Em Portugal, Grupo São Gens comemora 15 anos de teatro periférico-marginal
Com incentivo do Funcultura, companhia realiza circulação internacional neste mês de outubro
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Edgar Machado/Divulgação

Espetáculo Narrativas Encontradas numa Garrafa Pet na Beira da Maré, do rupo São Gens de Teatro
O Grupo São Gens de Teatro completa, em 2024, 15 anos de atividades artísticas ininterruptas sobre a poética marginal e vem escoando por meio de seus espetáculos o discurso periférico-marginal por diversos Estados brasileiros. Seu atual trabalho, Narrativas Encontradas numa Garrafa Pet na Beira da Maré, já passou por São Paulo, Rio de Janeiro, Salvador, Ceará, Alagoas, Piauí, Rio Grande do Sul, além do interior de Pernambuco, em municípios como Vitória de Santo Antão, Caruaru e Garanhuns (Agreste) e Serra Talhada (Sertão).
O grupo pernambucano vem demonstrando ao longo de todos esses anos um trabalho sólido, com um comprometimento acerca da poética marginal, realizando ações que retiram os corpos periféricos-marginais da invisibilidade e conferindo protagonismo em suas histórias, como já dizia a canção de Cidinho & Doca: “Eu só quero é ser feliz, andar tranquilamente na favela onde eu nasci. E poder me orgulhar e ter a consciência que o pobre tem seu lugar”.
É nessa construção que o grupo São Gens de Teatro realiza uma circulação internacional, neste mês de outubro, em Portugal, que conta com incentivo do Governo de Pernambuco, por meio dos recursos do Fundo Pernambucano de Incentivo à Cultura (Funcultura), passando por duas cidades: Pombal (quarta-feira, dia 9, no Festival de Pombal, às 19h) e Idanha a Nova (sexta-feira, dia 11, no Festival de Idanha a Nova, no mesmo horário), desaguando a cultura periférica, onde exalta os sabores e insumos da margem e, por meio do embalo de seus ritmos, fala sobretudo da potente resiliência de seus corpos.
O grupo é formado majoritariamente por pessoas pretas, pobres, periféricas e dissidentes de gênero, que rompem os estigmas sociais, alçam voo e vão com suas histórias para Portugal. A peça é criada a partir da vivência do ator e dramaturgo Anderson Leite e sua família, na comunidade ribeirinha da Ponte do Pina, no Recife, na qual encontram a subsistência por meio da pesca de marisco e sururu.
Com as narrativas que atravessam todos que partilham daquele espaço para morada e/ou sustento, o dramaturgo dá vida a uma montagem que visa discutir temas importantes da sociedade contemporânea, tais como racismo, homofobia, violência policial na favela, solidão da mulher preta, intolerância religiosa e desigualdade social. A montagem também exalta a potência criativa da periferia, a resiliência, o povo preto brasileiro, o protagonismo da mulher preta da/na comunidade, as belezas da margem e a cultura da periferia.
A montagem busca provocar reflexões com o objetivo de suscitar que tais problemas sejam banidos do convívio social, além de provocar, por meio de suas obras, o poder público e a sociedade civil para que as narrativas marginais tenham seu espaço e desconstruam-se diversos estereótipos direcionados aos marginalizados.
O espetáculo conta com dramaturgia e encenação de Anderson Leite, que também integra o elenco junto com André Lourenço, Fagner Fênix, Hblynda Morais e Monique Sampaio. A direção musical é assinada por Monique Sampaio e Arnaldo do Monte, o figurino por André Lourenço, a operação de luz e som por Cristiano Primo e a realização e produção pelo Grupo São Gens de Teatro.