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Lira amplia a janela de experimentação em novo disco

Caroline Bittencourt

por Leonardo Vila Nova

O labirinto são nossas construções… o desmantelo, nossos sonhos e devaneios… ”, é assim que resume Lira o conceito do seu segundo álbum solo, O labirinto e o desmantelo, disponibilizado, recentemente, na plataforma Deezer, para streaming. Um disco onde José de Paes Lira (que já foi Lirinha e, agora, assina Lira) busca empreender, com mais afinco, desafios a si mesmo: com isso, ganham força neste novo trabalho o compositor, o intérprete e o criador estético. Lira lança O labirinto e o desmantelo no Recife, nesta sexta (15), no Baile Perfumado. Também se apresentam na noite as bandas Bixiga 70 (SP) e Tagore (PE). Ouça AQUI o disco.

O álbum disponibilizado na internet conta com 10 músicas (a versão física do disco contará com mais uma faixa, inédita) e teve a produção de Pupillo (Nação Zumbi), que se tornou, segundo Lira, o seu grande parceiro musical desde sua primeira incursão solo, Lira (2011). No novo disco, Lira aprimora algo que vem exercitando desde os tempos do Cordel do Fogo Encantado e que ficou mais evidente quando se lançou solo: a busca por uma linguagem artística própria, seja musicalmente ou poeticamente. “Essa busca por uma expressão original, sempre caracterizou meu trabalho. Costumo dizer que procuro fazer algo que ninguém nunca fez, mas sabemos que é impossível. Um trabalho artístico é, inevitavelmente, resultado de influências que recebemos, e que são transformadas por nossos filtros e subjetividades. Então, o que me interessa não é o objetivo do original, mas a busca em si, que é colocar a minha música e minha poesia de forma pessoal”, conta.

O labirinto e o desmantelo foi gestado durante dois anos e é resultado dessa busca pela propriedade do fazer artístico, que Lira costuma colocar sempre como um desafio para si mesmo. As letras das músicas estão em primeira pessoa, o que evidencia esse papel de protagonista dentro do seu próprio lirismo. E, agora, desabrocha com mais ênfase o lado cantor de Lira, que procura passear pelas melodias bem mais do que declamar. “Tive desafios enormes de interpretação nesse disco. Era algo muito distante do que eu imaginava quando comecei. Essas músicas que compus na rua, em casa… com algumas coisas que eu tinha certa dificuldade em executar. Daí, tive que ir pro estúdio pra interpretá-las. A minha própria música me deu esse desafio. Essas canções me exigiram um novo Lira”, declara.

Gravados nas cidades do Rio de Janeiro, São Paulo e Recife, o novo álbum permitiu a Lira também se aprofundar na experimentação estética. O labirinto e o desmantelo apresenta uma maior variação de nuances em sua sonoridade. Resultado das diversas participações no disco. “No primeiro disco, montei uma banda especialmente para fazê-lo. Eram músicos que eu acompanhava do Devotos (Neilton), Mundo Livre (Bactéria) e Nação Zumbi (Pupillo) e que eu admirava. Dessa vez, cada música ganhou um arranjo próprio, com convidados específicos para o que cada música pedia”, explica. Participam do disco o pianista Vítor Araújo, Astronauta Pinguim, Silva, Thiago França, Chuck Hipólito, Dustan Gallas e Régis Damesceno (ambos do Cidadão Instigado), Pedro Midielli, Guri Assis Brasil e Walter Areia.

Dentro dessa “casa labiríntica de múltiplos centros e caminhos” e imerso “no fantástico sonho do desmantelo e o desconcerto das muralhas”, imagens que permeiam o conceito do disco, Lira procurou, antes de mais nada, mergulhar o mais profundamente dentro de si e ousar experimentar além dele próprio. “Procuro desenvolver uma arte de forma mais livre possível. Temos que ser íntegros nesse fazer. Não acredito numa arte em que exista limites em sua feitura, em sua criação. Os limites são pós (no que diz respeito ao mercado, ao alcance desse trabalho). Mas o momento de criação tem que ser o mais livre possível. E foi essa minha busca e sempre foi a minha fortaleza”, explica.

Sobre ser o seu segundo disco solo, Lira exalta a sua importância desse trabalho como chancela do seu papel artístico. “Ele tem uma função de afirmação. É um momento de mostrar a base fincada, o território de criação assegurado. Ele funciona como uma afirmação dos trabalhos anteriores. O melhor é que além de ele afirmar, ele aponta novos caminhos, aponta pro futuro”, exalta.

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