Em São Paulo, Itaú Cultural inaugura ocupação dedicada à cirandeira Lia de Itamaracá
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Renata Pires/Secult-PE/Fundarpe

Lia de Itamaracá, Patrimônio Vivo de Pernambuco e rainha da ciranda, é a grande homenageada da mostra do Itaú Cultural
Localizado numa das mais importantes avenidas da capital paulista, o Instituto Itaú Cultural promove, nesta quarta-feira (20), a inauguração da Ocupação Lia de Itamaracá. A mostra, que segue em cartaz até o próximo dia 11 de julho, conta e reverbera a história dessa artista brasileira solar, das águas salgadas e da música popular, que é um dos Patrimônios Vivos do Estado de Pernambuco, desde 2005.
A Ocupação de Lia de Itamaracá é a 55ª edição desta série do Itaú Cultural dedicada a artistas que influenciam novas gerações. A curadoria é compartilhada pela cantora Alessandra Leão, a jornalista e sua biógrafa Michelle de Assumpção e a equipe do Itaú Cultural, formada pelos Núcleos de Música e de Comunicação.
Na programação, além de um hotsite com conteúdo exclusivo sobre Lia no site da instituição (www.itaucultural.org.br/presskit/ocupacao-lia-de-itamaraca), estão previstas uma temporada de shows, apresentados presencialmente pela cantora e seus convidados no palco da Sala Itaú Cultural, e uma série de ações educativas (presencial e virtual), com mecanismos de acessibilidade.
“Usamos expressões poéticas para falar de Lia na exposição formada por três eixos chamados sal, som e sol, porque é o que ela é”, conta Michelle. “O que mais impressiona nela é sua determinação e coragem. Desde pequena, cantava tudo o que ouvia chegar em Itamaracá, onde nasceu e sempre viveu. Queria ser cantora famosa”, continua ela. “Por fim, chegou na ciranda como intérprete, quebrou os padrões da tradição da improvisação, e assim seguiu a trajetória dela”, conclui.
“Ouvir Lia cantar é uma alegria”, diz Alessandra. “A voz se transforma, a música se modifica, mas ela, Lia, segue nos conduzindo ao movimento – seja na ciranda, seja no maracatu, no frevo ou no bolero. Lia é o mar inteiro. Ouvir os seus discos é mergulhar em águas profundas”. A curadora criou duas playlists, que podem ser conferidas em QR Code no espaço expositivo: “Ela é Lia de Itamaracá” e “Vamos Cirandar”, com músicas de cirandeiros diversos.
OCUPAÇÃO
O eixo Sal revela de onde veio a Lia que chegou aos palcos. Ele trata desse território da artista, nascida na Ilha de Itamaracá, em 1944, como Maria Madalena Correia do Nascimento, que, mais tarde adotou o nome artístico Lia de Itamaracá. O espaço expositivo abriga imagens, fotografias, audiovisuais, telas e detalhes da decoração da casa da cirandeira. Ali se encontra, por exemplo, o certificado de que Lia descende do Povo Djoula, da Guiné-Bissau.
A sua música dá o tom no eixo Som. “Mostramos toda a musicalidade que é de Lia e que a perpassa, porque ela vem da tradição de um bem cultural, a ciranda, que é patrimônio imaterial do Brasil”, conta Michelle.
O país conheceu a cantora cirandeira como Rainha da Ciranda, nome de seu primeiro disco, lançado em 1977, e assim seguiu. Versátil e sincrética, em seu trajeto ela cantou no meio dos roqueiros, no Abril Pro Rock, em 1998. Em 2019 lançou o seu quarto disco Ciranda sem fim com produção de DJ Dolores. Neste trabalho, eleito um dos 25 melhores álbuns brasileiros do segundo semestre daquele ano, pela Associação Paulista de Críticos de Arte, deu um passo além da ciranda mesclando sons tradicionais a outros contemporâneos, sem perder suas referências na origem musical.
O eixo Sol é formado por diversos elementos e conquistas de Lia, que ultrapassou as barreiras do som marcando presença, também, no cinema e na moda. Em 2020, o bloco Ilú Obá de Min abriu o Carnaval de rua em São Paulo com uma homenagem a ela. No ano passado, a cantora se apresentou em show na SP Fashion Week, para uma coleção inspirada em obras do artista pernambucano Francisco Brennand.
Entre 2003 e 2019, ela participou em pontas ou como personagem em pelo menos seis filmes. Um deles, foi o curta-metragem “Recife Frio”, dirigido pelo pernambucano Kleber Mendonça. Desse diretor, ela também participou de outro filme, o célebre “Bacurau”, de 2019, no papel de Dona Carmelita, uma espécie de guardiã do lugar. Ainda, ela foi personagem principal do curta-metragem documental “Formiga Come do Que Carrega’, do diretor Tide Gugliano. Fez, também, uma participação especial no premiado longa-metragem “Sangue Azul”, sob a direção de Lírio Ferreira, em 2014.
Todo esse percurso a levou a ser considerada Patrimônio Vivo de Pernambuco e a receber um bom número de homenagens, como a Ordem do Mérito Cultural, pelo Ministério da Cultura, e o título de Doutora Honoris Causa da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), pelos serviços prestados à cultura do Estado e do Brasil.
Não falta, neste eixo, a representação de marcas registradas da cantora: os seus vestidos, nos quais predomina o azul, acessórios e as unhas pintadas de cor escura com desenhos minúsculos, como bolinhas.
Também se vê ali outros aspectos da vida de Lia, que coloca sua arte a serviço de pautas de movimentos populares, como a sua ligação com a Marcha pela Vida das Mulheres e pela Agroecologia. Ainda, encontra-se neste eixo passos de uma artista que circula por outras rodas e territórios da cultura, como quando recebeu e dançou com o povo Fulni-ô, grupo indígena que habita próximo ao rio Ipanema, no município de Águas Belas, em Pernambuco.
Por fim, toda a exposição é permeada por sons que remetem à ciranda e ao mar de Lia. Indiretamente, a mostra homenageia, ainda, outras mulheres: Dona Duda, “mãe” da ciranda, e as irmãs Baracho – Severina (Biu) e Dulce Baracho, filhas de Antônio Baracho da Silva (1907-1988), conhecido como mestre e rei cirandeiro, a quem se atribui a popularização do gênero, também celebrado nesta Ocupação.
Serviço
Ocupação Lia de Itamaracá
De 20 de abril a 11 de julho de 2022
Visitação: terça-feira a sábado, das 11h às 20h; domingos e feriados, das 11h às 19h
Onde: Itaú Cultural (Avenida Paulista, 149 – Bela Vista, São Paulo – SP), próximo à Estação de Metrô Brigadeiro
Ingressos gratuitos
Informações pelo telefone: (11) 2168-1777