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Site reúne memórias, achados e ruínas do mar de Olinda

Contemplado pelos recursos da Lei Aldir Blanc em Pernambuco, está no ar o site do projeto “Ruinofilia: Arqueologia Contemporânea na Costa de Olinda”, que reúne três ensaios, cada um com uma galeria fotográfica virtual, sobre as memórias, as ruínas e os achados espalhados pelas praias olindenses. Para conferir, acesse: barcoverdenavega.wixsite.com/ruinasdeolinda1.

Para a pesquisadora e historiadora da arte Beatriz Arcoverde, uma das idealizadoras do projeto, ruínas são também locais para uma nova exploração e produção de significados. Ruínas são sobre restos e lembretes e por isso nos são tão fascinantes. “Elas nos fazem pensar no passado que poderia ter sido e no futuro que não teve lugar, nos atormentando com sonhos utópicos de escapar da irreversibilidade do tempo”, diz, relembrando a teórica cultural russo-americana Svetlana Boym.

O antropólogo e fotógrafo Daniel Pereira, responsável pelas galerias publicadas no site “Ruinofilia: Arqueologia Contemporânea na Costa de Olinda”, destaca, além das fotos das ruínas em si, imagens da Olinda de antigamente, hoje reunidas no Arquivo Público, no Centro Histórico da cidade. Resgatando os pensamentos do francês Roland Barthes, Daniel frisa que as imagens fotográficas, em sua permanente função de eternizar momentos, são também instrumentos de “ressuscitar mortos”. O conjunto das imagens do projeto remete a isso também, ao processo de deixar vir à tona o que já foi.

É do pesquisador Ted Greiner, ferrenho colecionador de vidros do mar, a inspiração para criação do site. Nascido nos Estados Unidos e hoje morador de Olinda, ele dedica parte do seu tempo a coletar esses objetos nas praias da cidade e possui uma coleção de mais de milhares de “pecinhas”, são mais de 300 quilos de vidros do mar.

O mar e o tempo destroem muita coisa, sejam lixos ou resquícios do que foi atirado à água por navios. Mas não destrói o vidro – nem o plástico, infelizmente. Ao longo do tempo, esses pedaços mudam de forma, textura e muitas vezes até de cor. Processos semelhantes ocorrem com artigos de cerâmica, porcelana, oleira, azulejos e outros materiais de construção, de estilos bastante diferentes, sugerindo que vieram de casas destruídas pela erosão em diferentes épocas históricas.

“Cada peça dessa tem uma história, uma narrativa por trás”, afirma Ted. Para ele, o vidro do mar mais fascinante é o vidro negro, encontrado em Olinda. Pelo menos parece negro na praia e pode até confundir-se com uma pedra. Mas, segurando-o contra o sol, vemos que, na realidade, é uma cor verde-azeitona escura normalmente. É que garrafas de cerveja e licor eram normalmente guardadas em vidros dessa cor nos anos 1700 e 1800. Mas algumas foram guardadas em garrafas especiais para uma utilização especial, um vidro muito espesso feito para garrafas que deveriam ser mantidas a bordo de um navio durante muito tempo, para que o balançar do barco não o partisse.

“Muito desse material que encontramos pode, de fato, ser o famoso ‘vidro pirata’”, acredita Ted. O vidro negro parece ser mais comum nas praias de Olinda do que na maioria das regiões do mundo que ele já percorreu, inspirando pensamentos de possibilidades imaginárias que vão desde os “Piratas das Caribe” até contrabandistas de escravos que operavam em Pernambuco nos anos de 1800. Ou os holandeses fortemente envolvidos no comércio enquanto faziam de Olinda a sua capital ocupada.

AUTORES

Beatriz Arcoverde: tem mestrado em sociologia pela Universidade da British Columbia, CA, e história da arte pela Universidade de Lindenwood, EUA. Vive em Olinda. É produtora cultural de projetos e artistas locais e curadora da galeria da Casa Balea. Atualmente, realiza uma série de exposições de artistas que curou e trabalha em um curta de animação em rotoscopia que escreveu. Nos últimos anos, gerenciou programações em ocupações, publicou e produziu festivais e projetos artísticos de diversas linguagens.

Ted Greiner: trabalhou como especialista em nutrição em vários países, mas principalmente para Sida, Governo da Suécia, trabalhando também como professor de saúde infantil internacional na Universidade de Uppsala. Durante sua longa carreira, trabalhou como consultor de assistência ao desenvolvimento e em agências da ONU em muitos países em desenvolvimento. Foi professor de nutrição durante sete anos na Coreia do Sul. Publicou mais de 200 artigos em revistas científicas ou livros, principalmente sobre saúde pública, alimentação infantil e abordagens baseadas em alimentos para combater as deficiências de micronutrientes.

Daniel Pereira: é cientista social, educador, fotógrafo e mestrando em antropologia. Pesquisa temas ligados à antropologia visual, arquivos fotográficos, etnográficos e pesquisa com memória e representação. Como arte educador, tem experiência em serviços educativos de museus e galerias de arte.

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