Fim de Feira redimensiona o forró em “Bomba Cordão”
O DVD ao vivo do grupo celebra 10 anos de uma trajetória marcada pelo diálogo entre a musicalidade nordestina e suas possibilidades de interação com outras vertentes musicais
Postado em: Audiovisual | Música
por Leonardo Vila Nova
“Onde tem forró, tem festa”! Disso, ninguém duvida. E o grupo Fim de Feira levou a sua festa para o DVD. Bomba Cordão é o nome do novo trabalho do grupo, lançado recentemente, e traz uma banda que consegue dialogar, com despojamento e pura energia, tanto com a musicalidade tradicional nordestina quanto com referências diversas da música pop. O resultado é, sim, uma grande festa, onde a alegria transborda pela tela.
Apesar de ter sido lançado em 2015, Bomba Cordão é um registro de 2014, ano em que o Fim de Feira completou uma década de estrada. Aprovado pela Lei Rouanet, o DVD conta com a direção de Léo Crivellare e uma grande equipe em sua produção, num show realizado na casa de shows Estelita. Tudo para fazer chegar ao espectador o clima de pura festa que a banda faz do palco. “Queríamos fazer um trabalho bacana de áudio, fotografia, direção, material gráfico. Na verdade, esse cuidado é algo que a gente sempre procurou ter em nossos discos, mas faltava aquela coisa da energia da banda ao vivo. Daí foi que surgiu a ideia do DVD”, conta Bruno Lins, vocalista e compositor do grupo.
O DVD traz 14 faixas, compilando canções dos dois álbuns da banda – A revolução dos Pebas (2008) e De todo jeito a gente apanha (2013) – mais uma versão de Pagode Russo, clássico de Luiz Gonzaga. Bomba Cordão celebra a trajetória de um grupo que consegue reunir, numa mistura fina, referências às tradições nordestinas – a exemplo do coco, do maxixe, arrasta-pé, baião – com pitadas elegantes de outras vertentes musicais, como o jazz, o rock, o fox-trote, entre outros. Na letra de Aos mestres, Luiz Gonzaga, Jackson do Pandeiro, Zabé da Loca estão no mesmo patamar de Bob Dylan, Jimmi Hendrix e Elvis Presley. É bem essa a cara do Fim de Feira!
“Quando começamos, a gente era, basicamente, uma banda de forró. E essas referências da musicalidade e da poesia do Sertão do Cariri paraibano e do Pajeú pernambucano forjaram nossa identidade ao longo de todos esses anos. Só que cada integrante também trouxe sua pegada para sonoridade da banda. Eu, particularmente, sou aficionado pelos Beatles e pesquisador da obra de Bob Dylan. Tonzinho trouxe coisas do choro. Márcio é um baterista de jazz. Então, explorar as possibilidades da nossa música tradicional, a partir dessa linguagem contemporânea, foi algo que nos permitiu criar itinerários diferenciados pra nossa música”, explica Bruno. Esse diálogo de referências também está presente no conceito gráfico do DVD, baseado nas ilustrações de Caramurú Baumgartner, que também dividiu a cenografia do show com Emerson Calado. O que se vê são alusões à bomba cordão (fogo de artifício tradicional do período junino) e motivos nordestinos, envoltos por signos da pop art. Todo o trabalho pode ser conferido no encarte do DVD e no cenário que compõe o show.
Algumas músicas do DVD são intercaladas também por poesias recitadas por Bruno. Também calcadas na tradição da oralidade nordestina, do universo dos repentistas e cantadores. “Estão presentes recitais de Manoel Filó, Pinto do Monteiro, que são referências poéticas muito fortes na nossa história. É um show dançante, mas é também um show contemplativo, onde trazemos a cordel dos repentistas do Sertão de Pernambuco e da Paraíba”, pontua.
Os convidados são um capítulo à parte. Em Bomba Cordão, o Fim de Feira está bem acompanhado por Cláudio Rabeca (Seu João), a dançarina Bella Maia (Eu danço para você e você canta pra mim), Clayton Barros (De partida) e a belíssima participação da Banda de Pífanos Zé do Estado (Canto pra Lua), cereja do bolo que vem endossar e coroar o sincretismo musical que a Fim de Feira lança mão em seu trabalho.

