Pular a navegação e ir direto para o conteúdo

O que você procura?
Newsletter

Notícias cultura.pe

Fundarpe inicia registro de quatro bens como Patrimônio Cultural Imaterial do Estado

Equipe trabalha na produção de inventários sobre Bacamarte, Festa de Nossa Senhora do Carmo, Bonecos Gigantes de Belém do São Francisco e Práticas Socioculturais Associadas à Manta da Carne de Bode e de Carneiro de Petrolina

Renato Spencer/Santo Lima

Renato Spencer/Santo Lima

Zé Pereira e Vitalina simbolizam o Carnaval da cidade de Belém de São Francisco, no Sertão

A Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico de Pernambuco (Fundarpe) deu início ao processo de registro de mais quatro bens culturais do Estado. O órgão trabalha na produção de levantamentos sobre os Bonecos Gigantes de Belém de São Francisco – Zé Pereira e Vitalina, a Festa de Nossa Senhora do Carmo (Recife), a Produção Artesanal e Práticas Socioculturais Associadas à Manta da Carne de Bode e de Carneiro de Petrolina, e um estudo envolvendo o Bacamarte.

Os processos agora seguem para a etapa de Instrução Técnica, que compreende a elaboração de inventário sobre os respectivos bens culturais, além da articulação direta com pesquisadores, detentores e gestores públicos em fóruns e seminários, os quais discutirão estratégias de salvaguarda adequadas.

Em dezembro de 2021, foram oficialmente abertos os processos de Registro dos Bonecos Gigantes de Belém de São Francisco – Zé Pereira e Vitalina e da Festa de Nossa Senhora do Carmo, ambos requeridos pela Assembleia Legislativa do Estado de Pernambuco (Alepe).

Já em fevereiro deste ano foram finalizados os estudos que subsidiaram a abertura dos processos de registro da Produção Artesanal e Práticas Socioculturais Associadas à Manta da Carne de Bode e de Carneiro de Petrolina, esse também a partir de requerimento da Alepe, e do Bacamarte no Estado de Pernambuco, por meio de requerimento da Sociedade de Bacamarteiros do Cabo (Sobac) e da Associação de Bacamarteiros de Caruaru e Região.

Após a conclusão das pesquisas e composição dos respectivos dossiês, a Fundarpe elaborará relatório final que deverá ser encaminhado pela Secretaria de Cultura de Pernambuco (Secult-PE) ao Conselho Estadual de Preservação do Patrimônio Cultural (CEPPC), para a deliberação final sobre o Registro nos respectivos Livros de Registro do Patrimônio Cultural Imaterial do Estado. O estudo vem sendo feito pela equipe da Gerência de Preservação do Patrimônio Cultural da Fundarpe.

Bonecos Gigantes de Belém de São Francisco – Zé Pereira e Vitalina

A criação das figuras de Zé Pereira e Vitalina marca, em Pernambuco, a introdução dos bonecos gigantes ou calungas no contexto das celebrações carnavalescas. Os dois são ícones da folia no Sertão de Itaparica.

Zé Pereira, o primeiro boneco gigante do Estado, nasceu em Belém de Cabrobó (como era chamado Belém de São Francisco) em fevereiro de 1919 pelas mãos do jovem folião e artista Gurmecindo Pires de Carvalho. A iniciativa foi financiada por Deoclécio Lustosa de Carvalho.

Dez anos depois, ele decidiu criar Vitalina, a companheira de Zé Pereira. O “casamento” das duas figuras ocorreu num Domingo de Carnaval, com a presença de diversos foliões fantasiados. Gurmecindo contou com a ajuda de José Duarte Lima, na modelagem; Luiz Borges (Luiz de Tomásia), pintura; e Nenzinha, na confecção das mãos e roupas.

A criação de Zé Pereira e Vitalina introduziu no estado a tradição dos Bonecos Gigantes, no contexto das celebrações carnavalescas. As calungas são ícones do carnaval no Sertão pernambucano, destacando-se na região do Sertão de Itaparica.

