Dia da Mulher: as pernambucanas da Cultura
Postado em: Secretaria de Cultura
O dia 8 de março é dedicado à memória e à reflexão sobre as conquistas políticas, sociais e econômicas das mulheres. A data reforça o processo de luta dos direitos conquistados pela equidade de gênero, bem como rememora o combate às desigualdades.
Por exemplo, você já parou para pensar o que seria da cultura pernambucana sem as mulheres? Se você refletir, historicamente, foram as mãos masculinas que escreveram, registraram, e contaram o fazer cultural nas mais diferentes sociedades e comunidades de brincantes.
O protagonismo e a trajetória das mulheres na cultura popular, assim como em toda a sociedade, por muitas vezes foi silenciado e até apagado. Com muita luta, as mulheres foram quebrando inúmeros paradigmas e buscando conquistar seus devidos espaços dentro das manifestações culturais.
Mestra Joana, 46 anos, nasceu em um Terreiro de Candomblé, fui educada nesse meio cultural que o Estado carrega e essa trajetória a influenciou a ser a única Mestra de Maracatu de Baque Virado que se tem notícia, claro que ela também enfrentou e ainda enfrenta diversas formas de resistência à sua posição
“Primeiro um quebrando um balaio cheio de tabus, onde os homens até hoje xingam, ignoram, desvaloriza a presença das mulheres no baque. E depois fui seguindo minha intuição e as lutas das feministas para se manter firme”, disse a Mestra da Nação do Maracatu Encanto do Pina.
Apesar de ser bastante respeitada como mestra, ela confessa que ainda sofre com críticas. “Em vários lugares sou considerada, e em outros não. E até fico sabendo de alguns relatos que minha participação em alguns eventos é inútil, os sem grande valor porque sou mulher”, desabafou.
Segundo Joana, as mulheres sempre estiveram presentes dentro da cultura, porém nunca receberam o devido destaque devido ao machismo estrutural. “Somos nós mulheres que sempre estivermos por trás, fazendo todo espetáculo aparecer, e hoje nós somos protagonistas”, disse.
Mãe Dora é parteira indígena do povo Pankararu, liderança comunitária e espiritual, técnica de enfermagem, matriarca do cuidado e Patrimônio Vivo de Pernambuco. Para ela, ser mulher fazedora de cultura em Pernambuco é ser herdeira de uma força ancestral. “É carregar no sangue a bravura de minha mãe e de minhas tias, que repassaram tudo o que sei sobre a minha cultura”, afirmou a representante das mulheres que atuam em suas comunidades realizando partos domiciliares em suas comunidades.
Parteira há mais de 60 anos com mais de 5 mil partos e nenhum óbito no currículo, Dona Prazeres já pôs muitas mulheres no mundo e destaca o valor que elas representam para a nossa cultura. “A qualificação da mulher e sua importância no mundo é enorme. E não é diferente na cultura, são as mulheres que sempre zelaram por todos e nunca fizeram questão de serem reconhecidas”, garantiu.
Lutar pela valorização da cultura, tradição, e do patrimônio imaterial é a missão da vida da chef Cris Barros. Para a doceira, o bolo de noiva é coisa séria. Porém, não se trata de qualquer bolo de noiva. Estamos falando da iguaria de sabor único nascida em Pernambuco: Um bolo escuro, sem recheio e de massa encorpada, com a presença de vinho, passas, ameixas e frutas cristalizadas. “Representar as vozes muitas vezes invisibilizadas das boleiras, que alimentam a economia e a cultura com uma iguaria tão pernambucana como é o bolo de noiva. Portanto, salvaguardar essa cultura é fundamental”, contou.
“Ser mulher na cultura pernambucana é ter garra, é ser forte, persistente, lutar por seus ideais e manter suas manifestações vivas”, completou Cris que tomou para si a importante missão de tornar o bolo de noiva um Patrimônio Cultural Imaterial de Pernambuco, assegurando assim a valorização e perpetuação da iguaria na história do Brasil.
A cantora Isaar compara o próprio fazer artístico com o papel da mulher. “A arte por si só parece que já é feminina, né? Porque ela chega buscando quebrar, questionar, transformar, e é isso que as mulheres fazem o tempo todo em várias instâncias da sociedade”, refletiu.
Já Larissa Lisboa, cantora e compositora, ser mulher e fazedora de cultura por si só é uma atividade de resistência. “Admitindo a dominação masculina na cultura, é uma sobrevivência diária. Nesse ponto eu digo que é preciso muita coragem, e note que eu não digo força porque às vezes a gente não tem força e mesmo assim executamos, então eu acho que é preciso coragem, ousadia e muita coragem”, afirmou.
Apesar de todas as lutas, e de já haver um avanço considerável pelo reconhecimento feminino em todas as camadas da sociedade, as mulheres da cultura ainda estão longe da sonhada igualdade de gênero. “Vivo na pele o apagamento, o índice de mestres de diversas manifestações culturais é incontável, e as mestras a gente conta no dedo a quantidade, e não é por falta de mulher fazendo cultura, é o machismo mesmo que ainda predomina”, resumiu Mestra Joana. “Mas, o meu legado é justamente manter vivo o sonho das minhas mais velhas, e empoderar as mais novas, e os homens também que acreditam e somam nos meus trabalhos. E através da cultura educar meu povo, trazendo boas condições de vida”, garantiu a maracutuzeira.
Qual o papel da mulher na cultura de Pernambuco?
O meu é manter o legado das minhas mais velhas, e empoderar as mais novas, e os homens também que acreditam e somam nos meus trabalhos. E através da cultura educar meu povo, trazendo boas condições de vida.
Acha que na cultura, a mulher já atingiu o patamar de igualdade com o homem? Não! Porque vivo na pele, o apagamento, o índice de mestres , de diversas manifestações culturais, e as mestras a gente conta no dedo a quantidade, e não é por falta de mulher fazendo cultura, é o machismo mesmo que predomina.
