Dança e Circo ativaram memórias afetivas no primeiro dia de atividades
Postado em: Artes Cênicas | Festival de Inverno
Por Márcio Bastos
A diáspora africana imposta pelo sistema escravocrata, que principalmente entre os séculos XV e XIX desterrou milhões de negros de países africanos, tem até hoje consequências nefastas. A impossibilidade de conhecer suas raízes, a cultura de seus antepassados, é uma violência simbólica constante. Em um processo de resgate dessa memória, o Bacnaré – Balé de Cultura Negra do Recife, apresentou, sábado (23), no Teatro Luiz Souto Dourado, o espetáculo Nações Africanas, que celebra as danças ancestrais do continente. O grupo aproveitou ainda para homenagear dois ícones da cultura afrodescendente em Pernambuco e no Brasil: seu fundador, Ubiracy Ferreira, e Naná Vasconcelos, o grande reverenciado deste 26º Festival de Inverno de Garanhuns.
Criado por Tiago e Antônia Ferreira (filho e viúva de Ubiracy Ferreira), o espetáculo é resultado de um projeto de pesquisa que o Bacnaré vem promovendo há 31 anos. Falecido em 2013, Ubiracy instituiu no grupo a busca por um DNA liberto das amarras do racismo, compreendendo a complexidade da cultura africana e suas ramificações a partir de seus descendentes. Em Nações Africanas, são levadas ao palco manifestações artísticas do Senegal, representada pela Simbu (Dança dos Falsos Leões), da nação dos Burundi, da região central do continente, que tem como principal característica a força de seus Drumes, com sua batida forte e marcante.
Da região centro oeste, destaca-se as manifestações de Rwanda, marcada pela postura dos braços, sensualidade do movimento corporal e pelo movimento frenético das cabeças dos homens. Do Sul, são destacada duas nações: o Indiamu Zulu, com a história das tribos Zulus da África do Sul; e os Gumboots, que mostram a tradição do canto no trabalho de mineração caracterizado pela vibração e força na batida dos pés.
A recepção do público foi calorosa. Além da inegável qualidade técnica do Bacnaré e do espetáculo musical e sonoro de Nações Africanas, o trabalho tem a potente capacidade de ativar memórias afetivas na plateia, pois a cultura africana está intrinsecamente ligada à origem das manifestações brasileiras. Após a apresentação, Antônia Ferreira aproveitou para homenagear Ubiracy Ferreira e Naná Vasconcelos.
“Naná foi responsável por fazer o maracatu conhecido e respeitado nacionalmente. Antes, era uma coisa associada à periferia e agora está na abertura do Carnaval, está nos grandes salões”, ressaltou.
PICADEIRO
O sábado (23) também foi dia de picadeiro com a abertura das atividades de circo do FIG. A lona montada no Parque Euclides Dourado ficou lotada com várias famílias que foram conferir a apresentação do espetáculo Picadeiro Pernambuco, a Tradição Milenar, do Centro Carcará. Com apresentações de acrobacias, malabares e show de palhaçaria, a obra é um lembrete da magia que o circo continua a ativar em crianças, adultos e idosos.
O cheiro de pipoca, um ambulante vendendo guloseimas, os aplausos ritmados do público. Naquele picadeiro é como se o tempo não tivesse passado. Não eram poucos os olhares de encantamento diante das facetas realizadas pelos artistas. Em determinado momento, durante a apresentação de malabares, um dos objetos foi derrubado, mas o público aplaudiu enfaticamente, talvez por saber que o erro não anula a magia daquela luta contra a gravidade promovida pelos circenses.
CÊNICAS
A programação de artes cênicas continua neste domingo (24) e segue até o sábado (30). Os ingressos para teatro e dança podem ser retirados diariamente, às 14h, no Teatro Luiz Souto Dourado, com até dois ingressos por pessoa. Já os de circo devem ser retirados de 11h às 12h30, com até dois ingressos retirados por adulto, ou um por criança. Confira a programação do dia:









