um ofício totalmente feminino. E também a importância da fotografia como documentação do tempo, dentro da revolução tecnológica que houve na história recente. Cada foto tem essa referência, o ano, de que forma foi feita, o equipamento utilizado. É uma documentação tendo como base os meus 30 anos de pesquisa”, conta Ana Araujo.

As Loiceiras de Tacaratu tem 112 páginas em papel couchê, capa dura e 67 fotografias coloridas e em preto e branco. O texto e a edição de fotos são da jornalista e crítica de Fotografia Simonetta Persichetti e a pesquisa histórica assinada por Bartira Ferraz Barbosa, docente da UFPE – Universidade Federal de Pernambuco.

“É a primeira vez que vou apresentar este livro em Garanhuns e considero o momento como um lançamento. De lá, irei no dia 8 de agosto participar da programação do Festival Mês da Fotografia, em Brasília”, conta Ana Araujo, que faz parte do projeto Arca das Letras, responsável por 23 bibliotecas rurais espalhadas em Tacaratu. “Além desses espaços, distribuímos o livro nos Pontos de Cultura da região e, principalmente, nas escolas. Inclusive duas em territórios indígenas, as escolas Carlos Estavam e Ezequiel, no Brejo dos Padres”.

Capa/Divulgação

Capa/Divulgação

A obra, feita com incentivo do Funcultura, é resultado de uma pesquisa visual realizada por Ana Araujo nos últimos 30 anos

O lançamento durante o FIG dialogará com uma programação da gastronomia, promovida por Ana Cláudia Frazão, assessora de Gastronomia da Secult-PE, um debate intitulado Panela de Barro – Cultura no Prato. O encontro terá vários convidados, como, por exemplo, as Loiceiras de Belo Jardim.

“Acredito que esse projeto traz a valorização da visibilidade e da afirmação da identidade daquelas mulheres, além da importância de documentar uma preservação que está acontecendo graças à força da tradição Pankararu, através dos rituais. Na ocasião, além de colocar o livro à venda, quero fazer algumas projeções para situar melhor quem estiver assistindo”, revela a autora. Os exemplares serão vendidos por R$ 70, e 20% desta renda será revertida pra as loiceiras de Tacaratu. “Como elas são agricultoras e vivem da renda desse trabalho, é uma ajuda pouca, mas que faz toda uma diferença na vida delas”, comemora Ana.

“Vale destacar que a pronuncia ‘loiceira’ está correta. Vem do português colonial, e ainda é utilizado na nossa região. E porque não falar como a gente fala mesmo? Acho bacana do ponto de vista da identidade”, afirma a pesquisadora.

Divulgação

Divulgação

Exposição ‘Labirinto de Cabras e o Touro de Mármore’, de Iezu Kaeru, também faz parte da programação do FIG 2018

Outras mostras compõem a programação de Fotografia do FIG deste ano: Labirinto de Cabras e o Touro de Mármore, de Iezu Kaeru (produzido com incentivo do Funcultura);  Warao – O Povo da Canoa, de Luiz Netto; Carnaval em foco – Imaginário, do Coletivo Diálogos; e Ares de Pernambuco – Mostra e Intervenção Fotográfica Urbana, de Luciana Ourique.  Intervenções e outras ações especiais também estão programadas. Conheça um pouco de cada.

Vinícius Rodrigues/Divulgação

Carnaval em foco – Imaginário, do Coletivo Diálogos, também integra a programação do FIG

PROGRAMAÇÃO DE FOTOGRAFIA DO 28º FESTIVAL DE INVERNO DE GARANHUNS

Galeria Galpão | Av. Dantas Barreto, 120
De 22 a 28 de julho

EXPOSIÇÕES
Labirinto de Cabras e o Touro de Mármore
Iezu Kaeru
O projeto propõe a união de imagens na construção de jogos fotográficos, buscando incorporar no discurso a relação simbiótica existente entre os seres humanos e a natureza. Haverá lançamento do catálogo da exposição. Mostra

Autorretrato Nordeste – Quilombo de Alagoas
Autorretrato Nordeste
A mostra consiste em uma exposição fotográfica coletiva, com as imagens produzidas por crianças e adolescentes que vivem em quatro comunidades quilombolas de Alagoas.

Warao – O Povo da Canoa
Luiz Netto
Retrato destes que são um dos últimos povos nômades da América do Sul, a etnia Warao. Provavelmente o grupo étnico mais antigo da Venezuela. Registrados naquele país a mais de 8 mil anos, são donos de rica cultura, religião milenar e idioma próprio.

Carnaval em foco – Imaginário
Coletivo Diálogos
A mostra proporciona um cenário do nosso Carnaval, com toda a sua plasticidade, retratando, divulgando e preservando a memória dessa importante manifestação cultural.

INTERVENÇÃO
Ruas e avenidas de Garanhuns
Ares de Pernambuco – Mostra e Intervenção Fotográfica Urbana
Luciana Ourique
A mostra consiste em uma intervenção urbana (street art) com fotos aéreas obtidas durante um período de 8 anos. A exposição vai revelar Pernambuco visto de cima, enaltecendo a beleza e as singularidades do estado.

INSTITUTO HISTÓRICO, GEOGRÁFICO E CULTURAL DE GARANHUNS De 21/7 | 17h30 às 20h IHGC – Praça Dom Moura, 44 – Centro (ao lado do antigo Fórum)
As Loiceiras de Tacaratu – A arte milenar das mulheres do meu sertão
Relançamento de livro Ana Araújo Recorte etnográfico do cotidiano do povo Pankararu, sua cultura e sua manifestação artística, aliadas à grande luta pela sobrevivência no semiárido. Com o olhar de dentro, de quem é da terra, a realizadora apresenta a beleza das loiças – a cerâmica utilitária de tradição indígena – e o valor de sua preservação enquanto patrimônio cultural e imaterial dos moradores dessa região do Sertão de Itaparica.

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