Mestres do mamulengo compartilharam saberes na VIII Semana do Patrimônio
Encontro realizado no Sobrado do Imperador, em Igarassu, também contou com a apresentação do Mamulengo Riso do Povo, do Mestre Zé de Vina.
Postado em: Cultura popular e artesanato
Costa Neto

Mestre Vitorino, de Igarassu, contou um pouco de sua trajetória ao longo dos 50 anos dedicados a arte do mamulengo.
Por: Roberto Moraes Filho
Promovendo um encontro de gerações em meio à 8ª Semana do Patrimônio, o Sobrado do Imperador, no centro de Igarassu, recebeu na tarde de quinta-feira (20), uma animada roda de conversa com o brincante de mamulengo, Mestre Vitorino. No auge dos seus 92 anos, José Vitorino Freire repassou para crianças, adolescentes e adultos, a sua experiência com a arte de confecção e interpretação dos tradicionais bonecos, com os quais teve o seu primeiro contato aos 8 anos de idade.
“A primeira lembrança da minha infância, que guardo até hoje, foi uma apresentação do Mamulengo de Mané da Luz, o único atuante na cidade de Paudalho e região naquela época. Os bonecos eram manuseados por dois homens e uma mulher. Lembro que depois daquele contato, sempre passei a acompanhar as apresentações do espetáculo nas feiras, ruas ou festas de final de ano. Aquilo me impressionava especialmente pela sintonia de um personagem com o outro, quando causavam improvisos durante a apresentação”, recordou o mestre, que possui 50 anos dedicados à tradição, quando passou a residir em Igarassu.
“A grande lição que aprendi foi que não é saber a brincadeira, é não ter preguiça para compor novos personagens e novas histórias. Eu tenho uma grande saudade de quando brincava de mamulengo com os meus irmãos. Brincávamos a noite toda e o enredo envolvia a igreja, o cavalo marinho e o bumba meu boi. O boneco e a brincadeira vem de quando minha mãe era rezadeira. Hoje eu não lembro mais os cânticos que ela cantava, mas não esqueci as experiências de criação e interpretação na minha infância”, completou.
Costa Neto

Crianças, adolescentes e adultos acompanhando os relatos do mestre de mamulengos, no Sobrado do Imperador, em Igarassu.
Durante a roda, que também contou com as presenças do Mestre Zé de Vina, de Glória do Goitá, e do Mestre Tonho, de Pombos, as experiências em espetáculos realizados ao ar livre, como era antigamente, em cima de mesas e não com as conhecidas tendas de atualmente, Mestre Vitorino relatou encenações que fez em feiras de Igarassu, exemplificando mortes, festividades e outras situações relacionadas ao regionalismo que inspira a composição de uma apresentação de mamulengo. “Quem traz a história é o boneco. As situações vividas entre os personagens devem contar especialmente com música e poesia, que geralmente são inspiradas nas vivências de quem domina aquele boneco”, disse o mestre.
E lembrando um pouco das dificuldades iniciais que passou a vivenciar para prosseguir com a tradição pela qual se apaixonou na infância, ele relatou: “Carregava meus mamulengos em duas malas, andando a cavalo. Botava o boneco numa mesa e incorporava aquele personagem criado por mim. Somente bem depois foi que eu adotei o estilo mais teatral, realizado em uma tábua apropriada para a apresentação”.
Com a finalização da realização da roda, os participantes foram contemplados com a apresentação de Wilams, filho do Mestre Vitorino, que interpretou ao som de violão, a composição ‘Homenagem a Vitorino’, falando em poemas e vivências da arte do pai, e definindo em versos o que o mamulengo representa para a sua vida e sua família, conhecida em Igarassu também pela tradição da música.
Encerrando a tarde de atividades no Sobrado do Imperador, o público conferiu a apresentação do Mamulengo Riso do Povo, comandado pelo Mestre Zé de Vina, de 75 anos. Originado na cidade de Glória do Goitá, o grupo possui além de quinze personagens, interpretados por uma equipe de seis integrantes, um espetáculo composto por músicas regionais, ao som de zabumba, sanfona, triângulo e chocalho. “O espetáculo do meu mamulengo acontece segue uma única forma, mas adotamos diversos improvisos no momento que ele acontece”, disse o Mestre Zé de Vina, que iniciou a formação do grupo no ano de 1952.

