Pesquisa sobre foles digitais vai desenvolver protótipo de concertina regional
Com apoio da Lei Aldir Blanc, projeto sobre instrumento europeu de mais de 100 anos estuda adaptações da concertina ao universo da música regional
Postado em: Lei Aldir Blanc
Em Pernambuco, terra do forró, do baião e da inovação, a concertina, instrumento de fole europeu de quase 200 anos, é foco de uma pesquisa para desenvolver, até o fim de março, um protótipo do instrumento, que é da mesma família do acordeon, e projetá-lo para tocar estilos musicais brasileiros, especialmente o forró e o choro. É o projeto “Foles Digitais: pesquisa e desenvolvimento do protótipo de uma concertina regional”, que está em curso com apoio da Lei Aldir Blanc.
A concertina é um dos primeiros instrumentos de fole portáteis e o mais antigo ainda em uso em vários lugares do mundo, mantendo características muito parecidas com as dos primeiros modelos produzidos. Parecida com a sanfona e popularizada pelas músicas regionais do nordeste e do sul do país, a concertina é encontrada e executada, principalmente, por músicos que descendem e vivem em comunidades de pomeranos no sul e no sudeste do país, em grande parte comprometidos pela manutenção de suas tradições culturais.
Apaixonados por música, inovação, invenção e história, um grupo de artistas de Pernambuco vem se dedicando à pesquisa sobre o instrumento. Além do resgate histórico, a proposta é construir um protótipo que possibilite os estudos para a criação de uma versão que seja mais amigável à execução de estilos musicais brasileiros, que traga a expressividade própria da concertina para o repertório nacional, com a possibilidade de popularizar essa experiência entre os músicos de fole locais e abrir espaço para a troca entre as tradições pomeranas, as outras vertentes europeias da concertina e este modelo que será adaptado à música brasileira.
“O universo em torno da concertina é fascinante e, para um novato, principalmente alguém que não tenha nascido em uma tradição e absorvido um modelo específico desde cedo, são muitas as variáveis. Este projeto busca facilitar este entendimento e proporcionar um laboratório sem ser necessário adquirir um instrumento de cada tipo. Cada modelo favorece um estilo de tocar e uma linguagem musical. Estamos buscando entender que características favoreceriam o repertório e a linguagem da música regional nordestina brasileira”, destaca o multi-instrumentista, compositor e idealizador da proposta, Johann Brehmer.
No projeto, além de Brehmer, estão o historiador, artista plástico, músico e pesquisador dos processos artesanais na construção instrumentos musicais Mateus Samico, o cientista da computação, inventor e desenvolvedor de instrumentos musicais digitais João Tragtenberg, e o multi-artista, pesquisador e criador de instrumentos musicais artesanais Romildo Roma. Eles já deram início à pesquisa histórica e ao estudo de criação de soluções eletrônicas e artesanais para confeccionar esse modelo.
Fole Digital
O protótipo que será concebido para possibilitar a pesquisa das adaptações necessárias a uma concertina que se adapte ao universo da música regional será digital. O modelo terá a forma externa do instrumento com recursos de manipulação digital. Diferentemente de soluções mecânicas, a relação entre os botões e a geração sonora será conectada através de software, agilizando o processo de teste de diferentes afinações. Ao invés de soldar ou aparafusar as teclas em diferentes posições, a afinação poderá ser modificada com linhas de código.
Esse modelo será uma base de teste para a pesquisa dos sons, da ergonomia, da posição das notas, da afinação e outras características, na intenção de fabricar um instrumento versátil e hábil para a execução de um repertório com características regionais. Entre todas as possibilidades e facilidades, o modelo também permitirá reunir, dentro de si, várias soluções historicamente desenvolvidas de quantidade de botões e afinações, proporcionando acesso desse universo a interessados em se familiarizar com o instrumento. O protótipo é uma ferramenta educativa.
Após a finalização, a ideia é fabricá-la, localmente, nos métodos tradicionais. Mas, neste momento, o desenvolvimento de um protótipo servirá para testar escolhas melhores para a fabricação de um instrumento definitivo. “As concertinas são instrumentos que tiveram grande popularidade antes dos acordeões serem acolhidos amplamente e ainda são usadas em contextos específicos de estilos musicais, em vários lugares do mundo. Pensamos que ao resgatar sua história para o público do Brasil e principalmente do Nordeste, onde os foles são tão presentes, estaremos facilitando uma ponte entre tradições que estão relacionadas, mas cujos laços se dissolveram ao longo do tempo”, pontua Mateus Samico, responsável pelo levantamento histórico sobre a concertina.
Saiba mais nos canais oficiais do projeto: blog, Instagram, Facebook, Twitter.com/UniversoConcer1 e Youtube.

