Performance da Cia Devir promove diálogos entre o circo e o frevo, em cena
Ação gratuita acontece no sábado (16) e é resultado de um vasto processo de pesquisa dos circenses João Lucas Cavalcanti e Vitor Lima, em colaboração com a passista Inaê Silva
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Will Oliveira/Divulgação

O projeto promoveu uma investigação das relações cênicas e técnicas entre o frevo e as acrobacias circenses
O circo contemporâneo é um campo fértil, aberto à hibridização de linguagens. É a partir dessa força criativa das experimentações que a Cia Devir, formada pelos pernambucanos João Lucas Cavalcanti e Vitor Lima, tem desenvolvido seus projetos em circo, dialogando com o teatro, a música e a dança. A performance mais recente da dupla mergulha nas possibilidades do encontro entre a arte circense e o frevo, buscando aproximações e particularidades nos movimentos, e enfatizando a resistência cultural dessas expressões culturais. Em parceria com a passista Inaê Silva, a Cia Devir promove uma apresentação gratuita da performance, que não tem título, no evento cultural Melodia de Budega, na Encruzilhada, neste sábado (16), às 19h30.
O desejo de João Lucas e Vitor de se debruçar sobre o frevo nasceu de experiências coletivas, enquanto pernambucanos e apaixonados por Carnaval, e também do interesse pelo corpo proposto pela dança, com seus movimentos vibrantes e sua ligação com a rua. Dessa provocação nasceu “Circo em Fervo”, projeto de pesquisa que conta com incentivo do Funcultura, no qual a dupla se lançou em um processo de pesquisa que envolveu residência artística, aulas na Escola de Frevo Maestro Fernando Borges, trocas com profissionais e estudiosos do campo, entre outras ações.
Na pesquisa, a dupla realizou ainda residência com os passistas e pesquisadores Jefferson Figueiredo e Otávio Bastos; visita guiada ao Paço do Frevo, onde puderam conversar com o historiador do museu, Luiz Vinícius Maciel, além de ter ministrado a oficina “Descobrindo o mundo do circo”, na Escola de Frevo. Outro eixo importante do projeto foi a parceria com Inaê Silva, passista que é referência nacional, com quem a Cia Devir desenvolveu uma performance como resultado da pesquisa.
“Na Escola de Frevo, tivemos a experiência, enquanto alunos, de aprender os passos da dança, a partir dos ensinamentos do mestre Nascimento do Passo, que permeia a metodologia dos professores. Também pudemos perceber as mudanças da dança, sua transformação em balé popular, ocupando não só as ruas, mas também os palcos. Tivemos contato com a tradição e o contemporâneo. Foram muitas referências para a gente aplicar na parte prática”, reflete João Lucas.
O projeto promoveu uma investigação das relações cênicas e técnicas entre o frevo e as acrobacias circenses. Os artistas buscaram inspiração na dança tipicamente pernambucana para agregá-la ao circo, sem estereótipos ou tentativas de sobrepor uma à outra. Dentre as semelhanças físicas do circo e da dança, os artistas enfatizam os movimentos de impulso, a relação com a terra e o ar, além dos movimentos acrobáticos em si. Todo o processo de criação foi acompanhado por Inaê Silva, que também está em cena na performance.
“O projeto tem diversas camadas, como uma busca de uma corporeidade. No circo contemporâneo, muitas vezes se trabalha com a dança contemporânea como base, que vem de uma realidade muito eurocentrada, ainda que tenha se expandido para o mundo. Queríamos trazer para o nosso circo a influência do nosso cotidiano, da nossa realidade. Daí o frevo. Para mim, também houve uma questão afetiva: moro no bairro da Escola de Frevo, a Encruzilhada, comecei a fazer frevo quando era criança, com Inaê, mas tive que parar. Essa pesquisa acabou sendo um resgate, na perspectiva pessoal, que me emocionou muito”, reforça Vitor.
Desde o início de 2024, a Cia Devir e Inaê têm compartilhado o resultado do projeto com o público, apresentando a performance no Instituto do Autismo, no Centro de Artes e Comunicação da UFPE e na concentração do bloco Escuta Levino, na abertura do Carnaval do Recife. A performance conta ainda com uma característica marcante do frevo e também presente no circo: a abertura para o inesperado, a interação com o público e a paisagem da cidade.
VIDEOCIRCO - Além das ruas, a performance de circo e frevo também ganhará as telas. A Cia Devir e Inaê Silva estrelam um videocirco baseado no projeto, que será apresentado no dia 14 de março, às 11h30, na Escola de Frevo Maestro Fernando Borges, seguido de roda de diálogo. Tanto a exibição quanto a conversa contarão com tradução em Libras.
Tomando como moldes as experimentações com videodança, a obra captura a efervescência da mistura proposta pela dupla e pela passista, tendo como cenário a cidade do Recife.
Serviço:
Exibição do videocirco da Cia Devir
Data e horário: 14 de março, às 11h30
Local: Escola de Frevo Maestro Fernando Borges (Rua Castro Alves, 440, Encruzilhada)
Classificação indicativa: Livre
Informações: companhiadevir@gmail.com