Pernambuco recebe inventário dos afoxés do Estado
Pesquisa foi entregue à Secult-PE e Fundarpe junto com solicitação de registro do afoxé como Patrimônio Imaterial pernambucano
Postado em: Acervo Funcultura
Na semana que antecede o Dia da Consciência Negra, a cultura pernambucana vive mais um dia histórico. Nesta sexta-feira (17), a União dos Afoxés de Pernambuco fez a entrega oficial do Inventário Nacional de Referências Culturais (INRC) dessa manifestação no Estado, na sede da Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico de Pernambuco (Fundarpe), no bairro da Boa Vista, no Recife. Nesse momento simbólico, que contou com um ato com representações de vários grupos associados, também foi protocolada a solicitação de registro do afoxé como Patrimônio Imaterial do Estado.
O inventário foi recebido pela secretária de Cultura de Pernambuco, Cacau de Paula, e pela presidente da Fundarpe, Renata Borba, junto com a coordenadora de Apoio à Gestão do Funcultura, Clarice de Melo Andrade, e o coordenador de Patrimônio Imaterial da Fundação, Marcelo Renan de Souza.
“Afoxé é o candomblé na rua. É a louvação aos nossos antepassados ressignificando, a partir das músicas, do dançar, do se expressar, a luta do combate ao racismo. Não só visual, mas intelectual e politicamente”, definiu o presidente da União dos Afoxés de Pernambuco, Fabiano Santos. “A importância de conseguirmos inventariar essa manifestação negra em Pernambuco, exclusivamente, é desrotular a relação de folclorizar, regionalizar as relações da diáspora africana. Afoxé pode acontecer em todo lugar onde houver a população negra”, explicou. “E, para o Brasil, é de estimular inclusive a ampliação desse reconhecimento de diversidades de nações, cores, formas de se expressar dentro de uma mesma linguagem que é o afoxé.”
A União dos Afoxés de Pernambuco, que representa um coletivo de afoxés do Estado, aprovou o Inventário Nacional de Referências Culturais (INRC) no Fundo Pernambucano de Incentivo à Cultura (Funcultura) 2019/2020. Durante a pandemia começou a fazer a pesquisa para esse inventário, que é um procedimento no campo de patrimônio de catalogação, visita aos grupos e entrevistas com pessoas, que gera um produto dentro da metodologia denominada inventário.
“Hoje (17 de novembro) é o dia de entrega do resultado final desse material. Estamos aqui com os exemplares físicos de todo o material do inventário, que compreende todos os dossiês, os relatórios analíticos. Catálogo de pessoas, lugares visitados, fontes sobre o tema. O dossiê é um livro, a síntese de toda a pesquisa, material que subsidia o pedido de registro dos afoxés como Patrimônio Cultural Imaterial no Estado de Pernambuco”, comemorou Marcelo Renan.
A pesquisa começou em Pernambuco e agora que existe esse produto a intenção da União é solicitar também o registro nacional dos afoxés. Para isso vai solicitar, com base na pesquisa de Pernambuco, a ampliação nos outros Estados em que há afoxés.
“Há a política estadual de registro de patrimônio imaterial. Com base nessa legislação estadual faremos a análise do requerimento. Para o registro nacional o material deve ser enviado ao Instituto do Património Histórico e Artístico Nacional (Iphan) e ao Ministério da Cultura (MinC)”, detalha Marcelo Renan. “Agora vamos ter o processo de análise desse material para subsidiar o Conselho Estadual de Preservação do Patrimônio Cultural (CEPC-PE). Como o inventário já chega pronto o processo é muito mais rápido, porque normalmente damos início à pesquisa após a solicitação. Nesse caso está sendo entregue o material de pesquisa junto com a solicitação.”
O coordenador lembra ainda que o Funcultura, na área de patrimônio, contempla a produção dos inventários. “Temos recebido materiais com muita qualidade e que se somam aos que já temos produzido na própria Fundarpe”, revela. “Hoje é um dia simbólico e sobretudo um dia histórico, porque a existência de uma pesquisa sobre o universo do afoxé é falar de heranças e tradições afro-brasileiras aqui em Pernambuco. Estamos falando de grupos que têm seus 40 anos, os mais antigos, mas que estão inseridos em comunidades de terreiro muito mais antigas. Os afoxés não existem dissociados da relação religiosa. Estamos falando não só de uma tradição carnavalesca, mas de uma tradição afrorreligiosa que também está presente no Carnaval. O afoxé é o camdomblé na rua e não de rua. Não há uma separação entre o que é de rua ou de terreiro. É o candomblé que vai à rua, num rito celebrativo, com cortejo. Por isso que esse dia é tão importante”, afirmou.