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Projeto Museus Domiciliares promove lançamento de websérie e livro

Com incentivo do Funcultura, pesquisa investigou oito iniciativas museais desenvolvidas nas residências de seus gestores, entre a Zona da Mata e o Sertão

Lúcia Padilha/Divulgação

Lúcia Padilha/Divulgação

Museu do Cavalo Marinho, no município de Glória do Goitá

Fruto de uma pesquisa que mapeou iniciativas museais realizadas em oito residências, localizadas em várias cidades pernambucanas, o projeto Museus Domiciliares é apresentado ao público, na próxima quarta-feira (26), às 15h, em um encontro no Memorial da Democracia de Pernambuco, no Sítio Trindade, no Recife. Na ocasião, são exibidos os oito episódios da websérie, sobre os espaços e suas coleções, e ocorre a distribuição gratuita do livro com os resultados da investigação. O público também pode conhecer mais sobre o processo e as experiências da iniciativa em uma conversa com a equipe.

O projeto Museus Domiciliares tem incentivo do Fundo Pernambucano de Incentivo à Cultura (Funcultura), por meio da Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico de Pernambuco (Fundarpe), Secretaria Estadual de Cultura (Secult-PE) e Governo de Pernambuco.

Desenvolvido ao longo de 2023 e 2024, a partir de uma vasta pesquisa bibliográfica e de campo, com uma série de entrevistas realizadas, o projeto nasceu do desejo de entender mais sobre esses espaços pouco ou não reconhecidos por uma ideia convencional de museu. A investigação, conduzida pelos pesquisadores Bruna Rafaella Ferrer, Guilherme Benzaquen e Marcela Lins, conceituou os museus domiciliares como locais dedicados à construção e organização de acervos, que são residências de seus fundadores/gestores e têm uma vocação aberta ao público, de partilha de memória, e com a hospitalidade e o diálogo como práticas fundamentais.

Esses parâmetros, no entanto, não desconsideram a heterogeneidade de cada iniciativa, acolhendo e ressaltando também suas particularidades. O projeto mapeou oito museus domiciliares, por meio de entrevistas e filmagens, da Zona da Mata Norte ao Sertão de Pernambuco: CSA Yvy Porã (Paudalho); Marco Zero (Carpina); Biblioteca José Ayres dos Prazeres (Vitória de Santo Antão); Museu Ivo Lopes e Riso da Terra (Arcoverde); Zé Bezerra (Buíque), Museu do Cavalo Marinho Tira-Teima de Zé de Bibi (Glória do Goitá); e Casa de Seu Chagas (Ilha do Massangano, em Petrolina).

“Alguns dos espaços já estão no processo de incorporação da noção de museu para suas práticas, em diálogo com a museologia, enquanto outros não, porque não abraçam essa definição, por acharem que se trata de uma ideia mais específica, tradicional, histórica, de guardar coisas antigas. Também se busca disputar essa ideia mais tradicional de museu, pensar como essas práticas de musealização, construção de memória, podem ser diversas. Essa é uma contribuição interessante da pesquisa: auxiliar no processo de valorização de práticas que são muito importantes em seus âmbitos locais e conseguem se transformar em centros de diálogo e disseminação”, pontua Guilherme Benzaquen.

A equipe do projeto considera que a pesquisa irá contribuir de forma significativa para revelar e difundir os museus domiciliares como espaços vivos e autônomos de salvaguarda, produção e propagação de conhecimento acerca das manifestações e memória da cultura popular do Estado. As visitas aos museus domiciliares revelaram um aspecto fundamental que une essas iniciativas: a fusão entre práticas cotidianas e o compromisso com a memória e a cultura. Seja na preservação de sementes crioulas no CSA Yvy Porã (Casa das Sementes Temity Jara) e Riso da Terra; na celebração do coco no Museu Ivo Lopes; ou na curadoria de objetos históricos no Marco Zero, esses espaços não apenas guardam acervos, mas também operam como locais vivos de produção cultural em que histórias individuais e coletivas estão em constante diálogo.

“Fomos em busca de espaços fora dos grandes centros urbanos e observamos que são práticas de vida nesses territórios, com diferentes maneiras de organizar, produzir, manter coleções e uma mediação, um contato com o público. Um modo de partilha que borra um pouco as fronteiras entre público e privado. Procuramos observar o que há em comum com a prática museal tradicional, mas o projeto parte do que diferencia. A intenção não é, a partir desse estudo, definir ou classificar essas casas como museus domiciliares. Queremos mais questionar e refletir sobre um conceito eurocêntrico na concepção de museu vigente”, aponta Bruna Rafaella Ferrer.

Nesse processo as coleções encontradas revelam as inúmeras possibilidades dos museus domiciliares: passam não só por objetos pessoais e/ou sagrados, fotografias, obras de arte, itens que estão nas famílias por gerações, pela dança, música, como também, no caso das sementes, pela ecologia – cujo prefixo vem do grego oikos, que significa casa ou lugar onde se vive.

“São espaços que fazem pensar outras formas de se elaborar uma expografia, uma curadoria, uma mediação. Acho que esses espaços trazem uma força e uma riqueza para o debate da museologia por nos apresentar outras soluções nessas três grandes frentes. Esse movimento de conceber outras formas de museu não é uma novidade; está muito bem sedimentado na própria museologia, mas acho que o grande trunfo desse projeto é trazer esse olhar a partir desses espaços que também são casas. É uma ideia diferente da casa-museu (ou museu-casa), como as de Rui Barbosa ou Getúlio Vargas, por exemplo, que não são mais residências. Nós temos olhado para esses espaços que têm a hospitalidade como traço definidor”, reforça Marcela Lins.

O projeto resultou em uma websérie de oito episódios, com foco em cada um dos museus domiciliares, e um livro – em formato impresso e digital – com as entrevistas e o processo da pesquisa, no intuito de difundir essas iniciativas como espaços vivos e autônomos de salvaguarda, produção e propagação de conhecimento. Tanto a websérie qaunto a publicação (digital) estão disponíveis nas redes sociais do projeto (YouTube e Instagram). O projeto conta ainda com a participação de Leonardo Lacca na direção de fotografia, Isabela Stampanoni na edição dos vídeos e Lúcia Padilha na coordenação de produção.

Serviço:

Lançamento do projeto Museus Domiciliares, com websérie e livro – quarta-feira (26), às 15h, no Memorial da Democracia de Pernambuco (Sítio Trindade – Estrada do Arraial, nº 3.259, Casa Amarela, Recife). Acesso gratuito

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