Do bairro à tela: Cinema no Ponto mostra que a cultura nasce onde o povo está
Postado em: Audiovisual | PE Meu País
O cinema não se limita às grandes salas nem aos grandes centros. Ele floresce nos bairros, nas ruas, nos espaços onde a vida pulsa. Foi com esse espírito que surgiu o Cinema no Ponto, iniciativa da Casa das Caiporas, em Caruaru, que integrou a programação do País do Cinema dentro do Festival Pernambuco Meu País. Criado em 2025, o projeto leva para o próprio território a força do audiovisual, mostrando que a cultura nasce onde o povo está.
A programação do Cinema no Ponto dentro do festival trouxe uma seleção especial de curtas de terror, exibidos em Caruaru. A escolha rompeu com a predominância de documentários na cena local. Como explica Daniele Leite, “a gente quis quebrar um pouquinho essa lógica, porque aqui a maioria dos filmes produzidos é documental, por ser mais barato e acessível. Então trouxemos uma mostra de gênero, com foco no terror, para mostrar que também temos outras linguagens sendo desenvolvidas”.
Encontro entre o boi e a câmera
Mais do que um cineclube, o Cinema no Ponto é um gesto de permanência. As sessões semanais acontecem em parceria com o Boi Tira Teima, Patrimônio Vivo de Pernambuco, cuja sede se tornou espaço de encontro para exibições. O resultado é uma simbiose rara: enquanto o audiovisual encontra terreno fértil para se expandir fora dos centros tradicionais, a brincadeira popular ganha registro e visibilidade.
Dessa união nasceu um dos trabalhos mais emocionantes da dupla Daniele Leite e Luca: o curta “Carnaval é de Pelé”, filme que resgata a trajetória de um dos mestres mais antigos do Boi. A obra traz às telas o reencontro de Pelé com a brincadeira, já afastado por questões de saúde, mas convidado a brincar uma última vez diante das câmeras. O gesto virou memória, lágrima e prêmio: o curta foi reconhecido em festivais como o CNPE e exibido na primeira Mostra de Patrimônio e Cinema da Semana do Patrimônio 2025.
O Cinema no Ponto mostra que a produção cultural se sustenta no diálogo entre setores. O boi empresta sua história e sua energia; o cinema retribui com imagens que eternizam e dão novos sentidos à tradição. Nesse entrelace, ambos permanecem vivos — um alimentando o outro.
Não à toa, a presença do projeto no Festival Pernambuco Meu País ressoa com o propósito do evento: fomentar encontros, costurar experiências, fazer nascer novas expressões culturais a partir do território. Do bairro à tela, a cultura segue sua vocação de ser, sobretudo, coletiva.
Sobre o Festival Pernambuco Meu País
O Festival Pernambuco Meu País é uma realização da Secretaria de Cultura de Pernambuco (Secult-PE) e da Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico de Pernambuco (Fundarpe). O evento circula por diferentes cidades do Estado com uma programação gratuita e diversa, reunindo música, audiovisual, cultura popular, literatura, circo, teatro e ações formativas. A proposta é valorizar a produção cultural local, incentivar trocas entre fazedores de cultura e fortalecer a identidade pernambucana em seus múltiplos territórios.
