Aos olhos do agricultor, oficina no Festival Pernambuco Meu País aborda culinária afetiva e regional
O chefe de cozinha Thiago das Chagas foi o responsável por conduzir o momento, no Mercado Cultural de Gravatá; o agricultor Cícero da Silva assistiu a oficina bastante emocionado
Postado em: PE Meu País
Os traços de afeto e regionalidade que podem surgir a partir da arte da culinária foram abordados ao longo da manhã deste sábado (27), durante uma oficina com o chefe de cozinha Thiago das Chagas. O momento esteve incluído na grade de programação do País da Cultura Alimentar, no Mercado Cultural de Gravatá, e pôde ser acompanhado de perto pelo agricultor Cícero da Silva, que participou de todo o processo de cultivo dos alimentos utilizados até a chegada à mesa.
Além disso, o artista plástico Cris Lenhardt fez esculturas de animais a partir de vegetais, a exemplo do alface.
Durante a oficina, Thiago das Chagas apresentou algumas dicas que podem ser levadas sem medo à cozinha, como a junção entre alface e grelha, e também a adição de cal na confecção de doces e durante receitas com abóbora.
“A comida diz muito de quem a gente é e como a gente se reconhece, da mesma forma que é com música, escultura e obra de arte. Ela tem um valor social e abrange diversas áreas. Tem que estar imerso no processo e conhecer, seja visitando, viajando ou estudando”, listou, antes de citar a presença do agricultor Cícero da Silva durante a oficina.
“Hoje estávamos aqui com o agricultor que viu as pessoas comendo o que ele plantou e se embelezando com a arte, esse reconhecimento se faz da cadeia produtiva toda. Engrandece a gente”, frisou.
Para o agricultor, que assistiu ao momento bastante emocionado, essa era uma cena que, antes do contato com Thiago das Chagas, dificilmente chegaria à sua realidade. Agora, ele espera poder reproduzir os ensinamentos junto aos seus filhos, perpetuando o amplo conhecimento através da comida.
“Eu nunca imaginei que isso pudesse acontecer. Fico muito feliz em ver o meu produto divulgado dessa forma aqui hoje. A satisfação é muito grande, assim como o aprendizado. A gente que é agricultor só pensa em plantar e vender, aí fui aprendendo com Thiago o valor da culinária. Hoje saio daqui com um aprendizado para fazer em casa com os meus filhos”, iniciou.
O cuidado dele com o cultivo longe de produtos químicos passa por tanto zelo e apego, que pode ser considerado até mesmo como um bebê humano em desenvolvimento.
“A gente tem cuidado com a planta, porque ela é mais delicada. Não precisa de agrotóxico nem pega adubo químico. Ela é mais frágil, porque não tem produto, aí a gente tem que fazer igual um bebê recém-nascido, com resguardo, que é o nascimento da planta, o berçário, que são os 30 dias e depois o crescimento e a adolescência para ir ao mercado. Gravatá foi a primeira cidade aqui a produzir orgânico em Pernambuco. A primeira feira foi aqui, e expandimos para Recife”, relembrou.
Defendendo a bandeira de que comida também é arte, o artista plástico Cris Lenhardt se aventurou profissionalmente no desafio de produzir em “telas” que nunca tinha usado. Durante a oficina, ele expôs animais montados a partir de vegetais.
“É um desafio, porque nunca fiz com outros vegetais além do cará, já que a cor e a textura já parecem de um animal. Alface foi um desafio na hora. Os próprios vegetais me deram essa dica de confecção, através da forma deles, de como eles me olhavam e eu olhava para eles. Eles pareciam seres que tinham consciência, talvez pelo formato que identificamos rostos e braços em alguns. Isso me fez ter essa noção de que poderia construir outros seres a partir dele”, concluiu.