Bruno Lins traz novas referências musicais em “Vereda Caminho”
Realizado com incentivo do Funcultura, primeiro disco solo do cantor tem show de lançamento nesta quarta (23) e nesta quinta (24), às 20h, no Teatro Hermilo Borba Filho. A apresentação contará com as participações de Isaar, Larissa Lisboa, Henrique Albino e Rodrigo Morcego.
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José de Holanda

Bruno Lins flerta com várias referências musicais urbanas no seu primeiro disco solo.
Por Camila Estephania
Aficionado por contar histórias, Bruno Lins já cantava causos nordestinos como vocalista e compositor da banda Fim de Feira há dez anos, quando, a partir de 2014, passou a investir também em relatos mais pessoais. Embora sempre tenha explorado as referências culturais da Serra do Texeira, no sertão da Paraíba (de onde veio sua família), o músico recifense agora dá vazão às influências urbanas para concretizar a nova safra de canções, mais confessionais, que deram origem ao seu primeiro disco solo, intitulado “Vereda Caminho”. O show de lançamento do trabalho será nesta quarta-feira (23) e nesta quinta-feira (24), às 20h, no Teatro Hermilo Borba Filho, dentro da programação do Janeiro de Grandes Espetáculos.
“Esse trabalho foi feito em paralelo a Fim de Feira, por isso, ainda traz muito a questão da música do nordeste, mas eu não quis colocar ele na banda, porque eram canções que traziam outras temáticas, outras vivências”, esclarece Bruno, que associa as referências regionais a uma roupagem mais pop. Realizado com incentivo do Governo de Pernambuco, através do Funcultura, o álbum reafirma a sua pluralidade estética quando conta com as participações de pernambucanos de outras escolas musicais.
É o caso de Henrique Albino, que assina os metais do frevo triste “Derradeiro Show” e da elétrica “Noiva da Noite”, que lembra a produção do conterrâneo Lenine. Em “Muro”, o guitarrista Rodrigo Morcego, que já trabalhou com o mítico Lula Côrtes quando tocava com a banda Má Companhia, endossa o clima progressivo que caracterizou o Udigrudi, como ficou conhecida a geração dos anos de 1970 da música do Estado. Essa referência ainda pode ser notada em outras faixas, como “Peleja do Fim do Mundo”, que aproxima Bruno das primeiros discos de Alceu Valença.
José de Holanda

Trabalho fala sobre movimentos naturais da vida, como chegadas e partidas e desencontros e reencontros.
O violeiro Hugo Linns acentua a delicadeza de “Violão Adesivado”, enquanto o pianista Amaro Freitas, conhecido por colocar a música popular no mesmo patamar da música erudita, traz requinte para o xote de “Passo Preto”, por exemplo. Essa última faixa ainda conta com os vocais de Isaar, que integra o time de cantoras convidadas ao lado de Larissa Lisboa, que reforça o dub de “Afeto Desfeito”. As duas participarão das apresentações desta semana no Hermilo Borba Filho, assim como Rodrigo Morcego e Henrique Albino. O banda que gravou todas as músicas também faz parte do show e é composta por velhos parceiros da Fim de Feira, sendo eles Lucivan Max (percussão), Luccas Maia (baixo), Thiago Rad (guitarras e violas), Marcio Silva (bateria) e Guga Fonseca (teclados).
“Acho que os convidados é parte de uma geração de instrumentistas importantíssima, da qual sempre me abasteci pela curiosidade mesmo, porque meu processo de composição ainda é muito solitário”, justifica ele, que compôs todas as letras sozinho, com exceção de “Por onde quer que eu vá”, feita em parceria com Juliano Holanda. “Esse disco acaba sendo um mosaico de referências que foram sendo absorvidas, mas acho que eu estava sendo bem verdadeiro. Cada música já nasce com um caminho, não adianta impor um estilo. O que amarra o álbum é a verdade dele”, continua o artista.
Essa autenticidade é evidenciada pelo uso da primeira pessoa que empodera Bruno até de narrativas que não foram vivenciadas originalmente por ele, como acontece em “Olinda 2006”. “Um amigo me contou essa história de que tinha ido pra Olinda pela primeira vez em 2006 e o primeiro contato dele com a cidade foi no Carnaval, aquele cenário meio ficcional. É mais uma metáfora de alguém que sai do interior e começa a conviver com outros tipos de experiências. O disco mostra muito esse fluxo de se perder e se achar, que acontece muito no Carnaval, e reflete um momento meu muito particular de entender esse caminho”, explica Bruno, que ainda aborda esses movimentos da vida quando fala de imigração em “Passo Preto” e no carimbó confessional “Aquele Céu Acolá”.
“Continua sendo eu contando história com esse sotaque, mas com outra linguagem. Acho que me aproxima mais dessa tradição até, porque antes eu falava mais como espectador e agora estou falando dos meus sentimentos, me colocando em um lugar de empatia”, observa Bruno, que trata de experiências individuais que ganharam camadas coletivas no contexto político atual. “A ‘Peleja do Fim do Mundo’ fala de um mundo apocalíptico e propõe que a música e a arte podem surgir como uma tábua de salvação em tempos tão sombrios. Nossa arma está nas diretrizes da tolerância e da liberdade. Melhor coisa é poder estar no palco e dividir esse trabalho com outras pessoas”, finaliza ele.
SERVIÇO
Shows de lançamento de “Vereda Caminho”, de Bruno Lins, no Janeiro de Grandes Espetáculos
Quando: Nesta quarta (23) e nesta quinta (24), sempre às 20h
Onde: Teatro Hermilo Borba Filho (Cais do Apolo, 142 – Recife/PE)
Ingressos: R$ 30 (inteira) e R$ 15 (meia)
