Autores vencedores do Prêmio Hermilo Borba Filho debatem em live com editor da Cepe
Luís Serguilha e João Paulo Parisio discorreram sobre temas que variaram de filosofia à física quântica para falar dos livros Hamartia e Retrocausalidade
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A segunda live de apresentação dos livros vencedores do Prêmio Hermilo Borba Filho de Literatura, nesta terça-feira (22), brindou a audiência com um bate-papo tão amplo quanto pode ser o processo criativo de um escritor. João Paulo Parisio e Luís Serguilha abordaram temas que variaram da filosofia à física quântica para falar sobre seus livros (Retrocausalidade e Hamartia, respectivamente), na conversa mediada pelo editor das obras ganhadoras da premiação, Diogo Guedes, da Companhia Editora de Pernambuco (Cepe). O encontro aconteceu no YouTube da Secult-PE.
Diogo Guedes começou a transmissão destacando a variedade das obras vencedoras desta edição do Prêmio Hermilo Borba Filho. “São obras maravilhosas, que passam pelos três gêneros literários e cada uma realmente muito particular nas formas de abordagem. Não é um clichê. Até nos pontos de contato são muito fascinantes”, pontuou.
“Hamartia é um livro de poesia, mas em prosa. Traz, o tempo todo, um fluxo poético e também filosófico, o que é uma característica da escrita de Serguilha. Com personagens poéticos que estão sempre em uma mutação paradoxal, se desdobrando em outra coisa”, discorreu. “Retrocausalidade é um romance com uma trama que Maria das Graças, uma mãe que quer comprovar que o filho morreu e que é atendida em um órgão público por um funcionário que é órfão. São duas pessoas em situações contrárias se encontrando e, a partir daí, começa a acontecer a recriação do passado. É um livro resumível facilmente, límpido e reflexivo”, analisou Diogo Guedes.
Com a conversa avançando em direção ao processo criativo, à forma dos livros e ao estilo barroco em que ambos parecem ser apresentados, Parisio falou um pouco sobre como ele próprio enxerga Retrocausalidade. “É um livro que faz questão de contar uma história de uma velha maneira, mas tenta subverter esse mesmo princípio, tanto de uma forma diegética, ou seja, no corpo do texto, como de uma forma metalinguística, que salta para fora do texto e evidencia ele próprio”.
Sobre o título do livro, que inicialmente era Quimera, o autor explicou que a inspiração para o segundo nome teve a ver com a convivência com os irmãos cientistas. Retrocausalidade é um conceito presente na física quântica que trata sobre a possibilidade de um experimento inverter a causalidade, em que a causa precede o efeito. “Eu percebi que o nome Quimera tinha uma carga de significado para mim, mas isso não mudava o lugar-comum que ele representava. Então fui buscar outros nomes e percebi que o conceito de retrocausalidade era uma constante nesse livro”, explicou.
Serguilha continuou a reflexão comentando o aspecto barroco de sua produção literária. “Ninguém consegue produzir arte e poesia sem compreender a natureza. Eu vejo a literatura como uma marchetaria, essa técnica que dobra e desdobra, com conexões intermináveis que tem a ver com esse conceito de barroco. E os críticos que consideram minha arte barroca não a consideram nem barroco ibérico nem barroco da América do Sul. É outro barroco. Talvez inclassificáveis, segundo eles”, disse o autor de Hamartia, lembrando sua origem portuguesa.
Sobre o Prêmio Hermilo Borba Filho de Literatura, João Paulo Parisio, que nunca tinha publicado um romance, falou que ter Retrocausalidade escolhido como um dos vencedores foi o empurrão que faltava para dar esse passo na própria trajetória. Segundo ele, mostrou que as possibilidades criativas são infinitas e surpreendentes. “Lembrando Caetano, posso dizer que onde queres o clássico, sou o anticlássico, onde queres realista, sou fantástico, onde queres objetivo, sou barroco”.
Serguilha finalizou: “Toda a força poética e literária tem um ritmo contagiante que arrasta corpos e partículas. Não é possível tentar construir arte fora do ritmo. O ritmo é um desencadeador de afeições que vai te desviar daquilo que predomina na atualidade. O ritmo vai destruir qualquer origem e qualquer finalidade, vai estimular o pensamento, vai exacerbar a vida. Esses textos em composição transbordantes vão nos forçar a sair de nossos limites. O nosso corpo, como leitor ou como autor, vai extravasar”.
PREMIAÇÃO - Nessa 6ª edição, o Prêmio Hermilo Borba Filho de Literatura contou com a participação de 162 obras inscritas. O julgamento foi realizado em duas etapas, sendo a segunda a escolha dos vencedores entre 17 finalistas, dos mais diferentes gêneros literários. Os primeiros lugares de cada prêmio recebem R$ 10 mil; os segundos, R$ 5 mil e o Grande Prêmio, R$ 20 mil.
Os títulos vencedores foram publicados pela Cepe Editora com tiragem de 1.200 exemplares, enquanto que os segundos colocados contam com 800 exemplares. A título de direito autoral, cada vencedor ficará com trezentos exemplares do livro e os segundos colocados, 200 exemplares cada.
TRANSMISSÕES - Quem quiser conhecer melhor as outras obras premiadas, pode assistir às gravações da apresentação dos autores ocorrida na quarta-feira (16/12) e da cerimônia de lançamento das obras (15/12), também disponíveis no canal da Secult-PE/Fundarpe no Youtube (youtube.com/secultpe).
