Mamam abre a mostra coletiva “Isto é um roçar de mãos?”
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“Isto é um roçar de mãos?” é a nova exposição coletiva no Aquário Oiticica, sediado no Museu de Arte Moderna Aloisio Magalhães (Mamam). Prevista para o dia 2 de julho, das 12h às 17h, a inauguração da mostra reúne os trabalhos dos artistas Kaísa Lorena, Mitsy Queiroz e Sumaya Nascimento que, a partir de reuniões iniciadas em janeiro deste ano, apresentam 23 obras-híbridas, nas quais a mistura de linguagens, processos criativos, afetos, materiais, técnicas, suportes e conceitos serviram enquanto mote expositivo. Após a inauguração, a mostra colaborativa fica aberta para visitação até 30 de julho, de terça-feira a sábado, das 12h às 17h. Ao todo, somam-se 23 obras, entre elas, 12 fotografias, uma instalação, 4 esculturas e 2 livros-objetos.
A exposição contou com a curadoria de Guilherme Moraes, editor da Revista Propágulo e pesquisador no Programa Associado de pós-graduação em Artes Visuais da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), e Ana Gabriella Aires, professora, escritora e pesquisadora associada ao Programa de Pós-Graduação em Literatura Comparada da Universidade Federal da Integração Latino-Americana (UNILA). Em conjunto, a dupla de co-curadores atuou enquanto testemunhas, ouvintes e conversadores dentro dos encontros, contribuindo com interrogações e observações que se transformavam, gradativamente, em debates metalinguísticos sobre os processos de curadoria, socialização e criação coletiva desenvolvidos ao longo dos últimos seis meses.
“Isto é um roçar de mãos?” foi incentivado pela Prefeitura do Recife, por meio do edital de fomento à cultura Recife Virado, e é um desdobramento da pesquisa de Mestrado de Kaísa, intitulada “O entretecer estético-político para criação poética de imagens híbridas: um estudo teórico e prático de criar em rede tecendo junto a corpos dissidentes”. Dentro da pesquisa, a artista-proponente da mostra pretende investigar processos criativos dentro de dinâmicas de criação em rede, herança de uma auto-observação: “comecei a pensar sobre como era mais estimulada a criar quando estava com outras pessoas”, explica em uma das reuniões.
Partindo da observação da bricolagem como forma de produção, isto é, um trabalho manual feito de improviso e que aproveita materiais diferentes, o ponto de partida para a reunião dos três artistas foi o ato de entretecer, que significa vamos tecer juntos. Por isso, durante o período de imersão, os artistas compartilharam uma espécie de diário de campo coletivo, em que foram estimulados a incorporar o imprevisível dos percursos de produção artística ao diálogo e dinâmicas de produção construídas entre eles em cada encontro.
“Pudemos ver Mitsy Queiroz, artista e arte-educador, desafiar suas colegas a partir de produções suas, solicitando, para o encontro seguinte, a realização de imagens fotográficas arranjadas em frase. Em um encontro seguinte, após a socialização e conversa sobre o exercício posto por Mitsy, a artista Sumaya Nascimento foi propositora de uma nova partida que se sucederia: cada um dos outros dois artistas deveria, em uma semana, apresentar-lhe uma produção tridimensional. Desses entrecruzamentos foi-se criando um processo de socialização de inquietações e vontades relativas a cada investigação individual em curso, como também sendo propostos, paulatinamente, pontos de contato e contaminação entre poéticas dispostas a se parearem no espaço-tempo desta ação”, explicou Guilherme Moraes no comentário curatorial da exposição.
A exposição “Isto é um roçar de mãos?”, pergunta retirada do poema de Carlito Azevedo, crítico e poeta brasileiro, não deve ser pensada enquanto produto final, mas enquanto processo de constante construção. “As reuniões foram momentos de andanças em direção aos outros”, escreve Euana, autora do texto curatorial. “Entretecidos entre si e entre as obras – que em dado momento têm a autoria contaminada – ficamos todos. Como não ficar, no aqui e no agora? [...] Eis, pois, a mostra de diálogos, afetos, a mostra do contato que para acontecer sempre tiveram e continuam tendo os próprios afetos enquanto guia, um roteiro errante”, pontua em outro trecho.
