Patrimônio Vivo da cultura e do frevo pernambucano, J. Michiles celebra 80 anos
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Felipe Souto Maior/Secult-PE/Fundarpe

A festa dos 80 anos foi realizada em sua casa, localizada em Campo Grande
Patrimônio Vivo do Estado de Pernambuco, o cantor e compositor Jota Michiles completou 80 anos neste último sábado (4) e, para comemorar a nova idade, reuniu toda sua família e vários amigos em sua casa, que fica no bairro de Campo Grande (Recife).
O dia começou com uma reunião familiar para assistir um especial que foi exibido pela TV Globo em homenagem ao artista, que não resistiu a emoção e foi às lágrimas. “Viver 80 anos já é um sonho, o que acontecer daqui para frente irei receber de braços abertos”, disse Michilles.
Felipe Souto Maior/Secult-PE/Fundarpe

Amigos e familiares se reuniram em torno dos 80 anos do grande compositor pernambucano
Michiles recebeu muitas ligações durante o dia, uma delas foi do amigo Geraldo Azevedo, que será uma dos homenageados do Carnaval do Recife. Durante os parabéns, os familiares entoaram canções marcantes do seu repertório, como: “Bom demais”, “Diabo louro”, “Adoro celulite”, entre outros.
BREVE PERFIL – “O difícil é sempre fazer o fácil, criar aquela música que as pessoas escutam pela primeira vez e saem por aí cantando”. Foi com essa filosofia estético-criativa que José Michiles da Silva, o Jota Michiles, construiu um repertório musical que está gravado no imaginário coletivo de quem ama o carnaval. As obras desse recifense, nascido em 4 de fevereiro de 1943, embalam a trilha sonora da alegria de muitas gerações.São mais de 150 músicas registradas na União Brasileira de Compositores (UBC).
“É muito gratificante ver como uma composição musical surgida na nossa intimidade, nossa solidão, de repente, se populariza na boca do povo, nas ruas, becos, ladeiras, nos bares, nas orquestras e nos clubes. É um prenúncio de muitos e muitos carnavais, assim como acontece com ‘Recife manhã de Sol’, ‘Recife nagô’, ‘Bom demais’, ‘Me segura senão eu caio’, ‘Diabo louro’, ‘Vampira’, ‘Espelho doido’, e outros mais”, destaca Michiles, citando alguns dos seus sons carnavalescos mais populares.
“Jota Michiles é um compositor inacreditável, que trabalha com as nossas raízes e matrizes. Ele é frevo de bloco, frevo de rua, é ciranda, ele faz todos os gêneros da nossa cultura pernambucana”, exalta Alceu Valença. Foi com a ajuda do cantor e amigo que a carreira de Michiles ganhou um grande impulso.
Lançado em 1986, na voz do filho de São Bento do Una, o frevo “Bom demais” estourou e passou a fazer parte do repertório de centenas de orquestras, bandas e artistas solo. “Eu tenho mais que tá nessa/ Fazendo mesura na ponta do pé/ Quando o frevo começa/ Ninguém me segura/ Vem ver como é”, diz trecho da canção.
Depois desse impulso, ninguém mais segurou Jota Michiles. No ano seguinte, o frevo que faz referência a um dos pontos culturais e de encontros de Olinda, também gravado por Alceu, novamente colocou a criação do compositor na boca do povo e na ponta do pé de passistas profissionais ou eventuais.
Com “Me segura senão eu caio”, Michiles transformou em verso, melodia, harmonia e ritmo o roteiro afetivo-carnavalesco de quem chega na cidade do Homem da Meia-Noite e de outros bonecos gigantes, para curtir os dias de folia. A sequência de sucessos prosseguiu com obras gravadas pelo sempre parceiro Alceu Valença e por outros grandes nomes do cenário local e nacional.
MOMENTOS MARCANTES DA CARREIRA - Homenageado do Carnaval do Recife 2018, junto com a cantora Nena Queiroga, Jota Michiles começou a alimentar a paixão pela festa ainda na infância. Naquele tempo, ele assistia encantado às passagens dos blocos e troças em bairros recifenses onde morou, como Campo Grande, Arruda e Água Fria.
A estreia como compositor, entretanto, não foi na seara carnavalesca. O acontecimento marcou-O positivamente para sempre. “Nesses mais de 50 anos de atividade musical, tive meu primeiro momento de emoção ao gravar uma canção intitulada ‘Não quero que chores’, com o grupo vocal The Golden Boys, em julho de 1964”, rememora.
Outro momento importante foi quando conquistou o primeiro lugar no concurso “Uma canção para o Recife”, instituído pela Prefeitura da Cidade, na gestão de Augusto Lucena, e pela Rádio Jornal do Commercio. A marcha “Recife, manhã de Sol” foi a vencedora, concorrendo com os mais consagrados compositores daquele momento, a exemplo de Capiba, Nelson Ferreira, Luiz Bandeira, Clóvis Pereira e Zé Menezes, e entre mais de 200 músicas inscritas.
“Recife, manhã de Sol” foi lançada em compacto pela lendária gravadora e fábrica de discos Rozenblit. Posteriormente ganhou diversas versões, incluindo a do cantor Orlando Dias – tio de Michiles – e Maria Bethânia, que a gravou para o disco “Asas do frevo”.
BIOGRAFIA - Em fevereiro de 2013, a Cepe Editora lançou a biografia “Jota Michiles – Recife, Manhã de Sol”, escrita pelo jornalista Carlos Eduardo Amaral. A obra apresenta a história do filho de seu Romeu e dona Maria José, que chegou a trabalhar como professor de desenho industrial e história até ser reconhecido como um dos mais importantes compositores da música pernambucana.