Intervenção urbana discute a reconexão com a natureza e os efeitos do acaso
Postado em: Artes Visuais | Festival de Inverno
Por: Julya Vasconcelos
Uma faixa longa de papel espelhado é colocada, horizontalmente, ao longo dos finos troncos dos eucaliptos do Parque Euclides Dourado. A incidência da luz, do vento, das nuvens que cobrem e descobrem a luz do sol, dão origem a um efeito estético impactante. Mathieu Duvignaud, artista que trouxe uma intervenção urbana ao 24° Festival de Inverno de Garanhuns, explica que, nesta obra de land art, a ideia foi trabalhar com uma quebra da verticalidade, muito marcante no parque, através dessa intervenção horizontal.
Vivendo desde 2001 no Brasil, Duvignaud é arquiteto e paisagista de formação, com incursões pela fotografia e cinema. “Eu gosto de beber em muitas águas. Pouco a pouco eu juntei o meu trabalho como paisagista e o meu interesse pela “arte do acaso”, que comecei a experimentar primeiramente através da fotografia. Passei a desenvolver a minha própria técnica”, explica. Para o artista, a arte conectada com a paisagem, além do valor de fruição estética, tem sobretudo um valor de re-sensibilização da relação humana com a paisagem. “O homem se desconectou da paisagem. Através do cotidiano é possível encontrar sonho e fonte de imaginação. A riqueza da realidade não precisa criar ficções para ser interessante, a realidade já é muito complexa e extraordinária”, sublinha Duvignaud. Essa preocupação com uma ideia de paisagem cultural e de reconexão do humano com o espaço é a grande questão do artista.
Levado por essa ideia, Duvignaud sempre realiza oficinas durante os seus períodos de intervenção, porque acredita que através da prática e do contato com a paisagem – e a posterior interferência nela – é que é possível alcançar o seu objetivo de re-sensibilização. “A importância da oficina está em despertar nas pessoas o interesse pela paisagem. Assim a natureza vira uma plataforma criativa”, explica o artista visual.
Confira Time-Lapse produzido pelo fotógrafo Marcelo Soares:
Marcelo Soares

Yale Cerqueira, aluna da oficina Ateliê Criativo de Lanc Art, trabalha em sua intervenção
Yale Cerqueira , arte-educadora de Recife e uma das participantes da oficina, diz que estabelecer o diálogo com a natureza e o desconhecido, e tentar enxergar algo de plástico e poético, é o grande desafio da formação. Na tarde de ontem (24/7), ela trabalhava em um tronco do parque, investigando “a intervenção do homem e o grito de dor da natureza” na sua intervenção dentro da oficina.
Cícero Viana, morador de Garanhuns e participante assíduo das oficinas de formação há cerca de sete edições, fala que no início da oficina não sabia nem sequer o que era arte contemporânea. “Perguntei: o que é isso de arte contemporânea? Agora eu estou aqui lamentando que vai acabar”, diz Cícero enquanto trabalha com texturas e cores de de elementos do espaço em cima de um tronco do parque.
A oficina contou com 23 alunos, oriundos de locais e formações bem diversas. A intervenção realizada nos troncos das árvores do Euclides Dourado ainda pode ser vista no parque mas, sempre exposta às reações imprevisíveis do clima e da paisagem, podendo modificar-se continuamente.

