Entre a música e a canção, sonoridades diversas conquistam o público
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Cena da música instrumental cresce e público se torna cada vez mais receptivo às músicas não cantadas
Por Joana Pires
Um dos espaços mais especiais do Festival de Inverno de Garanhuns (FIG) está localizado no Parque Ruber Van Der Linden, também conhecido como o Pau Pombo, no centro da cidade. O Palco Instrumental, reduto de bandas de gêneros diversos que têm em comum o fato de não tocarem músicas cantadas (pelo menos durante o show), tem conquistado a cada noite um público mais cativo, interessado nas sonoridades e na comunhão entre música e natureza que o encontro entre o palco e o parque oferece.
Na noite desta quinta-feira (19/7), conversei com dois integrantes das bandas Baobá Stereo Club e Anjo Gabriel sobre a música instrumental – tida pelo senso comum como um tipo de música difícil – e sua identificação com o público. Bruno Gold, pianista da Baobá, falou um pouco sobre a recente trajetória da banda em festivais como o FIG. Já Marco da Lata, baixista da Anjo Gabriel, comentou a receptividade crescente à música do grupo. Veja na entrevista abaixo, o que os dois têm a dizer sobre a música que fazem e o momento que vivem:
A música instrumental tem um espaço importante no FIG, com um público fiel, mas ao mesmo tempo diversificado. Como vocês perceberam a receptividade ao som que vocês fazem?
Bruno: A gente saiu de São Paulo, depois de ter feito muito show em lugares abertos, em parques, etc. O público geralmente estava passando e acabava parando para conhecer a música. Hoje foi nossa primeira vez em Pernambuco e já num festival, a receptividade foi muito boa, as pessoas pediram mais música, isso é legal.
Marco: Eu já morei em Garanhuns, então tenho uma relação diferente com a cidade, mas esse palco é diferente de tudo. As pessoas estão envolvidas. Eu cometi o erro de trazer pouco material para cá, mas todos os que trouxemos foram vendidos, a recepção ao nosso som foi muito boa.
Qual a importância dos festivais nesse cenário e como tem sido a participação de vocês?
Bruno: Esse é o nosso 3º festival ainda. Começamos no final do ano passado, no festival da PUC, depois no Vivo Open Air. Mas festival é o momento de ter contato com públicos diferentes.
Marco: A parte legal do festival é justamente esse público diverso. É importante chegar num lugar como esse e mostrar a música instrumental como uma linguagem universal. A gente tem um quê de improviso muito grande e muito do que a gente toca depende da sintonia com o público.
A música instrumental é uma música difícil?
Bruno: Não. Acho que o jeito que a gente olha para a música instrumental é como se ela fosse uma forma de conversar com muita gente. A gente tem influência pop e de muitos outros ritmos e isso facilita.
Marco: Não sei se a música instrumental é difícil, mas as nossas cantadas também não são muito fáceis (risos). O fato é que há uma cultura da canção. Quem fica só na música em si encontra às vezes um pouco mais de dificuldade em se comunicar.
Como vocês vêem a relação entre a música instrumental e o público não especializado hoje em dia?
Bruno: Está começando a ter mais abertura para esse tipo de música. Em São Paulo, existe já uma cena cultural para isso e as pessoas estão mais receptivas. Falta conquistar a mídia para que o público possa conhecer mais coisa e sair mais de casa em busca disso.
Marco: É um público novo que tem surgido, acompanhando essa avalanche de bandas instrumentais. Ver esse crescimento é bom.
VIRTUOSI NA SERRA – Também nesta quinta, o Virtuosi na Serra recebeu duas apresentações que chamaram a atenção do público que vai à Igreja de Santo Antônio em busca de música erudita. Às 16h30, o grupo Iamaká apresentou um espetáculo com referências à literatura medieval e à música renascentista. Peças com flauta doce deram o tom de um universo quixotesco, representado teatralmente. Às 21h, a referência à cultura cigana se fez presente através do violino de Gilles Apap e dos Transylvanian Mountain Boys, que tocaram também algumas canções brasileiras como a Valsa sem nome, de Baden Powell, e Carinhoso, de Pixinguinha. Foram aplaudidos várias vezes de pé por toda a Igreja.
