Entrevista com Jessier Quirino
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Jessier Quirino se diz um poeta com humor, um matuto por convicção, mas se sente meio encabulado fora dos palcos. Antes de tudo é um prestador de atenção e um admirador da cultura sertaneja. Na entrevista concedida ao nosso blog, suas respostas cheias de alegoria parecem ter cadência de poesia, revelando sua paixão pela palavra.
Durante o CLISERTÃO, o poeta fará uma apresentação no Auditório da UPE na quinta-feira (17.05), às 20h30.
CLISERTÃO – Humorista com verve poética ou um poeta com humor? Onde você se encaixa, se é que se encaixa?
Jessier Quirino - Prefiro a assinatura do poeta com humor. Talvez seja mais apropriado por conta do trabalho livresco e por conta do meu jeito reservado fora do palco, assim meio encabulado. Faço, na realidade, uma poesia alegre feito um zoológico sem dragão, mas dou meus voejos na beira do lirismo, saudosismo e tudo mais. Esse tobogã de palavras faz parte do espetáculo.
CLISERTÃO – Você diz que se inspira em nomes como Zé da Luz e Zé Laurentino, ambos autênticos matutos. “Arquiteto por profissão, poeta por vocação, matuto por convicção” é algo que você evoca sempre. O que é ser matuto? Como surgiu sua convicção?
Jessier Quirino – O poeta Zé da Luz influenciou muito Zé Laurentino e ambos são meus professores. Bebo na fonte deles em busca de uma realidade poética da alma sertaneja e interiorana que até nem existe mais. A partir deles e outras pesquisas procurei imprimir um estilo próprio que é hoje a marca quiriniana. A referência ao matuto, diria que é uma homenagem aos valentes sertanejos, verdadeiros doutores de pé no chão. Ser matuto é um estado de espírito.
CLISERTÃO – A declamação e a apresentação em público, acompanhado por música, parece ser algo essencial para a sua poesia. Sempre foi assim?
Jessier Quirino - Comecei a defender minha poesia a golpes de declamações fazendo um espetáculo solo de forte apelo teatral. Depois introduzimos um fundo musical solene e respeitoso à declamação (isto, para alguns formatos de grande público), e agora retomamos ao ato declamatório solo. A música, no entanto, é uma extensão da minha poesia, até por que tenho canções autorais gravadas por mim e por outros, mas, no momento, tenho feito o recital sozinho feito boi de arado.
CLISERTÃO – Você sente que cuida de uma tradição?
Jessier Quirino - Moro numa cidade pequena – Itabaiana PB – há pelo menos 29 anos, isto, sem falar nas andanças de juventude pelos sertões da Paraíba. Sou um prestador de atenção contumaz da cena interiorana e procuro transmitir isto na minha obra. No entanto essa carga de responsabilidade de zelo pela oralidade me foi dada aos poucos, e hoje,cada palavra que escrevo é lavada em sete águas (feito fava brava) isto com respeito às nossas tradições.
CLISERTÃO – O arquiteto por profissão influencia o poeta?
Jessier Quirino - Pra essas coisas da arte, sou eu e Torre de Pisa, sempre tive inclinação. Sempre trabalhei como desenhista e acredito que os pequenos detalhes das narrativas vem muito do senso de observação do Quirino arquiteto. Hoje, por conta da atividade artística, não tenho muito tempo pra me debruçar na prancheta com projetos de arquitetura, mas há algum tempo fazia muito isso, a exemplo da concessionária Bari de Petrolina, projeto de minha autoria, desenvolvido na década de 90.
CLISERTÃO – Como você vê a produção do vale do São Francisco? Destacaria algum nome?
Jessier Quirino - Vejo de forma exuberante, tanto a produção artístico-cultural que vem das tradições com viés de navegação; Samba de Veio de beira de rio; passando por Ana das Carrancas e tudo mais, até às produções musicais de um Maciel Melo, por exemplo, que tem um pé em Petrolina, e faz parte da minha compadragem. Vi agora recentemente o DVD de Geraldo Azevedo Salve o São Francisco que é um hino e uma louvação ao Vale, uma obra emocionante e bela. Isto sem falar na produção agrícola de exportação que é coisa de primeira plaina.
CLISERTÃO – O que as pessoas podem esperar do seu show em Petrolina?
Jessier Quirino - Fazemos um espetáculo ligado essencialmente à palavra. À palavra baldia (dessas de meio de feira), palavras bem achadas, palavras faladas com inflexão e gosto;historinhas da ponta da unha distas em voz declamada ou na contação de causos. É uma conversa de alpendre poética e bem humorada. São aconcheganças brejeiras ou guaribagem e meia-sola no oco do coração.
