Entre aplausos e risos, Ariano Suassuna mostra várias ‘faces’ da obra de Capiba
Teatro Luiz Souto Dourado lotou para assistir a aula-espetáculo "Tributo a Capiba" na noite de sexta-feira (18).
Postado em: Artes Cênicas | Festival de Inverno | Música | Secretaria de Cultura
Por: Flora Noberto
O caminho do escritor e professor Ariano Suassuna mais uma vez foi marcado pelo Festival de Inverno de Garanhuns. Na noite de sexta-feira (18), o teatro Luiz Souto Dourado ficou complemente lotado para assistir “Tributo a Capiba”, quinta aula-espetáculo de Ariano junto com o Grupo Arraial. Sentando em frente a uma mesa, Suassuna envolveu a plateia numa apresentação longa, em pleno dia de final de telenovela, como ele mesmo fez questão de lembrar. Apesar do mote da aula ser a obra de Capiba, importante compositor pernambucano, Ariano aproveitou a ocasião, como de costume, para defender a cultura brasileira e, claro, fazer piadas sucessivas sobre assuntos variados. Com a ajuda do Grupo Arraial, repleto de talentosos músicos e bailarinos, o escritor mostrou a beleza das várias faces da obra de Capiba. A resposta do público foram risos e aplausos sucessivos do começo ao fim.
“A vinda de Ariano tornou o festival mais lúdico. Garanhuns é a única cidade que recebeu as cinco aulas-espetáculos de Ariano. Esta apresentação também foi muito importante por homenagear o grande poeta Capiba. Foi um momento único e mágico para o público presente”, avaliou o secretário de cultura de Pernambuco, Marcelo Canuto, ao final da apresentação.
Em duas horas, o mestre mostrou a sua habilidade em cativar a plateia na sua incansável missão de valorização da cultura. Antes de chegar à apresentação da obra de Capiba com música e dança do Grupo Arraial, Ariano misturou assuntos com a maestria de um grande contador de histórias. Fez piada de si mesmo, aproveitando para declarar seu amor pela sua esposa que estava na plateia e escuta repetidamente as suas anedotas; falou sobre o poeta e jurista Tobias Barreto, nas palavras dele, um “negro, pobre e feio” que apesar de aprovado em diversos concursos públicos, não era nomeado para o cargo; citou Camões para ressaltar a beleza da língua portuguesa; lembrou do Google, do Twitter e reproduziu piada da internet sobre a derrota do Brasil para a Alemanha na Copa do Mundo; pregou a liberdade e a justiça na busca de uma sociedade ideal, criticou o Super-Homem, “o cristo americano”…
O servidor público José Marlos Correia veio de Recife conferir a apresentação e fez questão de sentar numas cadeiras da frente do teatro para escutar Ariano. “O que eu mais gosto é do bairrismo, o brasileirismo dele, porque o povo esquece de se valorizar”, afirmou. Não, por acaso, José Marlos lembra justamente da principal mensagem de Ariano: o afeto ao Nordeste, a valorização do povo brasileiro e da cultura, expressas em frases como “Pernambuco é meu estado paterno e a Paraíba é o meu estado materno. E o coração do Brasil é o Nordeste”, “O povo brasileiro é maravilhoso, é muito bem humorado. Um amigo francês me disse que o brasileiro é o único povo que zomba de si mesmo”, “O povo brasileiro é dançarino, musical e teatral”. Apoiado nesta última frase, chega a segunda parte da aula, a parte prática para comprovar tudo que foi defendido.
O Grupo Arraial entrou em cena, com instrumentistas, cantores e bailarinos, apresentando nove composições de Lourenço Barbosa da Fonseca, o popular Capiba. Com teimosia de Ariano (ele mesmo se define como teimoso) em revelar o que não está em evidência, a aula-espetáculo não foi baseada no frevo, ritmo mais associado ao nome de Capiba. O repertório reuniu choro, valsa, maracatu, incluindo poemas de Manuel Bandeira e Carlos Pena Filho musicados pelo compositor. Apenas um frevo foi apresentado – “Tributo a João Pernambuco”, que baseou o nome da aula. “Essas músicas são do final do século 19 e primeira metade do século 20, o que é bonito não envelhece”, ressaltou Ariano.
As músicas foram interpretadas por Antônio Madureira (diretor musical, arranjador, responsável pelo violão), Eltony Nascimento (flauta), Aglaia Costa (violino), Sebastian Poch (violoncelo) e Jerimum de Olinda (percussão). As canções ganharam vozes com os cantores Edinaldo Cosmo de Santana e Isaar, em duetos primorosos como os de “Cotovia” e “Sino, Claro Sino”. Já as músicas instrumentais ganharam os corpos dos bailarinos Gilson Santana, Pedro Salustiano, Jáflis Nascimento e Tamires de Souza, em movimentos nada óbvios. A dança que se vê no palco, encanta, é resultado do talento dos intérpretes e da direção coreográfica de Maria Paula Costa Rêgo.
Foi esta dança original que encantou os olhos da estudante de psicologia e teatro Camile de Holanda, natural de Pesqueira e atualmente moradora de Garanhuns. “Eu gostei muito da bailarina de cabelo curto (Inaê Silva), os movimentos dela são poéticos, não são mecanizados. Ela ia junto com a música, foi lindo de ver”, destacou a universitária, demostrando que Ariano realmente é mestre na arte de revelar a poesia que pode habitar em cada um de nós.



