Espetáculo Ombela resgata ancestralidade africana
A montagem tem incentivo do Prémio Funarte de Teatro Myriam Muniz
Postado em: Artes Cênicas
O grupo de teatro O Poste Soluções Luminosas, na busca de sua poética pela ancestralidade dentro da cena contemporânea, mergulha no universo do escritor africano Manuel Rui, com a montagem teatral do seu poema épico Ombela – chuva em português, que está em cartaz neste mês de novembro na sede da companhia pernambucana, sediada às margens do Capibaribe, na Rua da Aurora. Envolto numa espécie de atmosfera mágica, o espetáculo provoca reflexões étnicas a respeito da cultura africana no Brasil, ao mesmo tempo que resgata a poesia que, de certa forma, foi deixada de lado no teatro.
Sob o comando do diretor Samuel Santos, as atrizes Agrinez Melo e Naná Sodré encarnam no palco duas gotas de chuva que se transformam em entidades. E é, através dessa personificação, que as personagens inventam rios e desdobram-se ao som do vento e, a cada gota, fazem nascer ou morrer coisas, gente e sentimentos. “Assim como os seres humanos, que enfrentam várias transformações ao longo de sua trajetória pela terra, as formas variadas que assumimos no espetáculo, utilizando a água como mote, servem para despertar na plateia o resgate de sua ancestralidade e também para questionar: quem somos nós e para onde vamos?”, diz Naná sobre o enredo da peça.
A montagem, inédita em solo brasileiro, é interpretada em português e, em algumas partes, em umbundo – um dos principais dialetos de Angola, país de origem do autor do texto que deu origem ao espetáculo. “Fizemos questão de manter na dramaturgia a presença dessa língua banta falada pelos ovimbundos das montanhas centrais angolanas, não só pela intensidade ritímica e linguística que confere à encenação, como para nos aproximarmos ao máximo dessa cultura [africana] que nos é tão familiar”, afirmou Sodré.
Outra grata surpresa de Ombela é a trilha sonora. Composta pela cantora pernambucana Isaar França - que traz no seu trabalho uma relação profunda com o elemento água, toda sonoridade da peça é executada ao vivo, tocada e cantada pelas atrizes do elenco. ”Issar nos preparou pessoalmente e fez-nos buscar sons alternativos que remetem à condição de reservatório ou armazenamento de água, como moringas, cabaças, jarros, marimbau, chocalho, que, cenicamente, ajuda-nos a construir essa síntese poética da transformação dos sentidos da vida, através dos pingos da chuva”, finalizou Naná Sodré. O espetáculo ficará em cartaz até o final de novembro (aos sábados e domingos, às 20h), na sede do grupo teatral.
Veja um teaser da montagem:
Ombela – Teaser from Combo Multimídia on Vimeo.
O Poste Soluções Luminosas
Fundada em 2009, a companhia é formada atualmente por Agrinez Melo, Naná Sodré e Samuel Santos. Da necessidade de realizar pesquisas, treinamento, formação e apresentação de seus próprios espetáculos, o grupo inaugurou recentemente, às margens do rio Capibaribe, sua sede. Com capacidade para 60 pessoas, o Espaço Poste é de caráter alternativo, sem palco fixo – um dos pontos caraterísticos do ambiente, pois coloca o artista e o espectador no mesmo plano – e todo revestido com madeira. Além da encenação de peças, a casa possui uma série de atividades regulares, que inclui oficinas para atores e bailarinos.
Serviço
Espetáculo Ombela
Local: Espaço O Poste, localizado Rua da Aurora, 529 (próximo à Secretaria de Defesa Social – Polícia Civil, esquina da Aurora com Princesa Isabel)
Data: 15, 16, 22, 23, 29 e 30/11
Horário: 20h
Classificação: 16 anos
Ingresso: R$ 20 (inteira) e R$ 10 (meia-entrada)
