Hilda Torres encarna Soledad Barrett Viedma no Teatro Hermilo Borba Filho
Estreia do espetáculo "Soledad - A terra é fogo sob nossos pés" será nesta quinta-feira (3), às 20h
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Flávia Gomes/Divulgação

Espetáculo narra a vida da militante política Soledad Barrett, por meio de um monólogo poético
Depois de 42 anos da morte da militante de esquerda, Soledad Barrett Viedma, a história da sua vida e luta política será encenada nos palcos do teatro recifense, terra onde a guerrilheira paraguaia viveu os últimos dias de sua vida e foi assassinada. O espetáculo Soledad – A terra é fogo sob nossos pés estreia nesta quinta-feira (3), às 20h, no Teatro Hermilo Borba Filho, e segue temporada até o dia 20 de setembro, de quinta a sábado, às 20h, e aos domingos, às 19h. Poemas, músicas, elementos sonoros e símbolos amenizam o peso da história, que narra a trajetória de vida de Soledad Barrett por meio de um monólogo poético, que também faz referências ao período atual da política brasileira.
A peça, do grupo Cria do Palco, será encenada pela atriz pernambucana e idealizadora do espetáculo, Hilda Torres, e terá direção da atriz e diretora paulista, Malú Bazan. As duas também são responsáveis pelo texto do monólogo. A artista plástica Ñasaindy de Araújo Barrett, filha de Soledad, assina algumas músicas e a identidade visual do projeto, que estabelece um diálogo intenso com a música. “Falar sobre Soledad é traçar um caminho de poesia onde a dor e a alegria estão juntas, seguindo em marcha para erguer os ideais libertadores. Falar sobre ‘Sol’ é falar de um pedaço de todos nós que nos impulsiona diariamente a enfrentar, resistir, sem nunca abrir mão do brilho nos olhos ao imaginar um mundo melhor com direitos iguais para todos e todas na compreensão das nossas diferenças”, comentou a protagonista da peça.
A montagem sobre a vida de Soledad nasceu de uma pesquisa intensa que teve início depois que Hilda ganhou de um amigo o livro Soledad no Recife, de Urariano Mota, no ano de 2014. A partir de então teve início uma série de entrevistas e pesquisa documental sobre a vida da guerrilheira paraguaia. Entrevistas com ex-presos políticos, parentes de pessoas desaparecidas durante a ditadura brasileira, militantes que tiveram, ou não, contato com Soledad. Pesquisa em documentos da época e no relatório final da Comissão da Verdade.
Malú Bázan, nascida na Argentina e integrante do grupo Tapa de teatro desde 2000, ingressou no projeto depois de vir morar em Recife para fazer um intercâmbio artístico-cultural atrás de trocas de experiências. “Assisti Hilda em uma peça encenada em sua própria casa. Incômodos, de Cícero Belmar. Ela me falou sobre o projeto Soledad. A partir desse encontro iniciamos uma trajetória em parceria para a criação dessa história”, destacou. Um outro importante encontro foi com Ñasaindy Barrett. Depois de alguns contatos, a filha de Soledad, que reside em São Paulo, visitou o Recife e gravou poemas e músicas que integrarão a trilha sonora do espetáculo. Os ingressos serão vendidos ao preço de R$ 30 (inteira) e R$ 15 (meia).
A militante
Soledad Barret foi militante da Vanguarda Popular Revolucionária (VPR). Nascida no Paraguai, ela era de uma família culta e politizada. Era neta do renomado escritor, jornalista, intelectual e líder anarquista, nascido na Espanha, Rafael Barrett, que foi morar no Paraguai e deixou uma marca nas lutas sociais de uma época.
Por causa do ativismo político de sua família, que os obrigava ao exílio constante, Soledad também viveu na Argentina e Uruguai, além de Cuba e Brasil. Aos 17 anos, foi sequestrada, em Montevidéu, por um grupo de neonazistas que exigiram que ela dissesse a frase ‘viva Hitler’. Diante da negativa, marcaram suas coxas com suásticas nazistas. A partir daí, ela decidiu ingressar de vez na luta política.
Foi estudar na União Soviética, onde ficou por um ano, pelo Partido Comunista. Na despedida do Uruguai, Soledad, que era conhecida por levantar a bandeira entre as nações de que “A Pátria não é um só lugar”, disse a um amigo: “La tierra es fuego bajo nuestros piés”, frase do subtítulo da peça a ser encenada no Recife. Retornando a América Latina ela se estabeleceu por um período na Argentina e integrou um movimento que tinha como plano invadir o Paraguai. O plano não deu certo e logo Soledad seguiu para Cuba, onde treinou a luta armada.
Em Cuba, ela conheceu o brasileiro José Maria Ferreira de Araújo, militante da VPR exilado na ilha, que viria a ser o pai de Ñasaindy de Araújo Barrett. José Maria retornou ao Brasil e Soledad acabou por vir um ano mais tarde. Pouco depois de chegar, soube que ele tinha sido capturado e morto. Soledad encontrou em sua morte mais uma razão para continuar a luta contra as ditaduras que dominavam os países latino-americanos.
No Brasil, ela conhece o cabo Anselmo, que era amigo e companheiro de José Maria na VPR. Ao longo do tempo, as suas vidas se aproximando e ele acaba se tornando o novo companheiro de Soledad. Cabo Anselmo é apontado como um dos líderes do protesto dos marinheiros em 1964. Integrou o movimento de resistência à ditadura nos anos 1960 e, na década de 1970, atuou como colaborador do regime militar. Mas, na verdade, ele era um agente policial infiltrado.
Foi Anselmo quem entregou o esconderijo dos membros do VPR em Pernambuco, uma chácara no loteamento São Bento, no município de Paulista. Junto com outros companheiros, Eudaldo Gomes da Silva, Pauline Reichstul, Evaldo Luís Ferreira de Souza, Jarbas Pereira Marques e José Manoel da Silva, estava Soledad. Detalhe, em diversos depoimentos de conhecidos de Soledad afirma-se que ela estava grávida, esperando um filho do próprio cabo Anselmo.
Segundo a versão oficial, os militantes foram mortos numa troca de tiros na chácara. O jornalista Elio Gaspari, em A ditadura escancarada, classifica o episódio como “uma das maiores e mais cruéis chacinas da ditadura”.
A atriz
Hilda Torres é atriz, psicóloga, arte educadora e produtora cultural. Dirigiu e atuou no teatro em parceria com outros diretores e atores em peças como (In)cômodos (texto de Cícero Belmar); Autônomas (Livre adaptação do texto A Mulher Independente, de Simone de Beauvoir, e do texto Da Paz, de Marcelino Freire); e A Árvore de Jô. Atuou como atriz na peça Essa febre que não passa (texto de Luce Pereira).
A diretora
Malu Bazán é atriz e diretora formada pelo TUCA/PUC de São Paulo em 1996. Integrante do Grupo TAPA desde 2000, onde atuou em diversos espetáculos entre eles: Amargo Siciliano, de Luigi Pirandello, direção de Sandra Corveloni; Major Bárbara, de Bernard Shaw e Camaradagem, de August Strindberg, ambos dirigidos por Eduardo Tolentino de Araujo.
Serviço
Soledad – A terra é fogo sob nossos pés
Estreia: quinta-feira (3/9), às 20h
Local: Hermilo Borba Filho
Temporada: Nas quintas, sextas e sábados de setembro, às 20h, e aos domingos, às 19h
Ingressos: R$ 30 (inteira) – R$ 15 (meia)