Sobre os artistas
Kaísa é artista visual e pesquisadora. Nascida em Aracaju, vive e trabalha em Recife. Sua pesquisa artística atualmente investiga processos de criação em rede, a partir de práticas colaborativas, utilizando o caderno de artista compartilhado como dispositivo para registro e socialização desses processos criativos coletivos. Mestranda (2021) em Artes Visuais pelo PPGAV UFPE/UFPB. Especialista (2019) em Fotografia e Audiovisual pela UNICAP. Graduada (2018) em Publicidade e Propaganda pela UFPE. Atuou como arte-educadora no Museu Paço do Frevo (2019-2020). Realizou a Exposição Individual Mulheres: Corpo Afora (Centro Cultural Correios Recife, Recife, 2018) e participou de diversas exposições coletivas, dentre elas: Confluências (Hotel Globo, João Pessoa e Museu Murillo La Greca, Recife, 2022); Tramações (Galpón Gráfico, Argentina, 2020); Quarentena Projetada (Instituto Moreira Salles e Mídia Ninja em 5 estados do Brasil, 2020); Propágulo 3 (Galeria Capibaribe e Museu Murillo La Greca, Recife, 2019).
Mitsy Queiroz é artista-pesquisador Mestre em Artes Visuais e pedagogo, interessado no corpo a corpo com a fotografia e no mergulho das epistemologias e ontologias que negam o projeto de modernidade baseado no espaço-tempo linear, no binarismo entre mente/corpo e no controle dos corpos nas questões de raça e gênero. Reflete em sua dissertação o sobre o atravessamento do tempo em programações fotográficas que encarnem a experiência do corpo trans no mundo. E desde a condução metodológica do seu gesto fotográfico, tem pensado as temporalidades curvas, a percepção de corporalidades em transformação e os encantamentos de uma cosmovisão afro-indígena. Suas participações mais recentes são no projeto de residências artísticas SESC Confluências 2018-2019; nas feiras SP-Arte e SP-Foto 2020; o filme “Primeiras Contrações” na plataforma Práticas Desviantes; texto e vídeo arte “Domingo de packer e calcinha” no projeto Salivas; artista convidado para Revista Propágulo edição 7 impressa e a participação no programa “Atos Modernos” de comissionamento de obra pela Coleção Ivani e Jorge Yunes com a Pinacoteca de São Paulo desenvolvendo a pesquisa “As Ilhas do Pina”.
Sumaya Nascimento, nasceu em 1994, na cidade do Conde, no estado da Paraíba. Vive e trabalha em Recife. A artista transdisciplinar é formada pelo Instituto Federal de Pernambuco (IFPE) no curso técnico de Artes Visuais. Também cursou publicidade e propaganda na AESO, mas não concluiu. Começou a produzir em 2014. Seus primeiros trabalhos foram em pinturas e esculturas. Ao longo dos anos seguintes, fez de tudo um pouco: Gravura (pelo coletivo GRAVOSs), modelagem em argila, livro de artista, instalação (O peso dos afetos – 2019); Videoarte (Ensaio sobre a permanência e o tempo – 2021); Assistência de criação de adereço (para campanha ao combate à dengue, da prefeitura do recife em 2022); Idealização, organização e colaboração do projeto Além-Mar.
Sobre os co-curadores
Guilherme Moraes é curador, educador e editor da revista-espaço Propágulo, licenciado em artes visuais pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). É pesquisador da curadoria enquanto práxis educativa e do curatorial enquanto metodologia de aprendizado. Foi curador das mostras Desculpas Pelas Quais, na Garrido Galeria, e Disfarce ou Dissimulação, na Galeria Esporo, em 2021. Neste ano, foi curador da mostra A Beleza da Lagoa É Sempre Alguém, na Galeria Janete Costa. É pesquisador pelo Programa de Pós-graduação em Artes Visuais UFPE/UFPB na linha de processos educativos.
Ana Gabriella Aires (1997) é poeta e pesquisadora-educadora. Publica e recita poesias de maneira autônoma desde 2016. Graduou-se em Letras pela Universidade Federal de Pernambuco (2019), onde aprofundou-se nas questões estéticas e políticas do poema. Em 2021 iniciou pesquisa no Programa de Pós-Graduação em Literatura Comparada da Universidade Federal da Integração Latino-Americana, quando vai caminhando às questões dos trânsitos, das errâncias, das translínguas, das transfronteiras, das transculturações. Coidealizou o Selo Além-Mar, que tem por principal desdobramento a Zine ALÉM-MAR, da qual é autora do editoriais e outros textos (poesias). Tem se descoberto curadora e produtora cultural a partir do exercício de tais funções (desde 2019), principalmente em espaços autônomos, que se articulam ao (ou partem do) trabalho feito junto às palavras.
