Poesia reflexiva e contação de histórias para crianças tomaram conta do País da Literatura neste sábado (27)
Nanda Maia, Inaldete Pinheiro e Odailta Alves integraram a grade de programação das atividades literárias com performances envolventes e provocações instigantes a respeito da fé e das questões raciais
Postado em: PE Meu País
A tarde deste sábado (27) foi de muita prosa e poesia no Festival Pernambuco Meu País com a programação diversa do País da Literatura. As atividades voltadas para o mundo das letras começaram com uma ação na rua e seguiram com contação de histórias para crianças no estande da Cepe Editora.
Versos provocativos escritos por cima de santinhos religiosos e entregues a mulheres na rua. Esta é a proposta do projeto literário de Nanda Maia, denominado “Ter Fé”. Estreando sua performance no segundo dia da edição de Gravatá do Festival Pernambuco Meu País, a poeta andou pela avenida principal do centro da cidade ao longo da tarde deste sábado (27).
A intervenção tem como proposta conversas sobre a fé e representa não só um ato poético unilateral por parte da autora, mas também momentos de escuta e troca com quem topar receber o santinho. A ideia nasceu a partir de um trauma psicológico vivido por Nanda Maia. Ela explica que veio de um contexto de violência familiar e de um relacionamento abusivo.
“Estava tendo muitas crises de ansiedade, por isso um dia decidi sair de casa, na Linha do Tiro, e fui para o terminal de ônibus de Xambá. Lá vi um homem de uma igreja evangélica pregando sobre violência contra a mulher e uma moça, com ele, distribuindo os santinhos”, lembra Nanda Maia. “Mas ela estava calada e achei essa cena muito controversa e irônica, me remetendo a tudo que tinha passado. Vi nesse momento uma oportunidade de colocar no papel esse poema que já vinha nascendo dentro de mim, que eu já estava elaborando sobre o que significa ter fé em situações adversas.”
A performance do Pernambuco Meu País é apenas o pontapé inicial deste projeto de vida de Nanda. Ela pretende retornar ao T.I de Xambá e entregar os santinhos poéticos a mulheres, alimentando conversas e reflexões a partir desta poesia viva.
Literatura viva também é o propósito de Inaldete Pinheiro, autora e pensadora pernambucana consagrada que compôs a segunda parte da programação do País da Literatura neste sábado (27). Conhecida nacionalmente por ter sido uma das fundadoras do Movimento Negro do Recife, ela também é autora de livros infantis. Em suas obras, como “Uma aventura do velho baobá”, “A Calunga e o maracatu” e “Pai Adão era Nagô”, entre outras, ela procura despertar questionamentos sobre a questão racial para os pequenos, de uma forma lúdica.
Para a autora, estimular essa consciência desde a tenra idade é fundamental. “A literatura infantojuvenil pode potencializar a escrita negra. Fui a primeira escritora negra em Pernambuco a trabalhar a questão infantil, desde os anos 1980, e tem sido muito gratificante. Sabemos que ainda falta muito, que os cursos de Letras têm que tem um olhar mais aguçado para a literatura infantil, mas temos também que celebrar as conquistas”, conta Inaldete.
A interação com as crianças aconteceu no estande da Cepe Editora, que tem diversos livros infantis publicados de autores e ilustradores que tematizam a questão da negritude. Inaldete Pinheiro estava acompanhada da também escritora Odailta Alves e, juntas, fizeram leituras e conversas instigantes com as crianças.
 
		 
	
				