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Carta-manifesto em apoio à Mãe Beth de Oxum

CONSELHO ESTADUAL DE CULTURA DE PERNAMBUCO / CEPC-PE
CARTA-MANIFESTO AO POVO PERNAMBUCANO-BRASILEIRO EM SOLIDARIEDADE À MÃE BETH D’OXUM

“Quando nada parece ajudar, eu vou e olho o cortador de pedras martelando sua rocha talvez cem vezes sem que nem uma só rachadura apareça. No entanto, na centésima primeira martelada, a pedra se abre em duas e eu sei que não foi aquela martelada a que conseguiu, mas todas as que vieram antes.” (Jacob Riis)

Iniciamos esta carta com as sábias palavras de Jacob Riis, por entendermos que a fala da nossa irmã conselheira Mãe Beth D’Oxum é mais uma martelada para rachar uma pedra que se mantém firme contra o preconceito, a homofobia, o racismo religioso, institucional, estrutural, epistemológico, cultural, dentre tantos outros.

Assim, nos expressamos solícitos, solidários e parceiros à Yalorixá Mãe Beth D’Oxum pela sua historicidade religiosa cultural política junto e à frente de movimentos da população negra escravizada pela opressão eurocêntrica que nos persegue e tortura há séculos e séculos, em particular os povos de terreiro.

Como a fala de Mãe Beth D’Oxum no Festival Lula Livre, que expressa verdades reais as quais enfrentamos e (sobre)vivemos cada dia, pode ser acusada como crime à intolerância religiosa?

Quem conhece a cultura de matriz africana, a cultura popular em geral, conhece a coragem, o compromisso e a sabedoria dessa mulher negra, professora, artista, poeta, musicista que ao tocar seu pandeiro executa obras musicais da cultura popular, como por exemplo: “… tá na hora do pau comer…”.

Crime é a acusação judicial recheada de arbitrariedades com evidentes posturas de ódio que desejam e tentam aprisionar e silenciar uma militante vital ao movimento cultural religioso que com coragem vem à público se indignar e denunciar com sapiência os crimes de censuras e intolerâncias religiosas praticados por fundamentalistas que se julgam acima de todos e de tudo com atos e atitudes que criminalizam a nossa cultura a muitas décadas.

O Festival Lula Livre, como diz Mãe Beth D’Oxum “…é um festival que clama pela liberdade de expressão de Lula e do povo brasileiro e dos artistas…” e, portanto, um espaço próprio e propício para voz ao combate às desigualdades sociais. Um espaço público para refletir e levantar questões sobre discussões acerca, como diz Antunes(2019), “… da dominação ocidental e da formação da ideologia da mestiçagem que funcionam como demarcadores de invisibilidade da população negra…”

É assim que traduzimos e defendemos a fala de Mãe Beth D’Oxum. Que inspirada pela forte emoção do momento, com lucidez, empoderamento e dignidade de uma mulher negra guerreira e pautada na pedagogia da indignação, sobe ao palco para denunciar que pastores fundamentalistas “…por domínio econômico compraram as TVs e Rádios abertas do nosso país para satanizar o que temos de mais sagrado que é nossa religiosidade e criminalizar nossa cultura…”

Nós, pernambucanos e pernambucanas que constituímos o CEPC-PE, através desta carta manifesto à sociedade brasileira, ao mesmo tempo em que expressamos nossa solidariedade, cumplicidade, camaradagem, amor e respeito à Mãe Beth D’Oxum, tornamos público nosso posicionamento com exaustiva indignação o veemente repúdio contra a falsa acusação de intolerância religiosa assentada pelo deputado estadual Joel da Harpa à nossa parceira de lutas e construção histórica da diáspora negra no Brasil.
A fala de Mãe Beth D’Oxum é inspiradora, encorajadora e nos alimenta com uma nutrição solidária por estabelecer trilhas e partilhas à construção de um novo paradigma que amplia e nos ensina a compreender e incorporar nosso lugar de fala de libertação e de (re)descobertas.

Mãe Beth D’Oxum, estamos aqui, ali, acolá.
Acreditarmos que juntas e juntos somos fortes e que unidas e unidos em nossa diversidade somos imbatíveis.

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