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País das Culturas Populares tem se destacado por crossover, salvaguarda e a força do samba-reggae

Bloco Obirin, Ciranda das Flores Amunam, do Coco de Umbigada, Fagner Chagas e Voz Nagô arrasaram no palco-caminhão neste sábado (27)

Em sua primeira edição, o Festival Pernambuco Meu País tem mostrado, como poucos eventos, a tradição e a força que tem o samba-reggae no Estado, sobretudo o produzido na Zona Norte da capital. Uma das inúmeras gratas surpresas da programação, essa tem acontecido à tarde, no polo País das Culturas Populares, sobre o já famoso palco-caminhão que percorre as oito cidades programadas para este ano. Neste sábado (27), em Gravatá (Agreste), foi a vez do Bloco Obirin, do Morro da Conceição, ditar o ritmo. A festa continuou até o início da noite com a Ciranda das Flores Amunam (Nazaré da Mata, Zona da Mata Norte), do Coco de Umbigada (Olinda), do forró de Fagner Chagas (Gravatá) e do coral afro Voz Nagô (Recife).

Céu azul, temperatura de 25 °C. Foi nesse clima que o primeiro grupo de samba-reggae de mulheres do Recife subiu ao palco, logo depois da hora do almoço, para mostrar seus repertório composto por temas autorais e standards nacionais, como é comum a grupos do gênero.

Em seguida foi a vez das Flores Amunam, formado por integrantes da Associação das Mulheres de Nazaré Mata, mostrar suas canções que enaltecem o papel da mulher e seu empoderamento. Com vozes, percussão e metais, interpretou composições de Xico Bezerra (Se Tu Quiser), Vital Farias (Ai que Saudade d’Ocê), Alceu Valença (Anunciação) e Dominguinhos & Anastácia (Eu Só Quero um Xodó) em ritmo de ciranda.

E esse tem sido outro aspecto curioso na grade de programação de festival: evidenciar o crossover entre os vários gêneros e ritmos, mostrando como artistas bebem das mais diferentes fontes, seja para divertir e/ou se aproximar de gerações e gostos diversos, derrubando muros e (pré)conceitos.

Se a tarde estava quente, com a apresentação do Coco de Umbigada virou brincadeira. Referência em coco de roda no Estado (leia-se: no mundo), o grupo surgido nas cercanias de Olinda e Paulista (Região Metropolitana do Recife) trouxe para o Agreste a força da tradição centenária do gênero sob o comando de Mãe Beth de Oxum, Patrimônio Vivo de Pernambuco.

E como não poderia deixar de ser, Gravatá foi muito bem representada por um de seus filhos, o forrozeiro Fagner Chagas, que fez o País das Culturas Populares pegar fogo com uma set list bem arrumada misturando forrós tradicionais com estilizados e xotes. No cardápio, sucessos consagrados de Zé Ramalho (frevo, Mastruz com Leite (baião de Dois, de Luiz Fidélio & Jaboty; e Meio-Dia, de Fidélio com Danilo Lopes), Flávio José (Meu Cenário, de Petrúcio Amorim) e Luiz Gonzaga (Numa Casa de Reboco (parceria com Zé Marolino).

Era tudo o que o público queria para dançar agarradinho. Houve até tempo para canções do xará mais famoso, Raimundo Fagner (Espumas ao Vento, de Accioly Neto; Revelação, de Clodô & Clésio; Pedras que Cantam, de Dominguinhos & Fausto Nilo). Sem dúvida uma referência inusitada.

Já à noite, o caminhão-palco encerrou este sábado com chave de ouro: com o septeto de vozes femininas Voz Nagô atuando como headliner. O grupo, acompanhado de uma banda de percussão e cordas, é uma das criações do saudoso músico Naná Vasconcelos, um dos homenageados desta edição do festival (ao lado do artista visual Abelardo da Hora), e surgiu em 2009 para compor a abertura do Carnaval do Recife – o que faz até hoje.

Mas em se tratando de sete mulheres negras ativistas culturais, o Voz Nagô ganhou vida própria e vem mostrando um talento incrível. Neste sábado, começou prestando uma homenagem ao padrinho, com a canção Juvenal Nagô, de Manu Nascimento, ex-integrante do grupo. Depois fez um set apenas com músicas de Naná rearranjadas especialmente para o septeto. E, claro, não faltaram os supracitados crossovers, em versões de sucesso de Alceu Valença (Anunciação; La Belle de Jour) e Reginaldo Rossi (Recife Minha Cidade).

E como se tudo isso fosse pouco, pode-se afirmar que o País das Culturas Populares tem se mostrado uma síntese das manifestações que são talvez as principais responsáveis pela salvaguarda da cultura popular, sobretudo a de origem ancestral, das matrizes africana e dos povos originários.

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