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Mestre Zuza, de Tracunhaém, comemora 50 anos de carreira com exposição na Fenearte

Exposição “Mestre Zuza 50 anos: do artesanato figurativo ao utilitário” estreia nesta quarta-feira, 5, no Pavilhão do Centro de Convenções, em Olinda, a partir das 16h

Salatiel Cicero/Divulgação

Salatiel Cicero/Divulgação

Mestre Zuza é historiador, Patrimônio Vivo de Tracunhaém e reconhecido por onde passa pelo trabalho artístico de manuseio do barro

Se você já ouviu falar da cerâmica em Pernambuco, com certeza conhece o trabalho do ceramista José Edvaldo Batista, o mestre Zuza, artesão e santeiro negro, de 65 anos, da cidade de Tracunhaém, na Zona da Mata Norte de Pernambuco. Este ano, ele comemora 50 anos de carreira. Para celebrar a data, ele inaugura, nesta quarta-feira (5), a exposição “Mestre Zuza 50 anos: do artesanato figurativo ao ultilitário”.

O evento acontece dentro da programação da 23ª edição da Feira Nacional de Negócios do Artesanato (Fenearte), realizada no Pavilhão do Centro de Convenções, em Olinda. A mostra deve reunir suas principais obras, feitas à mão,  e poderá ser conferida pelo público na Alameda dos Mestres até o dia 16 de julho. A programação será realizada de segunda a sexta-feira, das 14h às 22h; e nos sábados e domingos, das 10h às 22h.

Mestre Zuza é historiador, Patrimônio Vivo de Tracunhaém e reconhecido por onde passa pelo trabalho artístico de manuseio do barro. Sua paixão pela arte do barro começou dentro de casa. Os avós, José Batista e Joana Batista, trabalhavam com cerâmica utilitária na década de 1920.

O pai, João Batista, e a tia, Severina Batista, também tiveram atuação forte no trabalho com a cerâmica. Mestre Zuza é fruto de uma relação de onze irmãos, tendo a maioria deles trilhado o ofício da arte da cerâmica: Maria do Carmo Batista; Estelita Batista; João Batista; Severino Batista; Maria José da Silva; Jadiete Batista; e Armando Batista. Juntos, eles foram pioneiros na formação da primeira associação dos artesãos de Tracunhaém.

A iconografia da cerâmica do Mestre Zuza de Tracunhaém é rica e variada. Tendo em vista tudo que aprendeu com a família, com os ceramistas da região e convivendo com a tradição do barro, Mestre Zuza começou a perceber uma certa singularidade na confecção das peças. Não demorou muito e ele desenvolveu um estilo próprio, com estética diferenciada e muita criatividade. Zuza virou santeiro, nome dado a quem produz santos de barro.

As peças do Mestre não se assemelhavam com o padrão religioso europeu. Os santos possuem características indígenas, fisionomia negra, traços e vestimentas pernambucanos. As peças aproximam-se de figuras santas, até então angelicais, porém inspiradas na realidade do povo nordestino.  A ousadia das obras chamou atenção e o trabalho do mestre começou a ser aclamado por preservar a arte primitiva dos antigos mestres do barro e ao mesmo tempo garantir uma releitura do barroco. Mestre Zuza gosta de classificar o trabalho como “barroco contemporâneo”.

Uma das figuras mais conhecidas feitas pelo Mestre Zuza são as beatas, mulheres rezadeiras da Zona da Mata de Pernambuco. Elas possuem roupas parecidas com mães de santo e cocares na cabeça, que remetem aos índios Tupis-Guaranis, que segundo os historiadores viviam em Tracunhaém.

Outra marca do mestre são as esculturas xipófagas, esculturas conectadas por imagens ligadas à cabeça. As peças do artesão são feitas de forma simples, com palitos, canetas, sempre valorizando a arte popular e a pobreza. Alguns santos usavam roupas que lembravam os cocares dos índios.

O barro escuro, por exemplo, utilizado na confecção das imagens, lembram o povo negro, Já as roupas, construídas em detalhes de barro, imitam a renda de bilro, que urgiu a partir do século XVII por meio dos portugueses. Elemento esse que lembram reis e rainhas do Maracatu Nação. E os traços da estopa, que adornam as imagens das obras, remetem ao voto de pobreza.

Em 2018, dois importantes pesquisadores da Universidade de Indiana, nos Estados Unidos: Henry Glassie e Pravina Shukla, lançaram o livro “Sacred Art: Catholic Saints and Candomblé Gods in Modern Brazil” – Arte Sacra: Santos Católicos e Deuses do Candomblé no Brasil Moderno, traz uma entrevista e análise especial sobre a carreira do Mestre Zuza, no qual qualifica e compara suas obras ao trabalho de Pablo Ruiz Picasso- pintor espanhol, escultor, ceramista, em razão da sua capacidade de inovação logo após voltar da África e imprimir aquela realidade social em seus trabalhos.

Nova geração de artesãos - Com a finalidade de manter viva a cultura de artesãos na Família Batista, Mestre Zuza já está trabalhando na revelação de novos talentos dos herdeiros da arte do barro figurativo. Trata-se de seu neto Pablo Maycon de Melo Batista, de 23 anos. Como terceiro integrante da geração de artesãos, Mayckon já cultiva habilidade de criar suas próprias peças inspiradas na obra de seu avô.  Em 2022, estreou na Fenearte ao lado do Mestre Zuza. Na ocasião, conseguiu comercializar mais de cem peças de sua autoria. E, para este ano, não está sendo diferente. Está levando várias obras feitas à mão para compor a galeria de artes da Fenearte.

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