Projeto lança filmes com material de arquivo inédito sobre quatro grupos de maracatus do Estado
Com incentivo do Funcultura, Maracatus: Uma Contribuição para sua Salvaguarda é lançado nesta quarta-feira (20), às 14h, na Sala Calouste Gulbenkian da Fundaj
Postado em: Cultura popular e artesanato
Em fevereiro de 1995, a então estudante de cinema e etnologia Flávia Lacerda, ao lado do diretor de fotografia Alberto Marquardt, filmou mais de 30 horas de imagens dos ensaios e apresentações públicas grupos de Maracatu Nação e de Baque Solto do estado de Pernambuco: Maracatu Elefante, Maracatu Leão Coroado, Maracatu Cambinda Brasileira do Engenho do Cumbe e Maracatu Piaba de Ouro. Gravadas em fitas Betacam, essas imagens foram digitalizadas após permanecerem 30 anos conservadas.
Maracatus: Uma Contribuição para sua Salvaguarda, projeto realizado pela Bebinho Salgado 45 e coordenado pela antropóloga Júlia Morim, com incentivo do Fundo Pernambucano de Incentivo à Cultura (Funcultura), articula audiovisual e patrimônio, fazendo a mediação do regresso dessas imagens a seus
portadores, grupos e comunidades. Realizado em duas etapas, a primeira, ocorrida em 1995, teve equipe composta por Flávia Lacerda na direção; Alberto Marquardt na direção de fotografia e som direto; e Beto Azoubel, Flávia Lacerda, Gustavo Peixoto, Mariana Lacerda, Marcelo Lacerda e Pio Figueiroa na produção. A segunda etapa, de retorno às imagens e disponibilização do acervo, foi composta por Júlia Morim na coordenação geral, produção e produção executiva; Marcelo Lacerda e Laíse Queiroz na edição; e Júlia Morim, Mariana Lacerda e Marcelo Lacerda no roteiro.
No material repousam depoimentos de mestres, mestras, caboclos de lanças e baianas, todas e todos fundantes das histórias de seus grupos. Há registros e depoimentos do mestre Luiz de França (1901-1997), babalorixá e membro da Irmandade dos Rosário dos Homens Pretos de Santo Antônio e da Irmandade de São Benedito da Igreja de São Gonçalo da Boa Vista, que regeu o Maracatu Leão Coroado durante 40 anos.
Dona Madalena, que sucedeu Dona Santa no Maracatu Elefante, também pode ser vista em seu terreiro e desfilando nas avenidas do Recife no Carnaval de 1995. Mestre Salu, do Maracatu Piaba de Ouro, reconhecido pelo seu engajamento na luta por condições dignas para os folguedos, está ao lado de seu pai, tocando uma rabeca.
Há ainda, no material filmado e recuperado do Maracatu Cambinda Brasileira, o mestre João Padre, falecido no mesmo ano em que foi filmado. O mestre, uma referência para todos e todas que compõem a história do grupo, passou a ter aos olhos dos e das jovens que não o conheceram, mas que tocam suas narrativas, uma visualidade, um rosto, um gesto, uma voz.
O acervo, transformado em quatro filmes com duração variável, reflexo da quantidade de horas filmadas com cada grupo e também da qualidade das imagens, teve um primeiro corte que foi apresentado aos grupos. Posteriormente os filmes foram finalizados ficando com os seguintes tempos: Cambinda Brasileira, com duração de 30 minutos; Elefante, com duração de 14 minutos; Leão Coroado, com duração de 24 minutos; e Piaba de Ouro, com duração de 20 minutos.
Por meio da consulta desse pequeno acervo filmado, editado e agora disponível, é possível recuperar as narrativas sobre as histórias desses quatro grupos de maracatus. São testemunhos que hoje tocam o presente. Editados em vídeos, disponibilizados no site oficial, esse material volta a suas comunidades de origem e está acessível a toda a sociedade, por meio do projeto Maracatus: Uma Contribuição para sua Salvaguarda.
Com o apoio da Fundação Joaquim Nabuco (Fundaj), o projeto é lançado nesta quarta-feira (20), às 14h, na Sala Calouste Gulbenkian, localizada na Avenida 17 de Agosto, nº 2.187, no bairro de Casa Forte, na Zona Norte do Recife, com a presença de representantes dos maracatus.
