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Forró pode receber título de Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade da Unesco

Neste sábado (13), celebra-se em todo o Brasil o Dia Nacional do Forró, que no Nordeste - em especial em Pernambuco - se expressa numa forma de vida. Fundarpe integra comitiva responsável pela inscrição na Unesco

Luiz Gonzaga, rei do baião e grande mestre do forró

Luiz Gonzaga, rei do baião e grande mestre do forró

O Dia Nacional do Forró, comemorado neste sábado (13), reacende a importância de uma expressão cultural reconhecida pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), como Patrimônio Cultural Imaterial do Brasil. Em Pernambuco, a data ganha um sentido especial por ser o aniversário de Luiz Gonzaga, referência maior do gênero musical característico do Nordeste, principalmente durante a maior festa da cultura popular brasileira, o Ciclo Junino (ou São João). A novidade em relação ao Forró é que, para além das terras pernambucanas e do País, existe a possibilidade de ser reconhecido como Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade, pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco).

No campo mais simbólico e afetivo, celebrar o Dia Nacional do Forró é, antes de tudo, reconhecer a dimensão de um patrimônio que ultrapassa música e dança. O forró — ou forrobodó — é uma manifestação de um povo que envolve modos de viver, festejar, migrar, cozinhar e contar histórias. A decisão do Iphan, em 2021, ao registrá-lo como bem imaterial, deu nome formal ao que todo nordestino já sabia: trata-se de uma matriz viva, enraizada no Brasil inteiro por força das migrações e da potência inventiva de seus fazedores.

13 de dezembro carrega o nascimento de Luiz Gonzaga, em Exu, no Sertão do Araripe — território fundamental para entender o surgimento do forró. Gonzagão não só popularizou ritmos como baião, xote, xaxado e arrasta-pé, como ajudou a moldar o imaginário nacional sobre o Nordeste. Seu legado atravessa gerações e artistas contemporâneos que continuam renovando o super gênero com respeito à tradição, mas sem medo de olhar para o presente e para o futuro.

Gonzagão e Marinês

Gonzagão e Marinês

“Pernambuco encerra o ano como um dos principais articuladores das políticas de salvaguarda do Forró no Brasil. O fato mais recente ocorreu em novembro deste ano, quando foi realizada a 111ª Reunião do Conselho Consultivo do Patrimônio Cultural do Ministério da Cultura/Iphan, fórum do qual a Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico de Pernambuco faz parte e que debate diretrizes, processos e avanços ligados à preservação das expressões culturais brasileiras”, explica Lana Monteiro, gerente de Preservação do Patrimônio Imaterial da Fundarpe.

O processo de avaliação de uma candidatura a Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade pela UNESCO, como foi o caso do frevo, geralmente leva cerca de um ano a partir do momento em que o dossiê é submetido formalmente.

PATRIMÔNIO IMATERIAL – O processo internacional se soma a uma agenda extensa de reconhecimento construído ao longo dos últimos anos. Em 2021, o Iphan registrou as Matrizes Tradicionais do Forró no Livro de Registro das Formas de Expressão, reconhecendo-o como um complexo cultural que envolve música, dança, modos de fazer, redes comunitárias, transmissão de saberes, festas tradicionais e práticas sociais que atravessam gerações.

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Em Pernambuco, o fortalecimento dessa política ganhou impulso com o Inventário do Forró Tradicional no Interior do Estado, realizado pela Associação Respeita Januário com apoio do Governo de Pernambuco, por meio do Funcultura. A pesquisa percorreu municípios do Agreste e do Sertão, registrando memórias, técnicas, repertórios e espaços simbólicos que sustentam a continuidade da tradição.

O processo também evidencia a relevância dos mestres e guardiões da tradição que mantêm viva a prática do forró pé-de-serra por meio da oralidade, do aprendizado coletivo e da preservação dos repertórios tradicionais. Em Pernambuco, cinco Patrimônios Vivos do Estado seguem firmes neste propósito de manter acesa a chama da fogueira forrozeira. “Em Pernambuco, temos mestres, mestras e grupos culturais que estão diretamente ligados à essa expressão artística: Assisão, Benedito da Macuca, Terezinha do Acordeão e Quadrilha Raio de Sol”, pontua Lana Monteiro.

Cantor, compositor e sanfoneiro nascido em Serra Talhada (PE), Assisão é um dos nomes centrais do forró pernambucano. Com carreira iniciada nos anos 1960, construiu uma obra marcada pela fidelidade às matrizes do baião, xote e xaxado, sem abrir mão de experimentações sonoras. Sua música circula entre o popular e o autoral, dialogando com gerações distintas. É referência na preservação e difusão do forró como linguagem cultural viva.

Músico pernambucano ligado às tradições do forró, Benedito da Macuca construiu sua trajetória a partir da vivência comunitária e do repertório popular nordestino. Seu trabalho está associado à transmissão de saberes musicais que atravessam gerações, mantendo práticas e estilos ligados à sanfona e aos ritmos tradicionais. Atua como referência cultural em seu território, sendo reconhecido pela consistência e continuidade de sua contribuição artística.

Nascida em Salgueiro (PE), Terezinha do Acordeão é sanfoneira, cantora e compositora, com mais de seis décadas de atuação na música nordestina. Reconhecida como pioneira feminina no forró em Pernambuco, iniciou a carreira ainda jovem e consolidou uma discografia marcada pelo diálogo entre tradição e protagonismo autoral. Sua trajetória inclui parcerias, gravações e circulação nacional. É nome fundamental na história da sanfona no estado.

Fundada no Recife, a Quadrilha Junina Raio de Sol é um dos grupos mais longevos e estruturados da cultura junina pernambucana. Com mais de três décadas de atuação, desenvolve espetáculos que articulam dança, música, narrativa e pesquisa de tradição popular. O grupo mantém atividades contínuas de formação, memória e criação artística ao longo do ano. Sua atuação ultrapassa o calendário junino e se firma como referência cultural permanente.

 

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