Palco “Pernambucano” Dominguinhos em noite de lançamentos
Lenine, Orquestra Contemporânea de Olinda e Eddie mostraram, pela primeira vez no estado, seus novos trabalhos
Postado em: Festival de Inverno | Música
por Leonardo Vila Nova
Olinda inteira desceu ladeira, subiu a serra e chegou em Garanhuns em forma de música! O Palco Dominguinhos se viu tomado, neste sábado (18), por boa parte da Cidade Alta, que foi muito bem representada por duas das bandas mais expressivas do cenário musical. Eddie e Orquestra Contemporânea de Olinda vieram nos presentear, por mais uma vez, com a energia desse lugar que é de todos os lugares, cores e sons. Coroando a noite, a presença arrebatadora e fundamental de Lenine, que encerrou a programação.
Morte e vida é o nome do novo disco da banda Eddie. E foi esse trabalho que subiu, pela primeira vez, num palco pernambucano, estreando no FIG 2015. O novo disco vem reforçar o talento da Eddie para a malemolência. Ao passo em que traz letras mais contundentes, mais narrativas, o disco ainda mantêm o já conhecido balanço olindense, que é marca da banda. E foi justamente isso que se viu no palco e na plateia: público arriscando seus passinhos em meio à garoa de Garanhuns. Um bailinho olindense daqueles… que, como não poderia deixar de ser, também teve direito a antigos sucessos da Eddie, como Pode me chamar, Vida boa, entre outras.
Sai Olinda. Entra Olinda. Uma Olinda e suas várias Olindas, resumidas em um nome: Bomfim. O disco é o terceiro da big band Orquestra Contemporânea de Olinda (OCO), que já traz no nome a chancela e garantia fundamental de boa música. Também sendo lançado neste FIG, Bomfim é a consolidação da identidade musical deste momento da OCO, que se iniciou no primeiro disco, de 2008. O novo show é um mix dos três álbuns, obviamente com predominância do novo disco, que ganhou os olhares do público pernambucano (assim como dos que vieram de fora) pela primeira vez. “Os nossos dois primeiros CDs surgiram a partir do repertório que a gente já experimentava no palco. O Bomfim, não. Estamos tocando muitas dessas músicas pela primeira vez em cima do palco. Então, é uma novidade. No entanto, os nossos shows já costumam ter um esqueleto, um caminho, ao qual nós agregamos músicas deste último, criando esse novo show, que tem um pouco de cada um dos três discos“, contou Juliano Holanda, guitarrista e um dos compositores da OCO.
E eis que a Orquestra fez o que melhor sabe: uma mistura fina entre arranjos sofisticados e energia e ritmo que chamam à dança, ao requebrar do corpo. Pode ir, Amara Preta, No Caldo, Não me falta se juntaram a sucessos antigos como Sereia, Falar pra ficar e Ciranda de Maluco (canção de Otto que já foi incorporada ao repertório da OCO há algum tempo). O resultado disso em palco é instigação pura. Que o diga a olindense Girlaine Santos, 47 anos, que há 18 vive em Maceió (AL). Muitíssimo animada , à beira do palco, ela contou que nunca perdeu de vista a cena musical pernambucana. “Eu, sempre que posso, venho pra cá, pra poder assistir aos shows. Gosto de Eddie, Mombojó, Mundo Livre, Lenine… e a Orquestra Contemporânea principalmente, pois eles misturam de tudo e dá nessa música deles, que é boa demais!“, declarou.
A força da música e do amor
“Eu dedico esta noite… e todas as noites… as que vieram e as que virão, a ‘Seu Geraldo’“, disse Lenine, acompanhado por um grito explosivo de força do público que estava na Praça Mestre Dominguinhos. Em palco, o cantor homenageou o pai, falecido recentemente. Em palco, ele fez o chamamento à sua música: ela o empoderou de amor, de grandeza… este amor que ele devota aos pais, e que o levou a fazer da música a sua mais poderosa arma e alicerce fundamental. Tudo tem muito a ver. A presença dele, nesta noite, também. Foi bonito e importante vê-lo no palco, num show arrebatador.
Carbono… assim se chama o novo álbum de Lenine. Um trabalho que reúne dezenas de parceiros, antigos e novos, num dos discos mais plurais de Lenine. E Castanho, música que abre o disco e o show (também encerrando-o), fala bem disso: “O que eu sou / eu sou em par / Não cheguei sozinho“. E essa presença fundamental do coletivo em sua vida foi o combustível para o show de ontem. A parceria do público que respondia com vibração a cada uma das músicas do show, e que ganhava mais intensidade nos momentos mais instigados, foi a prova viva desta força de resistência que a música dá a quem vive dela. “Canções da minha dor / Canções do meu pesar / Canções do meu amor / Canções do meu amar“, continua a letra de Castanho, em plenitude de emoções.
Forte, instigante e instigador, Lenine trouxe novas músicas, como O Impossível vem pra ficar, Cupim de Ferro, Grafite Diamante, Quem leva a vida sou eu, numa pegada pesada e ao mesmo tempo malemolente. Corresponderam à altura. Canções de outros discos, como A rede, Paciência, Na Pressão, Candeeiro Encantado (com uma banda instigada, interagindo com as mudanças de andamento da música), também entraram no repertório, que contou com 25 canções… por volta das 3h45 da manhã, Lenine encerrava o show que lhe lavara a alma, que lhe pôs humano e gigante de espírito diante de milhares de pessoas.


