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Silvério faz a cabeça ao som de Jackson

Ivanildo Machado

por Leonardo Vila Nova

O bom filho à casa torna!”. No caso do cantor Silvério Pessoa, significa tornar aos cocos, rojões, forrós, sambas e um sem fim de referências musicais que estão incrustradas no seu DNA… significa tornar ao seu ouvido de menino quando escutou, pela primeira vez, a voz de Jackson de Pandeiro na Rádio Planalto, de Carpina. Este retorno de Silvério à gênese de suas primeiras percepções e compreensões artísticas está presente no seu oitavo álbum, Cabeça feita –Silvério Pessoa canta Jackson do Pandeiro, onde revisita a obra do “Rei do Ritmo”, uma das referências fundamentais na construção da sua persona artística. O disco é um sonho acalentado há cerca de dois anos e chega agora, personificando o paraibano de Alagoa Grande na voz de um de seus mais fieis admiradores.

Cabeça feita traz 15 faixas – três delas são pot-pourris, o que desdobra o disco em 22 canções –, num apanhado generoso que prima por enfatizar a versatilidade rítmica de Jackson, um artista que não se restringiu a apenas uma vertente musical. Lá estão os forrós, cocos, xotes, sambas e rojões. O sincopado e o balanço característico também. No entanto, o repertório selecionado passa ao largo do lugar comum que é, geralmente, explorado na obra do paraibano. “Procurei me afastar, ao máximo, do óbvio que pode sugerir a obra de Jackson. O critério principal que norteou a escolha das músicas foi o seu lirismo e uma busca por diversificar ao máximo a questão rítmica de sua obra”. Canções “lado B” de Jackson ganham espaço no trabalho, como Penerou Gavião, Secretária do Diabo, Xote de Copacabana, Quadro negro, entre outras.

Ouça A ordem é samba, uma das faixas d o novo disco de Silvério Pessoa

Em tempos de exaltação da pós-modernidade, hibridismos, fusões, onde as referências musicais tradicionais são recombinadas e reprocessadas a partir de linguagens modernas e recursos tecnológicos, Silvério ousou ir na contramão. Não usou uma guitarra sequer, nem teclados ou samplers. Um disco cru, arregimentado à moda do que se fazia à época. Ele perseguiu, com afinco, a sonoridade mais próxima da que Jackson explorou, à época. “É um disco que tem toda uma reminiscência à estrutura básica que Jackson trabalhava em seus discos. Eu quis tentar reproduzir a mesma estrutura melódica e timbrística das décadas de 1950 e 1960”, explica Silvério. “Nada de guitarras, teclados ou samplers. E sim, uma rusticidade básica como matriz”, complementa.

Para criar essa atmosfera, Silvério recorreu a uma configuração típica do corpo musical que participou das gravações e que o acompanhará em palco. Estão com Silvério em Cabeça feita Raminho (zabumba), Luiz Carlos (percussões), Renato Bandeira (viola de 10 cordas e violão), Dudu do Acordeom (sanfona), Israel Silva (baixo), Pepê (violão de 7 cordas, cavaquinho e banjo) e Vanessa Oliveira (coro). Esta formação remete à estrutura básica dos chamados “regionais”, conjuntos musicais que acompanhavam os cantores das décadas de 1950 e 60. O “Regional da Borborema” era quem acompanhava Jackson. Já a única participação no disco está na faixa Coco Social, com Maestro Spok no sax.

No entanto, Silvério ressalta que o disco não se baseia em estereótipos recorrentemente associados a essa sonoridade chamada “regional”. “Não é um disco caricaturado!”, avisa, contando que procurou fugir dos clichês que rondam figuras como Jackson, Luiz Gonzaga e outros nomes da música nordestina. A começar pela capa, que não faz referência ao universo forrozeiro ao qual Jackson é comumente associado. “Até porque Jackson não fez apenas forrós”, explica. As fotos que encartam o disco trazem Silvério trajado a rigor, em ruas do Bairro Recife. “A capa não sugere o som que tem o disco”, assevera.

Firme e seguro no contrafluxo que segue, Silvério aposta na genialidade de Jackson e na diversidade de sua obra como um verdadeiro manancial a ser explorado por aqueles que ainda o desconhecem. “Eu vejo Jackson no mesmo patamar de Frank Zappa, Jimi Hendrix, Miles Davis. Uma pluralidade musical e uma genialidade impressionantes. A garotada que quer descobrir, no passado, uma nova sonoridade, não tem nada mais oportuno do que ouvir Jackson do Pandeiro”, endossa.

Lançamento
A partir da próxima segunda (20), Cabeça feita – Silvério Pessoa canta Jackson do Pandeiro já estará nas lojas. O primeiro contato do público com o álbum será na Terça do Vinil, que acontece na próxima terça (17). Lá, o disco será rodado na íntegra, e Silvério irá discotecar junto ao DJ 440 e Bruno Lins (Fim de Feira). O acesso é gratuito.

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