Pular a navegação e ir direto para o conteúdo

O que você procura?
Newsletter

Notícias cultura.pe

Jornada de Patrimônio Alimentar promove vivência em Casa de Farinha na Zona da Mata

Fundarpe e Secult-PE aproximam saberes tradicionais e formação acadêmica em experiência sobre a cultura da mandioca

Foto: Ronny Colors/ Secult-PE/ Fundarpe

Texto: Valentine Herold

É na zona rural de Lagoa do Itaenga, município da Zona da Mata pernambucana, que Seu Machado, de 83 anos, passa os dias entre as plantações agroecológicas do sítio que leva seu nome. Foi lá que ele criou seus filhos, que hoje dão continuidade ao trabalho no plantio, na colheita e no preparo dos alimentos a base de mandioca, principal insumo do local, com foco na produção inclusiva, em harmonia com os ciclos da terra e visando o consumo consciente. A rotina da família Machado é indissociável de seu território. Com resistência e luta pela manutenção e aprimoração dos saberes, eles vivem e trabalham num local onde o tempo parece passar de outra forma, sem obedecer às normas dos minutos e das horas.

A sensação para quem tem a sorte de passar pelo Sítio Machados é a de que o patriarca sempre esteve ali, com sua enxada e seu facão em mãos, colhendo e descascando a mandioca. Ao seu redor, na Casa de Farinha, sua esposa e filhas se movimentam entre as muitas etapas da feitura da farinha e produtos derivados, como beiju, bolos, goma de tapioca e afins. Tudo ali parece cíclico, convidativo e acolhedor. Foi justamente neste cenário único, repleto de plantas, flores e árvores frutíferas, que aconteceu uma das imersões da 4° Jornada de Patrimônio Alimentar, promovido pela Fundarpe e Secult-PE em continuidade à 18ª Semana do Patrimônio Cultural de Pernambuco.

Este ano o tema da Jornada gira em torno dos saberes e das práticas socioculturais relacionadas à mandioca e à cachaça no Estado. Dentre as ações da programação, ocorreu durante a quarta-feira (27) a vivência imersiva na Casa de Farinha do Sítio Machados. Além de representantes da Secult-PE e da Fundarpe, participaram professores e estudantes de Gastronomia da faculdade Senac, do Instituto Federal de Pernambuco (IFPE) e da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE). Ao longo de todo o dia, o grupo pode participar do dia a dia da família de agricultores, indo à roça para realizar a colheita de mandioca e retornando à Casa de Farinha para acompanhar todos os processos, desde a trituração da raiz até a feitura de alimentos.

Foto: Ronny Colors/ Secult-PE/ Fundarpe

“Um dos motivos para a gente ter escolhido a mandioca como parte da temática da Jornada do Patrimônio Alimentar deste ano é pelo fato de muitos pratos, muito da cultura alimentar de Pernambuco é formada por esse alimento. Um dos patrimônios registrados que nós temos no Estado de Pernambuco com Patrimônio Imaterial é, por exemplo, o Bolo Souza Leão, feito a partir da mandioca. Então não só ele, mas muitos outros pratos precisam ser salvaguardados, muitos saberes e muitas práticas associadas à essa plantação, a esse alimento, esses saberes e ofícios que estão associados à mandioca”, ressalta Aline Oliveira, antropóloga e assessora técnica da Gerência de Patrimônio Imaterial da Fundarpe.

“A mandioca é a base de diversos outros produtos da nossa alimentação, como a tapioca, o bolo Souza Leão, o beiju, a farofa. Comidas que fazem parte do nosso cotidiano e por isso nós estamos aqui hoje para ver todo o processo do plantio, a colheita e do processamento da mandioca transformando nesses produtos. Ter um entendimento completo desse ciclo faz parte do nosso papel de salvaguardar esse bem”, complementou a coordenadora de Gastroomia da Secult-PE, Dianne Souza.

Foto: Ronny Colors/ Secult-PE/ Fundarpe

Foto: Ronny Colors/ Secult-PE/ Fundarpe

Aline Oliveira e Dianne Souza

Sítio de luta e agricultura familiar – Território de resistência e afirmação de ancestralidade, o Sítio Machados integra a Rota Agroecológica de Pernambuco com outras propriedades rurais da Comunidade de Marreco, em Lagoa do Itaenga. Ali também atua a Associação ASSIM, que tem como objetivo fortalecer a organização coletiva e cidadã das famílias de agricultores da região, promovendo vivências turísticas e gastronômicas e articulando a comercialização dos produtos em outras localidades.

Para Maria José, uma das filhas de Seu Machado,  a permanência das pessoas no campo passa primeiro pela garantia de um trabalho mais justo e autônomo. Caçula entre mais de dez irmãos, ela nasceu e foi criada no sítio, mas foi morar no Recife na época da faculdade para estudar técnica agrícola. Depois retornou para perto da família e passou a aplicar o conhecimento técnico adquirido, aprimorando assim a produção. Uma de suas irmãs que atuava como professora também fez esse movimento de retorno à terra em 2015, adquiriu a Casa de Farinha e assim introduziu uma nova vivência e forma de renda.

“Foi com alegria que a gente recebeu hoje diferentes estudantes do curso de gastronomia no dia de hoje aqui para a imersão sobre a cultura da mandioca, que é um patrimônio histórico dos povos originários do Brasil. Então hoje, junto com a minha família aqui no sítio Machado, eles puderam conhecer todo o ciclo de produção da mandioca, desde o plantio a todo o processo junto na Casa de Farinha. É muito importante podermos dividir sempre que possível essa experiência sobre permanecer no campo, nosso trabalho de luta e persistência e o entendimento que temos da terra e do alimento”, finalizou Maria José.

 Foto: Ronny Colors/ Secult-PE/ Fundarpe

Foto: Ronny Colors/ Secult-PE/ Fundarpe

Foto: Ronny Colors/ Secult-PE/ Fundarpe

Foto: Ronny Colors/ Secult-PE/ Fundarpe

Foto: Ronny Colors/ Secult-PE/ Fundarpe

Foto: Ronny Colors/ Secult-PE/ Fundarpe

Foto: Ronny Colors/ Secult-PE/ Fundarpe

< voltar para Patrimônio