Lorde Jimmy inaugura sua nova exposição no Recife
Com incentivo do Funcultura, mostra ficará em cartaz no Sesc Santo Amaro até o dia 10 de novembro, com visitação aberta ao público
Postado em: Artes Visuais | Funcultura
O Sesc Santo Amaro sedia até o dia 10 de novembro a exposição individual “O Sublime Obscuro: Narrativas do Inconsciente Grotesco”, que apresenta um recorte da produção do ilustrador pernambucano Lorde Jimmy, com curadoria de Enrique Andrade. A mostra reúne mais 30 ilustrações de dimensões variadas e técnicas diversas (lápis, carvão, bico de pena, óleo e guache), uma escultura de personagem e fragmentos de um curta-metragem de animação stop motion, que revelam aspectos da poética visual do artista. O projeto conta com patrocínio do Governo do Estado de Pernambuco, por meio do Funcultura.
Lorde Jimmy utiliza do imaginário mítico comumente presente nos contos de fadas, dos séculos 17, 18, 19 e 20, para construir narrativas fantásticas e absurdas em cenários obscuros, usando a estética do grotesco. A construção das ilustrações vem do traço característico em bico de pena e lápis do Ilustrador, entre o preto e branco, que usa o gótico para basear seus universos oníricos.
As construções de narrativas baseadas em contos de fadas assumem importância simbólica e norteiam o desenvolvimento da exposição, levando o autor a cumprir um dos seus objetivos, que é a de gerar discussão acerca da ressignificação dos temas abordados, pois o sentido de contos de fadas é usado pelo artista em sua totalidade, apresentando temas que levam a uma evolução pessoal. Seguindo essa ideia, outros temas são trazidos para agregar mais camadas às narrativas, como a depressão, solidão, angústia e a morte, questões frequentes na obra do artista.
Vale ressaltar que o sentido de contos de fadas abordado não faz referência às produções atuais, muitas vezes, vazias de conteúdo, nas quais apenas imagens agradáveis e otimistas são apresentadas às pessoas mais jovens. Diferente disso, o artista reconhece o real sentido dos contos de fadas de montar um conteúdo simbólico, apresentando honestamente algumas dificuldades humanas básicas.
É importante pontuar também as influências regionais do artista, que nasceu e viveu no Sertão de Pernambuco, onde teve acesso a várias experiências e imaginário desse território. A composição obscura dos cenários desenvolvidos nas imagens tem ligação com o exagero da visão infantil e suas experiências ligadas às lendas contadas pelas crianças nas fazendas do interior pernambucano.
As imagens pretendem encarnar a dramaticidade desse ambiente rico em mística e mitos, ao mesmo tempo em que dialogam com outras influências que participam da construção do imaginário do artista, tais como Victor Hugo, Mary Shelley, Edward Lear, Edward Gorey, Tim Burton, John Kenn Mortensen, Gustave Doré, Albrecht Durer, Goethe, entre outros.
Junto às ilustrações expostas, também serão exibidos trechos de contos e estudos preliminares que integraram o processo criativo do artista, revelando ao público seu percurso de construção visual.
Haverá também a apresentação de fragmentos do curta-metragem de animação stop motion “O Guia e as Crianças Perdidas”, que se encontra em desenvolvimento. Protagonizado pelo personagem “O Guia”, o curta é conduzido por uma narrativa tragicômica e nonsense em meio a cenários obscuros. A história apresenta a figura grotesca do personagem principal como o fio condutor da trama. O Guia é incumbido de resgatar crianças perdidas nesta realidade soturna, mas tem sua missão mal sucedida pelo fato delas fugirem com medo, devido à sua aparência bizarra. Assim, consequentemente, essas crianças acabam desaparecendo.
As ilustrações não estarão apenas em molduras expostas na parede. Elas compõem a ambientação de uma grande cenografia que dialoga com o conceito das obras: o escritório da casa de um artista, um dos personagens das ilustrações. Foram feitas parcerias com alguns antiquários do Recife, que cederam peças para a composição do cenário, como mobiliário e diversos objetos de decoração. Itens históricos da coleção particular do artista também estarão presentes no cenário.
Algumas das ilustrações expostas mostram grandes cenários. Em uma delas, está um velhinho, numa casa cheia de peças. Várias delas estarão presentes fisicamente no cenário da exposição. Haverá uma lupa para que o público procure nos quadros algumas peças expostas, como uma cartola que aparece escondida em quase todos os quadros.
O traço do ilustrador Lorde Jimmy difere em certo ponto das demais produções conhecidas regionalmente e expande a estética local ao mostrar que a produção cultural de Pernambuco existe para além dos estilos mais tradicionais. É importante que estilos regionais já reconhecidos ganhem cada vez mais espaço nos cenários culturais, perpetuando-se para as futuras gerações. No entanto, igualmente importante, é estimular a produção cultural local que fuja do âmbito ao qual a maioria do público está habituado, a fim de mostrar uma diversidade multicultural de expressões artísticas e leituras das tão diversas realidades artísticas pernambucanas, além de estimular formas plurais de produção no Estado.

