NOTA DE PESAR – Poeta Bio Caboclo
Postado em: Conselho de Preservação
Ricardo Moura/Secult-PE/Fundarpe

O artista tinha mais de 50 anos dedicados à arte e à cultura cultura
O Conselho Estadual de Preservação do Patrimônio Cultural (CEPPC) manifesta o seu mais profundo pesar pelo falecimento de Severino José de Souza, o Mestre e Poeta BioCaboclo, no dia 13 de fevereiro, um dos artistas mais populares e admirados da Zona da Mata do estado de Pernambuco, aos 62 anos. Pioneiro nas manifestações de cultura popular da região, como mestre de maracatu rural, coco de roda e viola. Natural de Glória do Goitá, consolidou sua carreira em Lagoa do Itaenga, onde residia, na Mata Norte. Sua relação com a cultura popular vem desde a infância, morando na zona rural. Dentro do universo da arte, sua maior paixão era a criação de versos de improviso.
A vocação de repentista surgiu desde a infância quando acompanhava seu pai Zé Caboclo nos eventos culturais promovidos nas casas dos amigos. Seu pai cantava folhetos e versos de coco de roda, tradicional nas festividades juninas. Aos 18 anos, acreditando na arte do repente, com dinheiro de passagem que o levaria para São Paulo, comprou sua primeira viola. A arte da viola herdou de seu pai como também o apelido “Caboclo”. Aos 20 anos, iniciou como mestre de maracatu rural, mesmo período em que começou a cantar o coco de roda. Anos depois passou a realizar apresentações em um programa de viola ao vivo, na extinta rádio Planalto da cidade do Carpina. Como mestre de maracatu rural atuou em doze maracatus da Mata Norte, teve sua carreira consagrada em várias sambadas, tornando-se referência na região, com suas apresentações em palanques, shows de ruas, festivais e encontros. Passou a ser considerado o “carrasco” das sambadas, por ser destemido, cantar de improviso, não dando chance para os adversários.
Há mais de cinquenta anos dedicava sua vida ao seu talento de cantar, criar, improvisar e reinventar-se. Ao longo de sua caminhada gravou 12 CDs, 1 DVD, promoveu mais de oito festivais de cultura popular, e, produziu mais de 150 músicas autorais, trabalho feito exclusivamente de improviso, e com jeito peculiar de falar e se expressar. Pela primeira vez teve seu festival patrocinado por recursos públicos, através da Lei Aldir Blanc, em fevereiro de 2021, o que lhe deixou bastante emocionado.
O ‘‘Multipoeta’’ com seu talento artístico, apresentou-se ao longo de sua vida, de forma original e singular à cultura nordestina, em especial, a arte do coco de roda. Formou o Grupo Cultural Caboclo, que tem sua composição formado por filhos, netas e netos, englobando o coco de roda, o maracatu rural, a cantoria de viola e a ciranda, como forma de preservação e transmissão de saberes de sua arte para seus herdeiros e herdeiras, deixando o legado da Família Caboclo. Atualmente estava no seu primeiro mandato de Vereador de seu município. Foi ele também o responsável por elevar ao município de Lagoa do Itaenga, o título de “Capital Estadual do Coco de Roda”, aprovado na ALEPE, Lei nº 15.389, de 13 de outubro de 2010.
O Poeta Bio Caboclo tornou a manifestação cultural antes pouco valorizada, na mais expressiva atividade cultural da cidade de Lagoa do Itaenga, sendo hoje referência na região com a maior roda de coco de roda do Nordeste. Tinha uma outra habilidade, a de agregar pessoas e amizades. “Quando um mestre poeta se encanta, seja da mata, litoral ou sertão é grande a comoção. Bio mostrou o quanto é querido, Itaenga parou para se despedir do seu filho”.