20º FestCine promove debate sobre a atuação feminina no audiovisual
Na última quarta-feira, no Cinema São Luiz, as realizadoras Yane Mendes, Rachel Ellis, Juliana Lima e Melina Bomfim falaram de suas experiências em diversas áreas do audiovisual sob a mediação da jornalista e também realizadora Débora Britto.
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Elimar Caranguejo

Com plateia formada principalmente por mulheres, realizadoras de audiovisual falaram da experiência feminina na área.
Por Camila Estephania
Durante esta semana em que acontece o 20º FestCine, o primeiro andar do Cinema São Luiz tem recebido diariamente debates com os realizadores dos curtas-metragens apresentados na programação deste ano. No entanto, na tarde da última quarta-feira, a roda de conversa fugiu um pouco dos trabalhos selecionados para falar da atuação feminina no cenário do audiovisual e seus planos para o futuro. Em parceria com a FERA (Feminismo & Equidade para Reiventar o Audiovisual), o FestCine recebeu as realizadoras Juliana Lima, Rachel Ellis, Yane Mendes e Melina Bomfim para debater o tema “Cinema urgente: estratégias de existência do cinema como arte e resistência”, sob a mediação da jornalista e também realizadora Débora Britto.
“A grande sacada do festival é que ele coloca na tela o que está sendo feito de novo e foca em formação. Então, a FERA tem tudo a ver com o FestCine. Na Coordenadoria de Audiovisual existe uma preocupação de fortalecer a ação feminina não só na produção, mas também como roteiristas, diretoras, entre outras funções”, comentou Andréa Mota, que é assessora da Coordenadoria de Audiovisual da da Fundarpe, ao abrir o debate.
Elimar Caranguejo

Parceria com a FERA, o debate teve como convidadas Yane Mendes, Melina Bomfim, Juliana Lima e Rachel Ellis, além de ter contado com a mediação de Débora Britto.
A mediadora Débora Britto começou a conversa indagando as convidadas como seria possível fazer um cinema questionador e que dialogue com a população nos próximos anos. “Acho que a maior urgência que a gente tem é a educação. A gente não consegue formar a nossa população se a gente não dá oportunidade. Fico pensando no meu cinema, já que ano que vem tenho um projeto do Funcultura para gravar, que é será o meu primeiro curta autoral, e fico angustiada, porque a população negra nunca se sentiu tranquila. O que teremos que fazer nesse novo cenário, então? Acho que cada um vai ter que trocar com o outro e tentar transformar esse cenário. É trabalhando que a gente vai conseguir mudar”, avaliou Juliana Lima, que ainda falou sobre a importância da atuação feminina em ferramentas como o Conselho Consultivo de Audiovisual, onde foi possível aumentar o peso da pontuação de projetos dirigidos ou roteirizados por mulheres na avaliação do edital do Funcultura.
“A urgência da narrativa feminina não é só para mulheres, mas para todo mundo. Cada vez mais eu vejo que é muito importante os corpos das mulheres negras ocuparem o cinema nas telas e atrás delas. Hoje eu entendo, finalmente, que a curadoria é um lugar de muito poder, porque é quem escolhe os filmes, e nós, mulheres negras, temos que ocupar tudo. Como produtora, meu foco é descentralizar o máximo possível. Enquanto realizadora construir cada vez mais pontes que expandam nosso imaginário e nossos corpos negros. Estamos por um momento de anseio pelos nossos corpos na tela, mas, se no Brasil a gente vai ter algumas dificuldades, a gente tem que buscar cada vez mais parcerias institucionais internacionais”, destacou a brasiliense Melina Bomfim, que defendeu a ocupação de espaços como uma forma de manter as conquistas da mulheres.
Elimar Caranguejo

Assessora da Coordenadoria de Audiovisual da Fundarpe, Andréa Mota destacou a preocupação do FestCine em investir em formação.
Francesa radicada no Brasil há 15 anos, Rachel Ellis trabalha com a distribuição de filmes pernambucanos e reafirmou a importância de parcerias também de fora do país. “Minha primeira experiência com cinema foi na distribuição de “Um Lugar ao Sol”, de Gabriel Mascaro. Um filme tão importante para despertar o olhar sobre a desigualdade no País e não conseguimos incentivo através de edital. Fui procurar parcerias fora do Brasil e conseguimos uma focada em direitos humanos. O desejo de fazer cinema ninguém tira da gente, há uma série de questões que se colocam agora de como fazer cinema, mas temos que descobrir fazendo e indo atrás”, observou ela.
Realizadora e oficineira de audiovisual para jovens de periferia, Yane Mendes frisou que as realizadoras de origem humilde já fazem cinema superando adversidades. “Na favela, o medo da repressão já existe há muito tempo. Para eu chegar no cinema, tive que ir atrás, conhecer pessoas, viver com pessoas da área. A estratégia para fazer cinema talvez seja seguir o movimento do brega, que chegou na classe média, independente da letra, se apropriando dos espaços. Temos que aparecer nos lugares, como fez o brega. No desespero pela sobrevivência, a periferia já traçou estratégias há muito tempo, elas estão nas ruas. A questão é aprender no olhar e na escuta com outras pessoas, temos que deixar de ser prepotentes”, concluiu a pernambucana.