Mulheres repentistas do Sertão participam da Flip
Postado em: Funcultura | Literatura
Com incentivo do Governo de Pernambuco, por meio dos recursos do Funcultura, um grupo formado por oito jovens repentistas, de cinco cidades do Sertão do Pajeú, em Pernambuco, embarcam nesta quarta-feira (23) rumo à 20ª edição da Festa Literária Internacional de Paraty (Flip), que acontece no Rio de Janeiro. Essa é a primeira vez que o projeto “Mulheres de Repente”, composto pelas glosadora e idealizadora do grupo, Luna Vitrolira; juntamente com as poetisas Elenilda Amaral, 35, (Afogados da Ingazeira); Francisca Araújo, 27,(Iguaracy); Milene Augusto, 20, (Solidão); e Thaynnara Queiróz, 30, (Afogados da Ingazeira); e Dayane Rocha, 26 (Brejinho de Tabira); participam do evento. Também reforçam o time, as produtoras do projeto, da cidade do Recife, Taciana Enes, 41, e Vick Vitoria, 61.
Durante os dias 25, 26 e 27, as jovens realizam apresentação da Mesa de Glosas – uma das importantes modalidades poéticas da tradição do improviso que representa a riqueza e a diversidade do sistema literário popular nordestino, presente, principalmente, na identidade cultural das cidades da região do Sertão do Pajeú, interior de Pernambuco. A proposta da atividade é transmitir, para os participantes da FLIP, uma vivência imersiva e prática da cultura literária pernambucana, como construção de poesias e versos a partir do olhar para fatos, experiências e vivências do dia a dia das mulheres. O espaço também tem como objetivo contribuir para o incentivo ao intercâmbio cultural entre artistas do Nordeste e do Sul do Brasil.
“Quando pensamos no universo da literatura popular e, mais especificamente o Repente, durante muito tempo, foi reproduzido o discurso de que não existiam mulheres improvisadoras, cantadoras e glosadoras. Porém, o que se sabe é que, nós, nordestinas, sempre lutamos por sair dessa invisibilidade. Isso foi um comportamento criado por homens machistas, que violavam o poder que nós, mulheres, sempre tivemos de ser poetas e glosadoras. Agora, chegou a hora de mostrar nossa liderança, força e arte, para além das questões de gênero. É preciso reconhecer o talento de todas nós, mulheres de raça, talento, coragem e donas de si, sobretudo de nossas palavras que ecoam o mundo. Queremos ser porta-voz do amor, do carinho, da solidariedade e, principalmente, da justiça social”, diz Luna Vitrolira.
Além da Mesa de Glosas, as integrantes do projeto “Mulheres de Repente” comandam o workshop: “Glosa: nuances da oralidade e da escrita”, cuja ideia é repassar conhecimentos sobre os processos criativos e cognitivos para criação de versos, como técnica, métrica, escrita, memorização, agilidade, repertório, e questões de gênero que trazem para luz debates importantes sobre as mudanças na modalidade a partir do protagonismo feminino. Ao todo, serão quatro horas-aulas, com direito a certificado de participação.
“Dada a importância desse gênero para literatura oral, identidade poética pernambucana e, também, para a cena artística nacional, o projeto se apresenta como uma prática de resistência, manutenção e valorização da memória cultural e poética do sertão do Pajeú. Queremos ser cada vez mais reconhecidas e valorizadas no País”, finaliza Vitrolira.
HISTÓRICO - O projeto “Mulheres de Repente” começou em 2018. De lá para cá, já percorreu eventos espalhados por todo o Brasil, como a Balada Literária (São Paulo), realizada no Centro Cultura Grajaú (SP); Festipoa Literária (Rio Grande do Sul), Festival de Inverno de Garanhuns (Pernambuco); Museu de Arte moderna de Salvador (Bahia); Pré – Balada Literária em Teresina (Piauí); Festa Literária das Periferias – FLUP (Rio de Janeiro), entre outros espaços e festivais locais e regionais.
Ainda dentro da agenda de trabalhos, com vistas para 2023, o projeto “Mulheres de Repente”, vai lançar um documentário. A obra, inédita, é pautada em um roteiro que chama atenção para o papel das mulheres dentro da cultura popular na construção de repentes e poesias.
