“Pé de Jatobá”: programa de ecogastronomia resgata saberes e práticas tradicionais
Postado em: Gastronomia | Lei Aldir Blanc
Salvaguardar o patrimônio material e imaterial a partir da ecogastronomia, do resgate e da valorização de receitas preparadas a partir do fruto do Jatobá, árvore nativa da Mata Atlântica, e que possui propriedades fitoecológica, fitoterápica e gastronômica, é o objetivo do webprograma “O Pé do Jatobá”, que está disponível no canal das Mães da Iumas (www.youtube.com/channel/UC3Qtvq5pehJnlKYuHB4Rmog/videos). E é justamente no Pé do Jatobá, na comunidade rural de Inhumas, em Garanhuns, onde tudo começa e se desenrola: a coleta do fruto, o encontro com as pessoas do campo, as conversas, o relato das experiências, das vivências e memórias de uma época e de uma tradição que vêm se perdendo, tanto por causa do êxodo rural, como também pelos efeitos da globalização, que facilita o acesso de alimentos industrializados.
E a farinha de jatobá que era bastante consumida pelas comunidades rurais no passado, já não é mais hoje em dia, devido aos motivos anteriormente citados, como também pelo avanço da urbanização e pelo desmatamento nessas regiões, resultando na perda dessa ecogastronomia tradicional, tanto na forma in natura, como no preparo do mingau de jatobá. O projeto, que foi contemplado pelos recursos da Lei Aldir Blanc em Pernambuco, visa documentar esses saberes e práticas através do programa audiovisual “O Pé de Jatobá” que é composto de duas temporadas: a primeira que é “O Pé de Jatobá e as Lembranças de quando comia o Jatobá” e a segunda que é “O Pé de Jatobá em Já Comeu Jatobá?”.
A primeira parte consiste num bate papo com moradores e moradoras sobre seus costumes, as vivências e memórias da época em que se alimentavam do fruto do jatobá, de como era a prática da coleta do fruto, como faziam para abri-lo e que receitas preparavam para comer. Os diálogos aconteceram debaixo da árvore. Já a segunda temporada apresenta a transformação da polpa farinácea, que é riquíssima em vitaminas, minerais e fibras, em farinha de jatobá, utilizando-a como ingrediente principal para o preparo de outros alimentos, mostrando como se faz para quebrar o fruto, retirando as sementes contidas na polpa farinácea, ralando e peneirando essa polpa, e deixando-a em granulados finos.
O preparo das receitas se passa na cozinha da apresentadora e idealizadora do projeto, Danielle Jansen. Os alimentos produzidos a partir da farinha de jatobá foram o mingau, o pastel, o pão, e por último, o mousse do jatobá. E além das receitas a apresentadora dá dicas para inserção dos frutos e da farinha de jatobá nas feiras livres, feiras orgânicas e empórios naturais, tornando os produtos do jatobá acessíveis para a população urbana. O projeto conta ao todo com oito episódios.
O ineditismo do projeto se configura por resgatar e difundir saberes e práticas tradicionais como o costume de comer o fruto do jatobá, de criar mudas da árvore, de coletar os frutos e a partir dele preparar diversas receitas usando a farinha de jatobá, e ainda dá orientações para agricultores e agricultoras venderem os frutos e a farinha nas feiras livres, incentivando a cadeia produtiva do jatobazeiro em Pernambuco, de forma sustentável, promovendo a valorização e difusão dos saberes tradicionais e do patrimônio material e imaterial da região de Inhumas. O projeto e o programa também estão sendo divulgados no Instagram @culturamedicinal e na fan page da Mães da Iumas (facebook.com/CulturaMedicinal).
Sobre a idealizadora do projeto
Danielle Jansen (1979) – Engenheira agrônoma e educadora ambiental, se aperfeiçoa mais e mais sobre as árvores nativas, seja nos aspectos fitossociológicos, culturais, fitoterápicos e gastronômicos. Natural de Recife, reside em Garanhuns há 20 anos, onde se tornou mãe de Ewa, Iami e Raoni Yô. Trabalha com produção cultural, fazendo interconexão das espécies florestais aos segmentos culturais. Fundadora da iniciativa Mães da Iumas, que desde de 2008 realiza ações contínuas de afirmação positiva, salvaguarda e valorização dos saberes e fazeres tradicionais da fitoterapia arbórea de espécies nativas de Garanhuns e São João, na comunidade rural tradicional de Inhumas. É autora do livro Árvores Nativas, Cultura Medicinal, resultado do projeto “Mães da Iumas: Árvores Nativas, Cultura Medicinal” contemplado pelo Funcultura.