Festa de Nossa Senhora do Carmo

As primeiras menções à Festa do Carmo aparecem no jornal Diario de Pernambuco, a partir de 1832. De lá até os dias atuais, os registros mostram a importância da celebração para o Recife e seu entorno, num misto que integra o sagrado e o profano.

A partir dos anos 1970, os jornais locais começaram a registrar a vinculação da festa carmelita com Oxum, orixá feminina das águas doces, do ouro e da fertilidade. Hoje, as celebrações acontecem em julho também nos terreiros de candomblé e nos centros de umbanda da capital.

Registro da Produção Artesanal e Práticas Socioculturais Associadas à Manta da Carne de Bode e de Carneiro de Petrolina

A manta de carne de Petrolina – e suas nominações variantes como manta da carne de caprinos e ovinos; manta da carne de bode e carne retalhada – é um sistema que compõe as técnicas de manejo e de manteação (abate, tratamento, salga, secagem) no preparo de carnes de caprinos e ovinos, resultando em tradicionais pratos da gastronomia sertaneja como o bode assado.

A manta de caprino e ovinos de Petrolina se difere de outras produzidas em outras regiões do Estado e do Nordeste em virtude de condições físico-químicas que afetam os animais e, consequentemente, a estrutura e sabor da carne.

A obtenção da manta da carne de bode e de carneiro de Petrolina depende da habilidade e do conhecimento do manteador em fazer a desossa, e em deixar a carne na espessura ideal para ser salgada e posteriormente submetida à secagem.

Os processos socioculturais ligados à transmissão dos saberes de forma geracional familiar permitem a manutenção deste ofício, fundamental para o resultado no preparo adequado das mantas de carne conhecidas, na região do Submédio São Francisco, tendo maior visibilidade e consumo no município de Petrolina.

Bacamarte no Estado de Pernambuco

Embora não haja precisão na data que nasceu a tradição dos bacamarteiros de festejar e atirar em diferentes comemorações ao longo do ano, a versão mais difundida sobre a origem dos batalhões é que teriam surgido após a ocorrência da Guerra do Paraguai (1865).

Em Pernambuco, segundo a história oral e a pesquisa do acadêmico e folclorista Olímpio Bonald Neto, a tradição do Bacamarte remonta ao final do século XIX, quando em 1898 formou-se o Batalhão 333 de Caruaru, existente até hoje.

Pode-se afirmar que há em Pernambuco mais de uma centena de grupos de Bacamarte distribuídos nas quatro regiões do Estado, e que existe aproximadamente 3 mil bacamarteiros ativos (entre artesãos, atiradores, apoiadores), que realizam encontros em sítios, e até mesmo em locais urbanos, com o intuito de festejar e atirar com o bacamarte.

Uma das características das tradições do Bacamarte é sua estreita relação com os festejos aos santos juninos com acolhimento, missas do bacamarteiro, cortejos, linhas de Tiros, alimentação e bailes animados por bandas cabaçais ou trios de forró.

Como funciona o processo de registro do Patrimônio Cultural Imaterial?

Pessoas físicas, entidades culturais, as câmaras de vereadores e a Assembleia Legislativa de Pernambuco podem apresentar requerimento de registro de saberes tradicionais, expressões culturais, formas de expressão e outros bens culturais de natureza imaterial no estado.

O Registro do Patrimônio Cultural Imaterial (instituído pela Lei nº 16.426, de 27 de setembro de 2018), tem como objetivo o reconhecimento de bens como Patrimônio Cultural do Estado, além de promover meios que garantam a sua preservação e salvaguarda.

Os requerimentos devem ser direcionados para a Secretaria de Cultura do Estado (Secult-PE) e necessitam conter: identificação do requerente, descrição nominal do bem cultural, informações históricas e atuais, documentos e registros (textos, fotografias, vídeos, etc.) e a indicação de quem são os praticantes desses bens culturais.

< voltar para home