Literatura que se espalha e reverbera dentro de cada um
Postado em: Literatura | Pernambuco Nação Cultural
por Leonardo Vila Nova
“Isso é pegadinha, é?”
Assim perguntou uma senhora, no Distrito de Jerimum (Taquaritinga do Norte), ao ver um livro solto, num banco da praça, tão à mão. Algo do tipo não era comum de acontecer por aquelas bandas. Um livro, assim, livre? Mas, por que não? Nesta semana, com a chegada do Festival Pernambuco Nação Cultural ao município, uma das principais ações que aconteceu na região foi o Livros Livres, da Secretaria de Cultura de Pernambuco, através da sua Coordenadoria de Literatura. A ideia é fazer com que vários livros sejam espalhados em locais públicos para que qualquer pessoa possa lê-los e, depois, deixá-los em outro lugar, para que mais e mais pessoas tenham acesso à leitura. E foi assim no Distrito de Jerimum, na manhã deste sábado (13).
Crianças, adultos e idosos se deparavam com livros por toda a parte e, movidos pela curiosidade, se aproximavam, para ver o que era. “Eu perguntei ali por quanto é que estavam vendendo”, disse dona Severina Maria das Neves, 70, enquanto folheava um dos livros que encontrou no caminho de casa. “Aí eu vi esse livro aqui, falando coisas bonitas e me disseram que era de graça, pra eu pegar e ler. Minha gente, muito obrigado, viu?“, comentava ela, com um sorriso no rosto e os olhos brilhando, mirando as páginas.
E não foi só nas folhas de papel que a literatura chegou até lá. Vozes também entoaram versos que reverberavam pelo pequeno distrito, com outra importante ação que se fez presente: o A Gente da Palavra, que reuniu os poetas João Higino, Gleison Nascimento e Wilma Torres. Eles batiam de porta em porta, nas casas, nos bares, para levar poesia aos moradores. A sortuda Maria Severina também recebeu os poetas em sua casa. Acompanhada da neta Maria Helena, 7, que se divertiu à beça com os versos de Wilma e Higino, ela ouviu atentamente cada palavra, cada verso. “Eita, que eu gostei muito disso aqui hoje. A gente já teve filme passando aqui essa semana e, agora, o pessoal dizendo poesia pra gente, é bom demais. Eu gosto de ler, gosto de ouvir poesia. Eu me agradei foi muito“, dizia ela. A pequena Maria Helena pareceu gostar também, pois ao ver Gleison recitando poesia em outra residência, correu logo e ficou bem ao seu lado, para ouvir.
Costa Neto/Secult-PE

Dona Severina e a neta Maria Helena acompanharam atentamente as palavras do poeta
“A acessibilidade à informação e à leitura é imprescindível para a gente construir uma literatura forte. E isso é muito importante pra nós que estamos aqui, trazendo poesia pra essas pessoas. A possibilidade de vir pra cá, numa cidade dessas, onde eu, provavelmente, nem saberia que existia e, possivelmente, não viria, se não fosse graças a esta ação, é extremamente gratificante. Eu mesmo estou voltando muito mais enriquecido do que eu vim pra cá, de material de poesia, de escrita e de vida“, declarou o poeta Gleison Nascimento, durante a ação.
E ele volta pra casa com um recado: “Era pra vocês terem trazido um CD ou um livro com essas poesias, pra deixar aqui pra gente“, disse um dos moradores. Pediu que Gleison deixasse algo escrito em um papel. Ao saber que, logo mais, ele estava de partida de Taquaritinga, o homem, então, terminou: “Pois, então, escreva num papel e deixe lá na farmácia, no centro, que eu vou lá buscar“.

