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Jovens do Quilombo de Conceição das Crioulas desfilam peças de Thiago Amaral em Salgueiro

Desfile aconteceu na tarde deste sábado (26/07) no Centro de Vocação Tecnológico (CVT)

Foto: Eduardo Cunha/Secult-PE/Fundarpe

Foto: Eduardo Cunha/Secult-PE/Fundarpe

Desfile aconteceu na tarde deste sábado (26) em Salgueiro

A história de resistência de mulheres da comunidade quilombola Conceição das Crioulas, carregada de simbolismos e significados ancestrais também traduzidos em uma estética autoral, é o que tem movido e inspirado as atividades que acontecem no País das Conexões Criativas do Festival Pernambuco Meu País 2025. Neste sábado (26/07), o polo da moda promoveu um desfile assinado pelo criativo Thiago Amaral e o protagonismo foi todo voltado para jovens quilombolas, de todos os gêneros, que após participarem de aulas práticas de passarela desfilaram com as peças do estilista no Centro de Vocação Tecnológico (CVT) de Salgueiro.

“A gente veio com um projeto muito especial, direcionado pro Quilombo Conceição das Crioulas, que é um quilombo local que eu conheci ano passado durante a Fenearte, através da Mestra Lurdinha, que excepcionalmente é uma mulher muito potente. Lurdinha conseguiu reunir uma meninada, entre meninos e meninas muito jovens do quilombo, para uma série de atividades que começamos ontem, com o Fórum da Cadeia Produtiva Cultural, onde conseguimos discutir um pouco nossos processos criativos estruturais. Conseguimos ter aulas de postura, de andamento, de mercado de trabalho. Então um sonho foi prospectado desde o ano passado e justamente por essa potência feminina que o quilombo tem, de mulheres que plantam o próprio algodão, produzem o próprio tecido, bordam e costuram as próprias peças que trazem uma sabedoria ancestral né, politizada, porque são mulheres completamente engajadas dentro de culturas de empoderamento, poderes econômicos, poderes culturais. Todas as peças sempre trazem uma poesia abordada, sempre trazem uma mensagem de esperança, de afeto e por que não dizer assim: Conceição das Crioulas realmente é o que há de mais precioso em Salgueiro!”, expressa Nestor Mádenes, diretor criativo e editor de moda.

Maria de Lurdes da Silva, mais conhecida como Mestra Lurdinha do Quilombo de Conceição das Crioulas, é uma das grandes lideranças políticas e afetivas da comunidade, e foi quem articulou o grupo de jovens para participarem atividades de moda. “Gostaria de agradecer muito o projeto Pernambuco Meu País e dizer que dessa forma a gente tem se inserido nessas programações, porque a gente acha que é muito propício. A gente carrega não só a história de Conceição das Crioulas, mas de Salgueiro, de Pernambuco, do nosso País, né? Então lá no quilombo a gente trabalha há muito tempo, somos um grupo de mulheres que trabalha cortando o tecido, costurando e bordando. A gente trabalha com peças que têm a história da comunidade escrita nas saias, vestindo a gente. Fazemos questão de valorizar nossa cultura. Mostrar para as nossas crianças, para as pessoas, que em primeiro lugar precisamos falar de nós, falar de nós e mostrar para o mundo. E a dinâmica que eu trouxe para o fórum foi inspirada numa música que fala ‘Eu não posso mudar o mundo, mas eu balanço’, né? Então é essa dinâmica de ir observando, fazendo a contextualização do poder que as artes têm, da capacidade de criar. Então se uma peça é de uma forma, eu posso transformar, eu posso ir mudando”, ressalta Lurdinha, semeando sabedoria.

Foto: Eduardo Cunha/Secult-PE/Fundarpe

Foto: Eduardo Cunha/Secult-PE/Fundarpe

Peças foram criadas por Thiago Amaral

“A coleção que os jovens do quilombo desfilaram é inspirada no DNA upcycling, uma transformação criativa. A gente pega peças ou resíduos e transforma em outras peças para dar uma vida mais longa a ela e a coleção é sobre isso. É basicamente feita todas de t-shirts reutilizadas, criando looks diferentes, formas, volumes. Eu também vou ministrar neste domingo (27) um workshop para mostrar as técnicas de upcycling, o que é o conceito, falar mais sobre esse tema que é tão importante pra gente debater, ressignificar as coisas e dar uma vida útil elas”, explica o criativo Thiago Amaral.

Eduarda Collier, assessora de Design e Moda da Secretaria de Cultura do Estado (Secult-PE), comentou um pouco sobre a experiência de troca com as mulheres e jovens do Quilombo de Conceição das Crioulas. “A gente trouxe um workshop de passarela e o nosso maior público veio do quilombo. Foram 15 modelos, 14 do quilombo. Desde ontem, a gente estava nesse processo, de elas aprendendo a desfilar todo o conceito, a autoestima, a postura, tudo isso. Aí, hoje aconteceu o desfile, foi lindo. E Thiago Amaral conseguiu desenvolver uma coleção linda, com reaproveitamento, com essa consciência ambiental. De você pensar no futuro, mas preocupado com o passado também. E neste domingo (27) a gente vai ter outro desfile, desta vez, de uma coleção do Quilombo de Conceição das Crioulas, que também é uma história de resistência do artesanato, das manualidades”, lembra Eduarda Collier.

História do Quilombo de Conceição das Crioulas – De acordo com relatos das pessoas mais velhas, a comunidade de Conceição das Crioulas teve início em meados do século XVIII, quando seis mulheres negras chegaram e fixaram suas moradias na localidade. Alguns historiadores da comunidade dizem que elas vieram de um lugar chamado Panela D‟água, outros dizem que elas conseguiram fugir ao desembarcarem no porto de Salvador, na Bahia. Portanto, não teriam sido escravizadas. O mais presente nas narrativas de seus descendentes, é que, aquelas mulheres plantavam e fiavam algodão e iam vender na cidade de Flores (PE). Com isso conseguiram comprar três léguas em quadra de terra.

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