Catarina Almanova disponibiliza o curta “Tornar-se Monstra ou Humana?” no YouTube
Postado em: Audiovisual | Lei Aldir Blanc
Os processos sociais de desumanização das pessoas trans, mas também a busca pela inserção nos espaços sociais e artísticos, são explorados sob uma perspectiva surrealista no curta-metragem “Tornar-se Monstra ou Humana?”, estreia da pernambucana Catarina Almanova como diretora, roteirista e idealizadora no audiovisual. Com tons de videoarte, a obra foi majoritariamente composta por mulheres trans e travestis em diversas funções da ficha técnica. O curta, que foi contemplado pelos recursos da Lei Aldir Blanc em Pernambuco, está disponível no YouTube.
Catarina Almanova também protagoniza o filme, narrando uma espécie de monólogo ambientado em uma dimensão surrealista que vagueia entre o pesadelo e o sonho. Gravado em Aldeia, no município de Camaragibe, o curta-metragem explora cenários florestais, figurinos e maquiagens excêntricos assinados por Oura Aura do Nascimento. A captação, direção de fotografia e edição foi da Caldo de Cana Filmes.
A performance visceral de Almanova procura não apenas jogar luz na desumanização, mas fazer um protesto por uma reivindicação por espaços e narrativas. É também a celebração de uma irmandade entre as pessoas transgêneros, o que é materializado na aparição de Gabi Benedita, Julie Lima, Sophia William e Jarda Araújo, que integram o elenco.
“Acredito que o cinema pode ser uma linguagem excludente para pessoas trans e travestis. É mais difícil ainda quando se fala do surrealismo, do abstrato. Essas eram características do que eu estava fazendo, e de alguma forma precisava que isso fosse visto. Uma narrativa não-linear, que passeia por mensagem de sonho, pesadelo, ilusão e delírio. É uma experiência visceral”, diz Catarina Almanova, estudante de Licenciatura em Teatro na Universidade Federal de Pernambuco.
Pela proximidade das artes cênicas, Catarina traz referências da dança contemporânea na obra: o Butoh, que trata de questões do surrealismo e do corpo e Sarah Kane, conhecida por suas obras de estilo de narrativa não-linear que surge da emoção e profundidade psicológica. Ela também fez parte do Mini Festival de Mini Criaturas Animadas, que surgiu dentro da UFPE e foi aprovado pelo Itaú Cultural, em 2019, sendo apresentado em São Paulo.
“O meu projeto não nasceria sem um edital que abarcasse essa poética”, reforça a artista. “Os editais precisam entender a nossa poética, a nossa beleza e o que estamos fazendo. Não parte de uma estética ou uma linha de pensamento cis e heteronormativa. Existe uma política que entende a arte de determinada forma, seja no teatro ou no cinema, exigindo moldes específicos de corpo e voz. Isso é muito violento. Chegou um momento em que pensei: Eles não entendem a minha poética. Então eu meti a cara, juntei tudo e resultou nesse curta-metragem”, finaliza.