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Em live da Secult-PE, Cristina Andrade e Velho Xaveco falam sobre a tradição do Pastoril

A transmissão do bate-papo acontece nesta terça-feira (21), às 19h, no canal da Secult-PE no Youtube e na página do Facebook

Natal sem pastoril é quase como Carnaval sem frevo. Alguém já assistiu algum neste ano? O folguedo tem origem ibérica, a partir das encenações da Igreja em seus processos de catequese. E, assim, o folguedo chega ao Brasil, através do teatro ensinado pelos jesuítas aos povos indígenas, para que compreendessem e gostassem da religião cristã. Antes encenado nas igrejas, o pastoril transformou-se basicamente em apresentações musicais, que são chamadas de jornadas.

Algumas estruturas foram mantidas ao longo dos séculos, como a divisão do grupo em dois cordões: o encarnado e o azul, cada qual com suas mestras e contramestras. Existe ainda a Diana que, ao centro e vestida com as duas cores, mantém o equilíbrio da disputa. É uma dança basicamente feminina, com outros personagens que representam as figuras que participaram do nascimento do menino Jesus: pastoras, anjo, cigana, estrela, borboleta etc.

As cores vermelho e azul do pastoril representam a disputa entre cristãos e mouros, fazendo uma referência às lutas travadas na Península Ibérica, pela conversão dos infiéis à Religião Católica. As jornadas falam do nascimento de Jesus, do significado do Natal e de algumas personagens. Geralmente são apresentadas em três ritmos diferentes: marchinha, maxixe e valsinha. O vestuário das pastoras é composto de saias e coletes bordados, blusas brancas, meiões e sapatilhas; na cabeça, usam tiaras com flores, fitas ou pedras decorativas. Nas mãos, geralmente trazem pandeiros ou maracás.

O espetáculo é acompanhado por instrumentos de percussão: surdo, tarol, saxofone, violão, zabumba e pandeiro. Hoje, devido ao alto custo cobrado pelas orquestras, muitos grupos se apresentam ao som mecânico. No Recife, existem diversos grupos de pastoril espalhados em comunidades como Pina, Ibura, Brasília Teimosa, Água Fria, Monteiro, Cordeiro, entre outras localidades, além de numerosos grupos formados pelas escolas das redes pública e privada do Recife e Região Metropolitana.

Carmem Lélis, historiadora e pesquisadora da Fundação de Cultura do Recife e da Secretaria de Cultura do Recife, é autora do livro “Caminheiros do sem fim, Jornadas do sentir”, que trata das relações da religiosidade e da fé, das festas pagãs que celebravam a natividade, e ainda dos brinquedos e brincantes populares de Pernambuco, como fandango, queima da lapinha, cavalo marinho, auto de Natal do boi, reisado, guerreiros e pastoril.

“Apesar de ser disseminado a partir da igreja, o pastoril se desenvolve no litoral e nas cidades. É um brinquedo urbano. Atualmente Pernambuco e Recife são que mantêm, de forma vigorosa, esse brinquedo”, diz Carmem. A pesquisadora irá mediar uma live, nesta terça-feira (21), às 19h, no canal do Youtube da Secretaria de Cultura de Pernambuco (Secult-PE). Os convidados são a mestra Cristina Andrade, responsável pelo pastoril Estrela Brilhante de Água Fria, e o Velho Xaveco, o mais antigo velho do chamado pastoril profano. Ambos são titulados Patrimônio Vivo de Pernambuco.

“O pastoril religioso não se modifica tanto (com o passar do tempo). Vai perdendo algumas características em função das mudanças do tempo, da inserção de outras mídias e outros atrativos. No pastoril profano, a chegada dos programas de auditório vai minguando sua atuação. No pastoril religioso, deixa de ser encenação, de estar presente no adro das igrejas e se inserindo nos autos natalinos, pelas professoras que criam nas escolas ou nas comunidades. A parte de encenação morre e fica a musicalidade e a dança. Até hoje, todos os pastoris que conheço cantam as jornadas antigas, alguns têm jornadas autorais e a musicalidade vai sofrendo alterações”, conta Lélis.

Aos 71 anos de idade, com mais de 50 anos de ciranda, a mestra cirandeira e carnavalesca Cristina Andrade é reconhecida como uma grande liderança dos folguedos e coleciona prêmios ao longo de uma vida dedicada à cultura. No ano de 2008, além de ser homenageada no ciclo natalino da cidade do Recife, lançou o CD Pastoril Estrela do Oriente, primeiro da família e também uma forma de homenagear a matriarca, Dona Dengosa.

Aos 86 anos, o pernambucano de Bezerros Antônio Coutinho é o Velho Xaveco, personagem que criou em 1978, sendo portanto o mais antigo velho de pastoril profano que se tem notícias. Antônio Coutinho teve influências dos Velhos Faceta, Futrica e Canela Seca. O Velho Faceta teve sucesso de repercussão nacional como o primeiro velho de pastoril a gravar um disco, com uma música que até hoje é sucesso na boca do povo: “Papai eu quero me casar”. Já o Velho Xaveco divulgou o pastoril profano em São Paulo, Brasília, Rio de Janeiro e Rio Grande do Norte, sendo considerado fundamental no surgimento de novos velhos de Pastoril, como Veí Lumbrigueta e Velho Cafuné.

“O pastoril é de muita necessidade, é quando se fala do nascimento de Jesus. Hoje, a boa vontade de muita gente que tem pastoril é se organizar cada vez mais. É algo maravilhoso, que não se pode perder”, diz a mestra Cristina. Ela defende que o pastoril se mantenha como uma tradição sem muitas novidades. “As jornadas do meu pastoril são as tradicionais. Tem que falar do São José, da borboleta. Meu pastoril é tradicional, de pandeiro, de meia, de Diana, de cordão vermelho e encarnado, e as jornadas são tradicionais, de autoria desconhecida”, diz Cristina.

Serviço
Live “O simbolismo do Azul e Encarnado no Pastoril”
Quando: 21 de dezembro de 2021 (terça-feira), às 19h
Transmissão: www.youtube.com/SecultPE | www.facebook.com/culturape

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