País das Culturas Populares acolhe artistas pouco antes vistos
Trans Coco, Orquestra Iorubás de Pernambuco, Ciranda Sant'Anna e Coco Resistência ocupam espaço merecido no Festival Pernambuco Meu País
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No Festival Pernambuco Meu País, o polo País das Culturas Populares tem se revelado uma ótima oportunidade tanto para artistas representantes de um leque mais amplo de diversidade ocuparem espaços a que costumam ter pouco acesso, e de forma descentralizada, quanto para o público conhecer essas pessoas e esses grupos que vão além dos rótulos tradicionais. Neste domingo (28), em Gravatá (Agreste), esse aspecto esteve bem representado pelo Trans Coco, primeiro grupo de coco LGBTQIA+ do Estado (leia-se: do mundo); e pela Orquestra Iorubás de Pernambuco, de música espiritual que remete à ancestralidade de matriz africana. A família da Ciranda Sant’Anna e o ativismo do Coco Resistência completaram a programação da tarde no palco-caminhão.
Formado por pessoas trans, o sexteto de voz e percussão Trans Coco, do município de Igarassu (Litoral Norte), orgulha-se de ser o primeiro grupo LGBTQIA+ de coco de roda de Pernambuco. A música, claro, é importante, mas na apresentação do conjunto nota-se que prevalece a preocupação com a luta pela conquista de espaço, pela dignidade humana e pelo respeito. Requisitos básicos, porém, ainda em falta para muitas pessoas.
Comandado pela cantora Raphaella Ribeiro, que também se autointitula a primeira mulher trans vocalista de um brinquedo popular, o Trans Coco aborda em suas músicas o combate às práticas discriminatórias e preconceituosas e aos crimes. “O palco é lugar de todos os corpos. Para nós é muito importante estarmos aqui”, afirmou Raphaella. A plateia, a maior dos três dias eventos nesse polo em Gravatá, acolheu o Trans Coco com muito afeto.
Outro belo exemplo No País das Culturas Populares neste domingo foi o da Orquestra Iorubás de Pernambuco. Numa analogia, o grupo de vozes, percussão e metais seria o equivalente a um conjunto gospel, ou de música sacra, porém, de música espiritual que remete à ancestralidade de matriz africana. É integrado por pessoas de terreiro que fazem expressões de axé por meio de cantigas de louvação. Como se isso não bastasse, traz em sua formação um set amplo e vigoroso de metais que acrescenta uma sonoridade única e robusta à tradição do gênero. Um grata surpresa.
E por falar em tradição, a Ciranda Sant’Anna trouxe para o caminhão-palco um belo espetáculo de música e dramatização. O grupo, da família homônima do bairro do Vasco da Gama (Zona Norte do Recife), dedicou seus primeiros minutos a uma performance de meditação e oração, que foi seguida pela abertura de uma faixa com os dizeres: “Diga não intolerância religiosa”. Na sequência, um balé popular com quatro integrantes foi para o meio da plateia instigar ainda mais a formação das tradicionais rodas de ciranda. As canções evocaram um show de conscientização (como por exemplo pela preservação da Amazônia) e de reverência aos orixás como muito respeito e muita dignidade.
No cair da noite, no mesmo tom ativista e militante pela cultura popular e pelos direitos sociais, o Coco da Resistência, formado por músicos de várias localidades da Região Metropolitana do Recife (Amaro Branco/Olinda, Brasília Teimosa, Janga/Paulista, Santo Amaro), também deixou seu recado em um repertório de coco de roda e samba interpretado com vozes, percussão e cordas (contrabaixo elétrico e cavaquinho). Momentos de grande riqueza cultural pernambucana.